A evolução do homem, e vamos nos ater ao homo erecuts, iniciou-se há cerca de 1,5 milhão de anos.
Nesta época de ferramentas rudimentares como pedras lascadas, polidas, até atingir a idade do bronze e ferro, o homem primitivo possuía uma arcada dentária proeminente. Servia para mastigar nacos de carne e outros alimentos praticamente crus, já que geladeira e fogão são invenções recentes.
Naquele momento histórico, a boca do homem estava apinhada de dentes. Dentre eles, o siso. Que hoje os dentistas arrancam como se não prestassem para nada. Muitos homo sapiens sapiens já crescem sem eles. A evolução da espécie prossegue sabe se lá Deus até onde.
E claro, o cérebro evoluiu também. E com ele a inteligência humana. Que trouxe a reboque a evolução tecnológica. Avassaladora a partir do século XX, e ainda mais veloz que um carro de fórmula 1, da segunda metade deste século em diante.
E cai o siso. Ora, se a evolução da espécie descarta órgãos, ossos, pelos, e outros, digamos, quesitos pessoais, desnecessário ao homem moderno, este mesmo homem criou um órgão sobressalente: o smartphone.
O mundo na palma da mão tornou-se tão vital quanto o cérebro ou o coração. Digamos que o homem não respira mais sem um desses aparelhos que parecem um feitiço. Funcionam como um balão de oxigênio para pulmões que não prescindem apenas do ar, mas de informação, selfies, notícias as mais íntimas no twitter ou instagram. Sem falar em dúzias, talvez centenas de aplicativos para os mais variados fins.
O homem hodierno criou um planeta virtual. E procedeu como os antigos exploradores: mapeou, dividiu-o em tribos, países, etnias, etc., transformando o smartphone num órgão externo de exploração. Um novo rabo, quem sabe? Que também já perdemos com a evolução, graças a Deus!
Mas este dispositivo, que numa era remota foi chamado de celular, é multitarefa. Complementa olhos, ouvidos, mãos, cérebro e por que não dizer, o ego. Não é à toa que os ladrões atualmente os preferem a rins ou dentes de ouro. Outro dia assisti, quase estarrecido, porque neste mundo nada mais surpreende cem por cento, a um roubo desses aparelhos.
Os meliantes invadiram um depósito e levaram toda a carga. Eram tantos que tropeçavam uns nos outros, enquanto carregavam caixas abarrotadas do my precious. Que fascinação é essa que tomou conta da humanidade?
A natureza achou por bem que perdêssemos o siso, para aliviar a carga. Mas agregamos um peso voluntário e cobiçado. Ninguém duvida que o smartphone seja uma poderosa ferramenta para uso do novo sapiens. O problema é que ele parece ter se transformado numa prisão.
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