“A mente não me controla. Eu controlo minha mente!”
Cresci de mãos dadas com esta afirmação positiva.
A possuidora de tais versos? Minha mãe! A mulher mais resistente e equilibrada que já conheci diante de tantas adversidades.
Não… Não foi qualquer turbulência que ela viveu. Foram acúmulos de tragédias terríveis. Uma verdadeira colheita de tormentos. Como a mesma diz: “As pessoas reclamam de tudo, sofrem por pequenas coisas, caem numa cama em meio a choros descontrolados. Não reagem a nada e ainda alguns se tornam prisioneiros da depressão e da ansiedade.
As pessoas precisam é de guerra para saberem o que é dor! Porque só com a dor de verdade é que nos tornamos fortes de atitudes!” Ela declamava tais palavras cheia de energia e com um tom de dureza que muitas vezes não conseguia entender. Por mais que eu já soubesse de todo seu singular sofrimento, eu era ainda muito imatura para processar com sensibilidade tantas fortalezas numa pessoa só. Afinal sua história familiar e a reação perante à mesma é um paradoxo cruel. Eu mesma muitas vezes me sentia atingida pelas tempestades. Creio que eu era um ser humano. Mas ela não… Era um super humano!
Nunca vi minha mãe acordar sem um sorriso no rosto… Nunca a vi deixar de fazer suas atividades físicas (por sinal são todos feitos em casa), deixar de cuidar de sua alimentação ou de fazer seus caça-palavras. Nunca a vi chorar por desespero algum, pois só chorava com entendimento da sua realidade. Era um choro consciente para uma tomada imediata de ação! Ela nunca foi de pensar, mas de agir. E até considero que ela usava e ainda usa algumas estratégias engraçadas para combater a negatividade de sua mente diante de situações extremas. Tipo… Memorizar números! Números de identidades, CPFs… Números… Números… Números. Eu sempre ri muito disso e agora também ao me lembrar de tal técnica esquisita.
Mas não é que faz sentido? Ela não fugia dos momentos complicados, mas reagia com equilíbrio emocional. Ela apenas desfocava o problema real memorizando números.
Pois seu foco estava na resolução… Na AÇÃO! Ela não “enlouquecia” mediante os reveses. Pois sabia como nunca governar sua própria mente.
A disciplina era seu principal escudo. E assim, tentou nos escudar desde cedo. Convivi com abundância de regimentos. Principalmente no quesito estudo. Pequenininha já estudava como uma “concursanda”, pois tinha horas e dias determinados para praticar números e letras. Se eu errasse alguma palavra, ou alguma conjugação verbal ou mesmo tabuada de algum número, era obrigada a repetir tudo por cem vezes. O “quartel general” às vezes era chato. Não compreendia o porquê de tantos ordenamentos. Uma vez, estudando juntas história, ela ficou encantada com o conto grego sobre Ícaro. Pois o mesmo elaborou sua própria fuga da prisão do labirinto de Minotauro em Creta, criando asas feitas de gaivota e cera do mel de abelhas. Entretanto, ao sair do cárcere voando, teve sua tentativa frustrada ao chegar mais perto sol. Pois a cera de suas asas derreteu e o mesmo morreu caindo no mar Egeu.
Talvez, minha mãe quisesse ser um tanto de Ícaro. Ousar voar para fugir de suas prisões… Ousar voar para conseguir realizações pessoais independente das surreais consequências. E isto significa seguir o coração. Mas ela preferiu ficar presa em seu labirinto… Silenciar seu coração… Estagnar seu voo mesmo diante de um céu infinito de possibilidades.
Ela fez sua escolha e manteve sua mente em paz. Que mulher equilibrada! Ambos, Ícaro e minha mãe têm algo em comum: a coragem! Pois seguir ou não o coração é preciso muita coragem!
E assim… Só hoje entendi suas insistências para que eu reagisse em meio aos vendavais da vida e para que eu seguisse à risca seus regulamentos: eu sou o sonho do coração dela! Ela me preparava para voar!
Estou pronta! Sou dona do meu destino… Da minha própria vida! Eu mereço todas as tentativas… Nem que se repitam cem vezes! Pois já sou treinada até os cem. E não há nada que esfacelará minhas asas, pois nasci para voar longe. Afinal… Possuo o genes de uma “SUPER HUMANA”!
Eu controlo minha mente. Minha mente não me controla. Mas também obedeço aos desejos do meu coração!