As frutas são um verdadeiro banquete para os nossos sentidos.
Devorei um pastel de Belém sem medo de ser feliz. E confesso: não satisfeita, voltei horas depois e comi mais um. Mas, logo em seguida, apareceu um pedaço de melancia na minha tela mental. Vermelha, doce como mel e suculenta. Aquelas de dar água na boca.
Sim, ela me daria o doce que eu buscava e, sim, ela eliminaria a culpa que eu acabara de criar. Tarde demais. As gemas, a maizena, a manteiga, o açúcar e os demais ingredientes do irresistível e famoso pastel português, para não dizer dos dois, já estavam dentro de mim. E só depois deles, a melancia veio me lembrar que as frutas são coloridas, saborosas, aromáticas, saudáveis e leves.
Imagine o verde refrescante do kiwi, o rosado da perfumada goiaba, o amarelo alaranjado da manga madura, o vermelho vibrante da melancia, o tom pálido da amada banana de todas as horas, o amarelinho do doce abacaxi e tantas outras maravilhas. As frutas são um verdadeiro banquete para os nossos sentidos.
Mas, ainda assim, voamos mesmo é no brownie, no cheesecake, no petit gateau com sorvete, no banofee, na trufa, no brigadeiro tradicional, no de Nutella, no de beijinho, no de paçoca e no que mais inventarem. Eu voei no pastel de Belém.
Demorei anos para ter a visão das frutas como diamantes comestíveis. Foi meditando diariamente e trazendo presença e consciência nas atividades do dia a dia, como comer, andar, limpar a casa, escovar os dentes, que me apaixonei pela banana, durante um café da manhã.
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Isso mesmo. Eu me apaixonei pela banana. Meu coração abriu e transbordou amor. Vi nela a dádiva da terra. Nascia ali uma nova consciência e daquele dia em diante ela e as outras frutas passaram a ter um brilho especial para mim.
Parece-me que, assim como garimpar ouro, extrair pedras preciosas, também é necessário trabalhar interiormente para que os tesouros já disponíveis se revelem. Foi assim que ganhei olhos para ver a riqueza das frutas. É algo a ser descoberto, conquistado.
Então, mãos à obra: compre uma maçã bem vermelha ou uma outra fruta e experimente comê-la de olhos fechados. Cheire a fruta e mastigue-as bem devagar. Delicie-se a cada mordida, sem pressa. Nutra o corpo e a alma e veja que delícia. É um carinho.
Foi em um intensivo de meditação, seguindo uma dieta alimentar rígida, sem ingerir açúcar, que eu me apaixonei pela maçã e aprendi a extrair dela o doce, que busco geralmente nas guloseimas.
Naqueles sete dias, esperei, todas as noites, pela maçã grande e vermelha com muita gratidão e suguei todo mel, prazer e bem-estar que ela pôde me oferecer. Eu dormia leve e satisfeita. Fui assim, aos poucos, descobrindo os diamantes comestíveis.
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Mas, mesmo depois dos meus casos de amor com as frutas, ainda me vejo seduzida pelo pastel de Belém. Um pecado que vale a pena, não? Absolvição.
Graças aos muitos anos de prática vem a mensagem: não se esqueça que uma bela fatia de melancia teria dado conta do recado.
E eis que meu trem voltou ao trilho, senão, lá estaria eu amanhã, novamente, na padaria, que acabou de inaugurar, ao lado de casa, comendo a delícia, que sempre adoçou as minhas paradas em Lisboa.
Disciplina e consciência. Todas as manhãs celebro a vida saboreando pedaços de frutas e a melancia deve estar com saudades de mim. Vou ao encontro dela.
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