Eu sei que você já não confia em ninguém, mas tem gente que vale a pena deixar entrar, tem muita gente que é luz no mundo, ainda existe gente confiável.
Só quem já viveu a dor no peito da decepção compreende o quanto é difícil confiar novamente em alguém.
É simplesmente difícil achar que existam pessoas no mundo que sejam diferentes. Lamentamos muito por perder nossa inocência, por não confiar mais, por não olhar para as pessoas com a curiosidade de uma criança.
Percebemos que melhor que um olhar curioso é um olhar cuidadoso, talvez um pouco inseguro. Às vezes, é melhor nem olhar, deixar quieto, deixar passar e, se um dia passar, a gente resolve depois o que faz.
As pessoas que permitimos entrar, se fôssemos uma casa, deixaremos que entrem somente até a varanda, em poucos casos até a sala de estar, mais para dentro é muito invasivo. É difícil mostrar para o outro a bagunça que ainda não conseguimos arrumar. Há cômodos que nós mesmos deixamos de entrar faz um tempo, tem coisas que são difíceis de olhar ali e não fazemos ideia de quando seremos capazes de olhar.
A varanda é certamente mais segura. Ali podemos manter facilmente arejado e limpinho, é como um sorriso aberto, convidativo para uma conversa sociável, nada além do que isso.
Se colocarmos algumas poltronas confortáveis e uma mesa de centro, podemos oferecer, de repente, até um café, um chá para aqueles que chegam.
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Com isso, é possível descontrair e manter algum vínculo com as pessoas, precisamos disso, é doloroso demais ficar só, lá dentro, em meio à bagunça.
Acontece que tem aqueles dias em que ficamos lá dentro, nada entra, é meio sombrio, não é possível espairecer, respiramos sempre o mesmo ar, as lembranças são as mesmas, nada muda de lugar, tudo tem o mesmo significado.
Às vezes, até pensamos que, se deixarmos alguém entrar, pode ser que nos ajudem, mostrem uma luz de onde começar a arrumar, mas não há confiança suficiente para isso, é tudo muito bagunçado e uma dor difícil de ser mostrada.
Osho, filósofo e líder espiritual indiano, disse certa vez que “quando nos fechamos, acontece processo semelhante em nós como estar dentro de um túmulo, lá não existe vida, só o corpo desfalecido, escuridão, sufocamento e as vidas que ali existem são de animais peçonhentos e funestos.”
Acredito que é assim mesmo que acontece quando nós nos fechamos. Fica tudo meio escuro e ficamos divagando em nossos pensamentos. O problema é que estes pensamentos, como estão submersos na bagunça, tornam-se os animais peçonhentos e funestos do túmulo.
É por isso que é necessário deixar a luz entrar. Na luz, pensamentos novos florescem e precisamos da ajuda de outras pessoas para facilitar a entrada dessa luz.
Eu sei que você já não confia em ninguém, mas tem gente que vale a pena deixar entrar, tem muita gente que é luz no mundo, ainda existe gente confiável.
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Você percebe pela forma que a pessoa sorri, a falta de exigências e a energia boa que renova tudo onde passa. Gente assim, sem perceber, oxigena a vida da gente, faz florescer.
É por isso que peço: quando encontrar alguém assim, sei que vai encontrar, deixe essa pessoa entrar para além da sua sala de estar, ela vai sentar e passar um tempo com você, mesmo na bagunça, ela não vai preocupar com isso, vai olhar para a possibilidade de beleza e mudança do lugar.
Quando se tornar confortável a presença dela para você, pode ser que perceba que, após ao caos, é possível encontrar beleza no que foi bagunçado, destroçado.
Tudo ali pode ser resinificado e remodelado para se tornar uma peça única a ser compartilhada com os demais.
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