Dona Maria, uma Enfermeira de cabelos brancos, sua face rude jamais conseguiu mascarar a bondade que transbordava em suas ações. Eu, uma criança com seis ou sete anos, internada em tratamento de câncer, apenas mais uma criança, que naquele hospital diariamente convivia com “Donas Marias”.
Essa não é uma história de triste, mas sim uma linda e verdadeira história de gratidão. Gratidão, por terem me feito presenciar cenas de conforto, mesmo em meio a tanta dor.
Alguns dos meus coleguinhas, eram encaminhados para sala de cirurgia ou UTI, alguns jamais voltaram, acreditem eram as “Donas Marias” ou Enfermeiros, seja qual o nome que daremos para esses profissionais que estavam conosco nesses momentos. Sempre tínhamos uma mensagem de carinho, um olhar acolhedor, um abraço, um simples: “vai ficar bem”! Para algumas crianças as últimas palavras e gestos de humanidade, para as demais: o eterno exemplo.
Gratidão, porque conhecíamos o mundo através das suas histórias.
Eu, devido ao longo tratamento, conhecia não só a rotina do hospital, como a maioria dos profissionais, um pouco sobre suas famílias, seus sonhos, mas muito sobre aventura, esperança e vida.
Gratidão, pelos valores ensinados. A minha “Dona Maria” me ensinou valores que carrego até hoje. Seu olhar, apesar de cansado, jamais me olhou com piedade ou com dó, seu olhar transbordava esperança e fé. Ela me deu banho, aconselhou-me a sempre estudar, e entre um curativo, uma troca de soro, quimioterapia e outra ida para o centro cirúrgico, ela me mimava, como se todo dia fosse o melhor dia para se viver. Eu, pequenina, retribuía com meu sorriso, mesmo quando meu maior desejo era chorar. “Pequena, você sorri com os olhos” dizia ela, e eu desejava que todos os plantões fossem seus!
Gratidão, pois o tempo passou, mas suas ações jamais; e como não lembrar desta Enfermeira, uma senhora já de idade, que carregava em seus cabelos brancos a marca do tempo, em suas mãos o amor por sua profissão?
Ser humano, com nenhum bem, mas riquíssima de valores, tão rica que ainda dividia com crianças como eu, amor, esperança, fé em Deus e seus milagres.
Gratidão, por existirem tantas “Donas Marias”, espalhadas pelo mundo, cuidando e zelando pela vida de tantos pacientes.
Que seus corações nunca se enfraqueçam, mesmo diante de qualquer sentimento alheio, a nobreza está justamente na humanidade com que tratam o ser humano, além do paciente.
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