“Este é um livro sobre Amor” – Entrevista com Paula Gicovate
Paula Gicovate nasceu em Campos dos Goytacazes em 1985 e mora no Rio de Janeiro desde 2004. Cursou Letras – Formação de Escritor na PUC-RIO. Publicou dois livros de contos – “Sobre (o) Tudo que Transborda” e “D4” , e em 2014 lançou seu primeiro romance “Este é Um Livro Sobre Amor” pela editora Guarda-Chuva e livro este que me chamou bastante atenção pelo título. Em primeiro momento pela coragem de falar de um tema tão confuso na contemporaneidade, mas que ela aborda com a poética aguçada e livre de estereótipos. Resolvi bater um papo com a Paula e achei linda a sua liberdade de falar sobre Amor de uma forma tão amadurecida e consciente.
Paula, vou começar sendo muito direto contigo: como você vê o amor que possivelmente envolve o ser humano nos dias atuais?
Já passei por momentos onde eu achava que o ser humano estava mais cínico em relação ao amor, evitando se envolver. Mas depois percebi que era eu que estava sequelada demais para amar de novo.
Eu tinha acabado uma relação, estava mais machucada e vendo o amor de uma forma diferente, como se o amor me aprisionasse, mas isso porque em um dado momento eu vi o amor como uma espécie de simbiose, algo muito difícil de funcionar, porque amor deveria ser mais parceria do que alienação. É não é viver para o outro, mas com o outro, sem deixar de ser quem é. Hoje acho que estamos falando de amor também para encontrar uma forma de vivê-lo. Estamos questionando seus formatos, ganhando autonomia e coragem para viver as relações que queremos, e não as que foram impostas. No livro “Este é Um Livro Sobre Amor” eu digo que nada neste mundo é mais subversivo ou libertador do que o amor, e depois de passar por poucas e boas e falar do tema à exaustão, é o que eu acho.
Como você vê o seu amor pelas pessoas nos dias atuais?
Hoje meu amor está mais ciente da necessidade do próprio espaço. O amor que eu tenho pelos meus amigos, pela minha família, pelos meus objetos de desejo. Eu os amo com devoção, mas sem me perder de mim.
O que te motiva a escrever?
Eu não escrevo apenas porque gosto, mas também por uma questão de sanidade mental. Literatura é o meu lugar no mundo, eu tenho uma necessidade física de fazer isso. Eu escrevo para tirar de mim, para me curar, e por sorte apareceu o leitor, que é o oposto da solidão. Quando eu escrevo e faz sentido para mais alguém, o outro me faz companhia, válida minhas questões e pega na minha mão. O leitor é a coisa mais bonita que existe.
O machismo já te prejudicou de alguma forma na sua carreira? Como você vê esse aspecto na sociedade?
Eu sou feminista, e foi o feminismo que me salvou de relações abusivas no amor e no trabalho. É necessário que se fale muito sobre o assunto, porque ser mulher é resistência, é todo dia, é ganhar menos do que um homem que exerce a mesma função (Já aconteceu comigo), é às vezes ser colocada em um lugar de “literatura feminina”, como se literatura tivesse gênero, é sentir medo de andar na rua a noite, é ter que ser corajosa e resistente o tempo todo. Mas já sofri machismo de mulheres também. Está arraigado na nossa sociedade e na forma das pessoas pensarem, portanto o conceito de sororidade nunca foi tão importante para nos defendermos, nos amarmos e resistirmos juntas.
Seus ídolos na literatura e por quê?
Meus ídolos são as escritoras Ana Cristina Cesar, Zadie Smith e Patti Smith, que fazem literatura com as entranhas e nos ensinam sobre nossos próprios demônios ao mesmo tempo em que colocam nossas belezas em foco. Estas descrevem minha vida e me fazem companhia. Além delas eu também adoro Leonard Cohen, Ernesto Sábato, Jonathan Franzen, Cortazar, Daniel Galera, Paulo Scott, Nicole Krauss, Hilda Hilst e David Foster Wallace.
O que é a vida pra você?
Difícil pra caramba e bonita pra caramba. Escrever dá sentido a tudo.
Conta um segredo pra gente?
Vou contar dois: música me inspira tanto quanto literatura, e eu escuto a conversa das pessoas que sentam perto de mim.