Não me orgulho de ser assim tão desligada. Me desapego com tanta facilidade que sinceramente quando fecho os olhos e tento visualizar como estava minha vida há dois anos, não faço a mínima ideia. O rosto do garoto que dei meu primeiro beijo já se desvaneceu, e eu sequer lembro a cor dos seus olhos exatamente. A primeira vez que eu falei “eu te amo” me parece tão vaga, tão distante, como se nunca tivesse existido. Existiu? Ele disse que me amava. Eu suei frio. Pedi para que ele parasse de besteira. Eu disse de volta. Não disse? Eu disse. Acho que disse…
Minha primeira decepção, ah, dessa eu me lembro. O dia em que sentei no meio fio da calçada com os sapatos de salto (que eu odeio), nas mãos. Mas por algum motivo o que mais me chama atenção nessa história é que eu realmente odeio sapatos de salto fino. Eles machucam os pés a noite toda, você fica desconfortável, rezando para alguma amiga sua te chamar para sentar naquele sofá aconchegante no canto da balada. Mas isso não acontece. Então você só tem que dançar, dançar, dançar… E sorrir. Por que fomos criadas para fingir sorrisos mesmo quando não estamos felizes, não é mesmo?
Quando me perguntam quais são minhas metas para o ano que vem, simplesmente dou uma gargalhada. Metas? Que metas? Ninguém nunca cumpre metas. E aqueles que cumprem, você realmente acha que eles são completos? Quem cumpre metas não vive com o inesperado, não está disposto a pegar o atalho, cortar o caminho, traçar novos planos quando tudo dá errado.
Eu sou aquela que vive de atalhos. De agoras. De planos que nunca deram certo. Eu sou aquela que planeja fazer as unhas no dia do primeiro encontro, e simplesmente acorda com preguiça e se contenta em passar uma base para despistar. Eu sou aquela que não liga de repetir roupa simplesmente porque acha que pessoas tem muito mais a oferecer do que pedaços de pano. Eu sou aquela que não julga uma pessoa pela aparência simplesmente porque o seu rosto vai sumir da minha cabeça daqui a um tempo, mas suas atitudes não. Eu sou aquela que fala o que pensa, porque não tenho medo de perder pessoas da minha vida.
Eu sou aquela que diz ”vá”, e não espera que a pessoa volte tão cedo. O mundo é tão grande, tão bonito… Talvez ela se perca em meio a essa imensidão, vai saber?
É preciso ir embora, dar a meia volta, enlouquecer de vez em quando. É preciso sair do tom, esquecer a classe, e se descabelar. É preciso fechar os olhos, sentir a música, jogar os braços pro alto e gritar que essa é a sua música. É preciso falar o que se sente, mesmo que pareça uma besteira sem fim. É preciso largar o emprego que te faz mal aos 50 anos de idade, e ir fazer curso de teatro num bairro de periferia. É preciso desapegar de pessoas que te trazem segurança – mas não felicidade – , e deixar que a vida balance um pouco na corda bamba. É preciso abandonar antigos costumes, mudar o cabelo de mês em mês, ser rockeira num dia, patricinha no outro. É preciso ser quem você quiser ser, sem se apegar a metas, estereótipos, o que besteira mais essa sociedade impõe. É preciso emagrecer no ano que vem se isso for te fazer feliz. Arrumar um namorado se essa for realmente a sua vontade. Fazer a faculdade dos seus sonhos, e não sonhada por outras pessoas. Entende?
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Não tenho metas, não tenho planos, tenho apenas uma vontade… Bem simples na verdade. Tenho até vergonha de dizer em voz alta, ou em meio a rodinhas de pessoas que gostam de planejar sua vida passo a passo, e que tem metas excepcionais para o ano de 2016, como por exemplo ter 15% de gordura corporal, e conseguir dinheiro suficiente para comprar seu primeiro apartamento… Poxa… Eu só quero ser feliz. Com 15% de gordura corporal, ou 20%. Com um apartamento novo, ou morando de favor na casa de uma amiga. Postando fotos mostrando minha vida perfeita na internet, ou tendo uma vida mais ou menos sem precisar mostrar nada. Com um namorado a tiracolo, ou solteira me sentindo mais completa do que nunca.
É possível ser feliz repetindo roupa, com o cabelo ressecado, e sem calcinha nova na virada do ano. Você não precisa planejar os mínimos detalhes. Você só precisa saber que a vida é muito mais do que planinhos milimetricamente traçados em um papel esquecido. A vida é sobre saber sorrir com sinceridade.