Tenho ouvido Maria Bethânia, incessantemente, no YouTube, cantando lindamente:
“Hoje eu ouço as canções que você fez pra mim
Não sei por que razão tudo mudou assim
Ficaram as canções e você não ficou
Esqueceu de tanta coisa que um dia me falou
Tanta coisa que somente entre nós dois ficou
Eu acho que você já nem se lembra mais…”
Olhando a noite de São Paulo, do alto do 18º andar do apartamento que um dia dividimos na Paulista, eu me lembro de você. De você e seu violão, das músicas que compôs para mim, das coisas que me dizia e das quais hoje, acredito, nem se lembra mais.
Eu me sirvo outra taça de vinho, a música acaba e eu recarrego a página para ouvir a música novamente. A saudade aperta, eu te vejo on-line e quase caio em tentação. Ainda te quero tão bem…
Fomos aquilo que se chama de quase. Quase uma história bonita. Quase um final feliz. Quase votos de eternidade. Quase um amor. Hoje sei que quanto mais “quases” acumulamos, mais acreditamos que ali residia uma possibilidade de felicidade.
A gente não escolhe somente aquilo que ama. A gente escolhe abdicar do amor também por amor a nós mesmos. Escolhi a mim. Pois quanto mais eu ficava – e me contentava com o que um dia foi uma possibilidade de amor, insistindo em algo que nunca se concretizou –, menos eu me amava.
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Eu te quero bem. Mas ando oscilando entre te amar e me amar. Voltaria no tempo para ouvir novamente as canções que você fez para mim ou para congelar os instantes em que você disse que seria para sempre.
Mas o tempo também traria seu gelo e minha insistência, minhas exigências e sua indiferença.
O que foi bom vai ficar guardado em mim. Ninguém nos rouba o que queremos eternizar, mas é preciso ter cuidado com a vã esperança, pois ela breca novas possibilidades.
E, ainda que doa, preciso voar…