A timidez costuma ser uma prisão. Enquanto uma infinidade acontece dentro em nós, apenas uma pequena parte se revela.
Nós projetamos, criamos e planejamos, mas quando tentamos falar, no intervalo entre nosso pensamento e a boca, tudo se perde.
Perdemos a espontaneidade pelo medo das reações. O medo de sermos negados, embora sejamos os primeiros a nos negar.
É difícil saber os antecedentes de cada timidez, se é natural ou provocada por algum evento que ocorreu na história pessoal, mas um fato concreto é que há saídas, mesmo quando o corpo tenta bloqueá-las. E se somos livres no interior, nada o expressa melhor que as artes.
A arte é inclusiva! Ela aproxima as diferenças e quebra com as expectativas. Através dela podemos ser autênticos, lançar para fora tudo aquilo que é reprimido. Virar-nos do avesso. Um olhar único sobre o mundo. E aí entramos nós: os tímidos.
Como números cabalistas: são 7 artes, como as 7 cores do arco íris, as 7 notas musicais….7 oportunidades de manifestar tudo aquilo que somos. Só precisamos saber em qual caminho nos encontraremos melhor.
Duas das artes estão na música: dançar ou compor/tocar. A primeira pode ser difícil para alguns, ainda que a timidez se exprima muito no corpo e permitir soltá-lo é uma forma rápida de desinibição. O corpo que se entrega a um ritmo, deixa a mente livre para se entregar também. Se permitir, apenas sentir o ritmo, tocar e se deixar tocar (se for à dois), esvaziar os pensamentos e entender que na vida tudo flui, tudo é movimento, basta entregar-se a ele. Sem expectativas, sem pensamento outro que não seja o que escuta. Mas se dançar é radical demais: toquemos! Aprenda um instrumento! Use o talento dos tímidos a seu favor: ouvir! Se você não consegue falar, deixe que o instrumento fale por você! Se a música é um recurso que auxilia autistas, que vivem presos em seu próprio mundo involuntariamente , ajudará quem vive preso no seu, voluntariamente.
Se não se identifica com essas duas, vamos às próximas: pintura, escultura e fotografia. Três vertentes similares, apesar de expressões diferentes.
Retratar um momento ou um detalhe é usar o que os tímidos tem de melhor a seu favor: a atenção aos detalhes. E o que isso pode mudar ou ajudar na timidez?
A permissão que os outros vejam o que não consegue dizer a eles e sem palavras. Além de lhe conectar e abrir um mundo de interação com outras pessoas, especialmente em um momento que todos querem “retratar” tudo. Há redes sociais próprias para isso!
Seguindo as possibilidades, há a literatura! Escrever é a forma mais direta de falar o que sente ou pensa! Um falar que permite revisões, que permite encontrar roupagens “confortáveis”, seja diretamente como crônicas (textos em primeira pessoa como um diário de situações cotidianas) ou indiretamente como como as poesias (usando metáforas que disfarcem o que não consegue dizer com clareza).
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Escrever em um mundo que vive teclando pode ser um bom respiro para quem não consegue falar. O primeiro grande passo para se comunicar abertamente. Se o tímido teme o diálogo por ser “incontrolável”, escrever lhe permitirá esse falso “controle”, que pacífica e mais do que isso, protegido em um papel ou uma tela de computador.
Para o fim, a arte de todas as artes e talvez a mais difícil delas, por abrigar todas as outras: o teatro. De todas é a que mais desafiará o tímido. Tirará da zona de conforto e o instigará a deixar que um personagem sobreponha esse papel que criamos e que interpretamos a cada dia: a timidez! Trabalhará o corpo, a exposição, o olhar..
Uma arte pode levar a outra. Comecemos pelo que é possível a cada um e se não gostar, não há nenhum problema em recomeçar e tentar novamente.
Porque a vida recomeça a cada dia. Cada dia é uma folha em branco esperando que escrevamos, pintemos, esculpamos ou atuemos. Não importa o que escolha fazer, mas faça!
Pois só não há mudanças enquanto estamos parados. E enquanto se dedicar a aprender, melhorar e se aprimorar, sua arte, inicialmente confusa, achará o seu estilo e lugar!
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O seu jeito de dizer e se manifestar! Uma vez exposta será como um casulo apertado e escuro que se rompe e deixa abrir as asas multicoloridas da liberdade.
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