Há muitos anos atrás, eu li uma frase num muro.
“Come back to me, again”
E fiquei imaginando quem a havia escrito, e a quem se destinava.
Será que se tratava de um grande amor, daqueles que trazem fúria e colocam tudo em ruína?
Ou teria sido, um amor calmo, como a imagem de um cais de águas tranquilas?
Eu nunca soube a resposta, e esta imagem permaneceu na minha mente, pelos últimos 30 anos. E se fechar os olhos ainda consigo sentir, o vento fraco que assoprava naquele dia, a cor do muro, e a letra escorregadia com um spray preto.
Mas o que tem esta imagem a ver, com a minha vida hoje?
Eu tenho dito para mim mesmo: “Come back to me, again”. Preciso voltar para mim mesmo.
Preciso calar as vozes, que me dirigiram nestes anos todos. Vozes de urgência, de ter que pagar contas, de ter que entrar na Universidade, de ter que ganhar dinheiro, e trabalhar mais, para ganhar mais dinheiro.
Vozes que me levaram à frente, como um autômato, mecanizado, preciso, no entanto, sem vida.
Preciso resgatar aquele “Eu”, que gostava de violões e praças. De poesias em papéis amassados, de sorrisos contagiantes , de amigos que prometiam eternidades juntos.
Preciso ouvir meu silêncio, e ordenar as “peças emocionais” dentro de mim, segundo o critério de validade, de uso e de tempo.
Preciso ouvir um piano tocando, uma gaita numa estação de trem, um CD antigo de uma banda nova tocando no Bexiga.
Preciso, não deixar a poesia morrer, nem a capacidade de ir além do “bom dia, vizinho”.
Preciso dançar na cozinha, e não me preocupar com o relógio que tentou me aprisionar nesta convenção chamada tempo.
Preciso, soltar os balões que eu mesmo enchi, e deixá-los povoar o céu, com suas cores e tamanhos, para me lembrar que estou vivo, e que ando com saudades de mim mesmo.
Preciso ouvir Frejat, e festejar com um bom vinho, como quando alguém amado que volta à casa.
Tô voltando pra mim! E agora é pra ficar.
_____
Direitos autorais da imagem de capa: chalabala / 123RF Imagens