A palavra inglesa feeling possui muitos significados em sua língua materna. Nos dicionários há diversas descrições. Escolho duas: a função ou o poder de perceber pelo toque e, uma consciência ou ausência de consciência. “To feel” é o verbo sentir.
Feeling, pode ser o verbo no gerúndio a dizer “sentindo”. Também pode ser traduzido como sentimento, e ainda, como usamos no português, pode significar um sentido com intuição, ter uma percepção, não apenas como um sentimento, mas também como sentir algo além do que não foi visto pelos olhos, provado pela boca, cheirado pelo nariz, escutado pelos ouvidos e nem sentido pelo tato. A frase “meu feeling sobre isso…” é com a ideia de “minha intuição indica que…” ou “estou pressentindo que…”, não é? Há feelings para tudo!
Algo que tem me encantado na cultura portuguesa é que sempre após uma reunião, um curso ou mesmo uma conversa, eles me perguntam:
– E então? O que tu sentiste?
No Brasil, me perguntariam:
– E aí? Como foi? O que você achou?
Achar, a meu ver, é mental porque também relaciono com encontrar, ter uma opinião sobre aquilo que acabou de ser vivido. Já sentir é sutil, é além do mental, porque sentir é além dos cinco sentidos, envolve o nosso campo emocional. Eu, que sinto coisas demais, sempre sofri muito para formular o que eu achava e ter uma opinião de imediato. Para mim sempre foi um processo confuso responder o que eu achava. Mas agora, cada vez que me perguntam o que eu senti, a resposta vem fácil demais. Juro! Me sinto segura, porque minha mente é traiçoeira, no sentido que ela pode mudar de opinião, mas sobre o meu sentimento, eu tenho propriedade total. O que eu sinto não me traz dúvidas.
Há também outra expressão muito usual no português de Portugal que me intrigou porque demorei para entender sua colocação. No Brasil, após uma explicação, perguntam:
Entendeu?
Ao menos em Lisboa, onde vivo, no decorrer de uma explicação ou de uma história, corriqueiramente as pessoas perguntam:
Estás a perceber?
No início, minha tecla sap mental traduzia para “ você está entendendo? ”, até eu me acostumar com o perceber e naturalmente, responder: “Sim, eu estou a perceber”. Mas, de novo, assim como o sentir x achar, o perceber é muito mais profundo e certeiro do que o entender. Novamente, o entender é da mente; enquanto o perceber é além, a meu ver, está relacionado a algo intuitivo. Me explicou melhor:
“Eu estou sentada em uma sala quadrada com o olhar fixo no quadro-negro, mas percebo quando alguém entra nesta sala”. Quando um português está a me contar uma história e interrompe para me perguntar se eu “estou a perceber”, sinto como se eu estivesse compreendendo, entendendo, assimilando e indo além de suas palavras. Ele está a me passar um conceito, não só algo que é necessário ser entendido. Você, leitor, está a perceber o que estou a dizer?
Para mim isto fez muito sentido. No Brasil, pela língua, a percepção parece ser somente de coisas abstratas ou notadas por um dos cinco sentidos “percebi que a luz se acendeu”, “percebi que ele se levantou da mesa” ou “percebi que você está sem perfume hoje”. Nos referimos sobre algo que notamos, mas onde nossa atenção não estava necessariamente focada. Já aqui, não! O perceber é sinal de estar alerta, focado, concentrado quase que em transe no que está sendo descrito.
E sim! A palavra “percebe” é também usada com a mesma conotação brasileira. Apenas é muito mais corriqueira e, porque não, mística.