“De homem a homem verdadeiro, o caminho passa pelo homem louco.” – Michel Foucault.
Para entendermos o significado dessa frase e o que ela representa, em essência, para mim, é necessário primeiro conceituarmos “homem verdadeiro” e “homem”. No entanto, a importância real desse aprendizado está ao final, na noção de “homem louco”.
O que seria, então, um “homem verdadeiro”? Entendendo para todos os efeitos a palavra “homem” como humano (ou quase, como veremos), sem distinção de gênero, “homem verdadeiro” é ser um ser humano, não biologicamente falando, mas subjetivamente. Ser humano é ser virtuoso, ser moral, respeitoso e amoroso com o próximo. Dessa forma, podemos concluir que estamos todos trilhando o caminho da humanidade, de modo que podemos nos classificar como “quase humanos”.
Por outro lado, o “homem” seria aquele envolvido, aprisionado, na realidade material. O homem ordinário é aquele que não só sofre grande influência do maya filosófico, mas também se entrega a ele, julgando real o irreal, tendo como princípio e fim apenas o universo objetivo.
Assim, ignorando a subjetividade e a necessidade de crescer e buscar sua humanidade, o “homem” se mantém no mundo sensitivo, supervalorizando o ter, o tocar, o estar, mas tudo isso em detrimento do ser e do próximo, que na verdade possui uma ligação íntima com nossa realidade superior.
Sendo assim, ser “homem”, nos dias de hoje, por causa do conceito atual de normalidade, é ter apego total ao plano físico e material, enquanto que o “homem verdadeiro” é aquele que alcançou uma evolução moral e virtuosa.
Como, então, podemos chegar a ser “homens verdadeiros”? Segundo Foucaut, o caminho para o “homem verdadeiro” é o “homem louco”. Nos termos do dicionário, loucura é um distúrbio, alteração mental caracterizada pelo afastamento mais ou menos prolongado do indivíduo de seus métodos habituais de pensar, sentir e agir.
Ora, afastamento de métodos habituais de pensar, sentir e agir nada mais é do que caminhar em sentido oposto à normalidade. Particularmente me sinto lisonjeado quando, por algumas vezes, em razão de meus pensamentos, sou intitulado por pessoas próximas como “doido”, “louco”… Afinal, vejam só o que as pessoas normais fizeram/fazem com nosso mundo!
Nesse sentido, basta que observemos a situação atual do mundo para perceber que estar mergulhado na materialidade, endeusar coisas, ideias e pessoas em detrimento dos princípios e, portanto, da moral, é algo que pode hoje, infelizmente, ser concebido como normal.
Em razão da situação “normal” atual de nosso planeta, o caminho para a busca da nossa real humanidade não pode ser outro, senão o da loucura. Ser louco, no sentido positivo da palavra, é como nadar contra a corrente, ser contrário aos estímulos prejudiciais e materialistas que recebemos diariamente da sociedade como um todo: pessoas, meios de comunicações, etc.
Quanto mais mergulharmos nas influências materialistas, mais nos afundamos nesse lamaçal de futilidades proporcionado pela sociedade, o que nos leva a alegrias e euforias momentâneas, mas tristeza na solidão. Mergulhados no materialismo, sequer conseguimos conviver conosco, então buscamos a saída perfeita: nunca parar. Estamos sempre comprando, saindo, bebendo, conversando sobre coisas materiais, etc.
Quando paramos, logo chega aquele sentimento de vazio, de depressão, de “o que estou fazendo aqui?”.
Todos nós, como já abordei em outros textos, possuímos um “eu superior” latente, adormecido, que nos momentos de solidão pulsa para que acordemos para a nossa humanidade.
Note que excessos não devem ser levados em conta. Todos os grandes sábios, após decidirem por abandonar a sociedade, voltaram para ela. Qual é a lição? Não devemos nos sentir tristes por trabalhar ou por ter um carro: pelo contrário, aqui a materialidade deve ser conciliada com a subjetividade, é assim que esse plano funciona.
Até porque, de que adiantaria um abandono em massa de postos de trabalho, de tudo? Nossa sociedade sucumbiria e voltaria, aos poucos, à primitividade.
Portanto, o convite do presente texto é diferente: sejamos loucos. Ao invés de desistir de tudo o que temos, trabalho, amigos, etc e buscar uma nova vida, é hora de começar agora a tratar melhor a vida que já possuímos.
Fica alguma deixa da loucura: amar a natureza e tudo o que dela provém, amar e respeitar todas as pessoas, buscar sempre se portar com educação e zelar pelas falas, ações e pensamentos, não ceder a estímulos maldosos dos outros, tratar a imoralidade com moralidade em todos os ambientes que frequentamos, dentre muitos outros princípios que todos conhecemos, mas mantemos adormecidos; se aplicarmos um pequeno pedaço disso, nosso mundo já se tornará melhor, e vamos nos sentir cada vez mais satisfeitos com nosso próprio progresso.
Enfim, tomemos desde já o caminho da loucura, sempre nos lembrando de que a palavra convence, mas o exemplo arrasta.
Forte abraço e uma boa semana!