Foi confirmado que há uma parcela de motoristas que aceitam sexo durante a corrida em troca de dinheiro!
A Folha de São Paulo ouviu relatos e depoimentos de motoristas de aplicativos cadastrados na Uber, na 99 e no InDriver, onde foi confirmado que os condutores têm aceitado fazer sexo com passageiros em troca de dinheiro. Conforme a Folha de São Paulo, os motoristas pediram para não terem os nomes divulgados para evitar punições das plataformas, onde eles podem ter as contas desativadas.
A maioria dos casos são tanto os passageiros, quanto os motoristas são do sexo masculino. Apesar disso, também há relatos de condutores que receberam ofertas de passageiras mulheres, que queria pagar a corrida com sexo, em vez de dinheiro, porém, são casos mais raros.
Segundo o Folha de São Paulo, os motoristas anônimos falaram que existem uma espécie de código, com sinais que podem ser enviados discretamente por quem estiver interessado em sexo. O mais comum é enviar a letra “b”, que significa sexo oral, no chat da plataforma para o motorista, antes mesmo de entrar no carro. O código foi criado pelos próprios usuários, visto que os aplicativos detectam automaticamente termos pornográficos e punem o condutor do veículo.
Além do código, a abordagem também pode ocorrer durante o trajeto, através de olhares no retrovisor, gestos e perguntas. Depois disso, ambos combinam o que desejam fazer, seja masturbação, sexo oral ou anal, bem como os valores que serão cobrados por isso. O “pagamento” pode ser praticado parado em alguma rua não movimentada, durante o movimento, em um motel bancado pelo cliente ou até mesmo na casa do passageiro.
Relato 1
De acordo com o Folha de São Paulo, Felipe (nome fictício), de 31 anos, trabalhava como barman em São Paulo, ganhando R $100 por noite. Precisando aumentar seus rendimentos financeiros, ele decidiu virar motorista de aplicativo, mas sempre era assediado por passageiros.
Até que um dia, Felipe resolveu aceitar a proposta de um cliente, pela necessidade de ganhar mais, onde a pessoa ofereceu R$ 150 para fazer sexo oral. Segundo ele, o valor era metade do que ele ganhava por dia com as corridas e a primeira coisa que pensou foi que, com esse ganho extra, poderia ajudar a completar o tanque do carro.
Há quatro anos trabalhando como motorista, o homem nunca foi vítima de golpes ou roupo, mas já foi flagrado por um segurança de estacionamento na Vila Mariana, enquanto recebia sexo oral de um passageiro, e felizmente o guarda não chamou a polícia. Sua tática para conseguir clientes é estacionar o carro próximo a saunas e boates, puxando conversa durante o trajeto, discretamente.
Além disso, Felipe também disse a entrevista que suas relações sexuais com os passageiros geralmente ocorrem sem o uso de camisinha e se protege apenas com a PrEP, uma combinação de medicamentos que impede a contaminação pelo HIV, mas não de outras infecções.
Relato 2
Marcelo (nome fictício), de apenas 22 anos, também é motorista e afirma ao Folha de São Paulo que já ficou com cerca de 50 passageiros desde que começou a trabalhar no ramo, há dois anos. O valor pode custar entre R $50 e R $150, mas ele já chegou a faturar R $200, o equivalente a quase todo o lucro diário que tem com as corridas.
Ele já tinha escutado de outros colegas sobre o sexo com passageiros, porém, ficou bastante surpreso quando foi abordado pela primeira vez. Na ocasião, ele estava com o carro em movimento quando o passageiro começou a tocá-lo. Na mesma hora, ele parou o veículo e os dois fizeram sexo ali mesmo, antes de acabar a corrida.
Marcelo evita responder os códigos enviados no chat, com medo de que as mensagens virem provas contra ele depois. Além disso, na entrevista ele também contou que a quantidade de programas aumentou desde dezembro de 2021, com a elevação do preço da gasolina no país.
Opinião profissional
Para a professora de sociologia na UENF (Universidade Estadual do Norte Fluminense), Luciane Soares, a prostituição entre os motoristas de aplicativos e passageiros representa a “precarização dentro da precarização”. Segundo ela, os aplicativos deixaram de ser um complemento de renda e passaram a ser a renda principal dos trabalhadores desempregados, principalmente com a pandemia.
Conforme o Folha de São Paulo, a professora diz que a prática é o resultado da crise, onde a população não consegue mais sustentar o preço dos combustíveis e as contas acabam não fechando.
Para a advogada criminalista Maria Pinheiro, da Rede Feminista de Juristas, como a prostituição não é crime no Brasil, os motoristas e passageiros não podem ser punidos pela prática, porém, se a relação acontecer de maneira pública, cabe o delito de ato obsceno. Caso isso ocorra, eles podem responder criminalmente pelo ato, com pena de três a 1 ano de detenção, cesta básica ou serviços prestados à comunidade.
Nota da Uber
Em nota enviada à Folha de São Paulo, a Uber ressalta que, conforme seus códigos de conduta, qualquer comportamento que envolva violência, assédio, conduta sexual ou discriminação ao usar o aplicativo, resultará na desativação da conta.
A 99 não quis se manifestar sobre o assunto e a InDriver não retornou o contato da reportagem.