Também chamado de “ageísmo” ou “etarismo”, o preconceito contra os idosos tem se tornado cada vez mais comum, principalmente nos últimos anos
O Relatório Mundial sobre o Idadismo, produzido pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2021, aborda os impactos que o preconceito causa no bem-estar e na saúde dos idosos. De acordo com o estudo, o idadismo (também chamado de etarismo ou ageísmo) é usado para “categorizar e dividir as pessoas” de forma que causa prejuízos, injustiças e desvantagens.
O preconceito contra essa faixa etária, assim como qualquer outro, começa ainda na infância, a partir dos reforços e da maneira como a comunidade e a cultura de cada indivíduo lida com a questão. É pelos estereótipos que a intolerância surge, assumindo três formas gerais: institucional (leis, regras e normas sociais são criadas para prejudicar indivíduos por conta da idade), interpessoal (interações entre dois ou mais indivíduos) e contra si mesmo (a pessoa internaliza o preconceito e o usa contra si própria).
Em entrevista à revista Veja, o ator Antônio Fagundes, de 74 anos, abordou justamente a questão. Ele explicou que há mais de cinco décadas seu objetivo de vida é trabalhar e viajar, desfrutando majoritariamente dos prazeres de ficar em casa.
Para o ator, as coisas de que mais gosta de fazer envolvem ler muitos livros, ver filmes e apreciar a companhia da esposa Alexandra Martins, de 45 anos. Aproveitar as redes sociais também se tornou uma nova descoberta da sua vida, e ele explica que passou a utilizar a plataforma para, principalmente, oferecer dicas de livros que tem consumido.
![“Essas pessoas devem ser órfãs”, diz Antônio Fagundes com relação ao preconceito contra idosos](https://osegredo.com.br/wp-content/uploads/2021/11/Essas-pessoas-devem-ser-orfas-diz-Antonio-Fagundes-com-relacao-ao-preconceito-contra-idosos-1.jpg.webp)
Mas ele conta que existe um limite — passa pouco mais de uma hora por dia nas redes sociais —, e como ama a leitura, uniu os dois gostos, fazendo pequenos vídeos em seu perfil pessoal sobre as narrativas em que se tem enredado nos últimos meses.
Em 2021, na época da pandemia, a quarentena fez com que seus dias se tornassem mais vagos, e ele explica que leu um livro a cada três dias, além de assistir a cerca de três filmes por dia, preenchendo suas horas livres. Isso tudo porque o ator respeitou o isolamento social, e acredita que todas as pessoas, principalmente as mais velhas, precisam olhar para o restante do mundo antes de retomar a vida social, como se não existisse mais sinal do vírus.
Falando um pouco sobre o idadismo, Fagundes acredita que as pessoas que defendem que a covid-19 é uma doença que vitimiza apenas os idosos, aparentemente “devem ser órfãs”, já que parecem não se preocupar com a morte de pais e avós. O ator explica que, depois dos 40 anos, todos estão mais perto da velhice do que da juventude, por isso, não valorizar os idosos é algo horrível.
O ator explica que o cenário o fez lembrar de uma frase de Edmund Burke:
“Quem não conhece sua história está condenado a repeti-la”.
Para Antônio, esse mesmo tipo de preconceito já foi visto em outros períodos da história, com a eugenia, com o nazismo e que, em muitos contextos, os idosos eram eliminados por serem considerados “inúteis”.
![“Essas pessoas devem ser órfãs”, diz Antônio Fagundes com relação ao preconceito contra idosos](https://osegredo.com.br/wp-content/uploads/2021/11/Essas-pessoas-devem-ser-orfas-diz-Antonio-Fagundes-com-relacao-ao-preconceito-contra-idosos-2.jpg.webp)
Ele ainda explica que milhões de pessoas continuam morrendo pela irracionalidade humana, assim como aconteceu no passado, e que isso não pode continuar acontecendo. Resolver a radicalização política, de acordo com o ator, só será possível no dia em que for mantido um diálogo racional, baseado em fatos, não em preconceitos ou vontades.