Final de ano, reflexão, balanço. Um frio percorre a espinha, há tanto pra se fazer! E, no entanto, nada é mais importante que a paz, estar em paz, desejar esse patamar de plenitude.
Como é difícil nessa época o renunciar, dizer não, virar as costas e dar de ombros. Como é difícil querer menos, se desapegar. Prometemos a nós mesmos que no ano que vem, tudo será diferente.
A gente se enche de boas intenções, de ensaiar novos recomeços, a gente aposta nos clichês, de que a felicidade está nas atitudes que vem do coração, nos momentos simples onde a companhia de pessoas queridas são a solução para nossos dias de solidão e de que as exigências materiais vão nos consumir e nos levar ao vazio existencial.
A gente sabe. No fundo a gente sabe de tudo. Mas a gente não aprende. A gente luta por não querer, mas queremos sempre mais. Lutamos por algo que nos destrói por dentro, um pouquinho a cada dia. E assim vamos nos enganando de que o que vale mesmo é ter e não ser, e nesse não sendo, nós nos perdemos.
Cada vez mais postamos fotos de momentos em que não estamos, nós nos ausentamos de nós mesmos e nem percebemos, a gente se conecta com aparelhos e se desconecta dos nossos pares, perdemos sorrisos, sussurros, olhares reveladores, nossas dores. Por que nunca estamos realmente inteiros.
A fluidez dos relacionamentos se esvai pelo ralo, migra para um abismo, cada dia um pouquinho, cada um para o seu lado, até não nos reconhecermos mais e nos estranharmos muito. Mas todo final de ano prometemos nos salvar, resgatar tantas perdas diárias.
Precisamos parar de querer enfiar o mundo dentro de uma caixinha, resumir sentimentos, parar com essa mesquinhez de não se doar, não estar, não ser.
Final de ano, revisão, ponto de partida, promessas em vão. Tantos desejos contidos, segredos escondidos, o não revelar, não resolver, não se posicionar. É difícil olhar para trás, olhar para frente, entender e justificar o presente. É difícil se entregar, se comprometer, se regenerar. Seja do que for.
Todo ano, todo final de ano, fazemos promessas, fincamos o pé, e nada fazemos, que não seja diferente do que temos feito todos estes últimos anos passados. A verdade é que não sabemos como. Estamos tão condicionados, estamos tão donos de nossos quereres que simplesmente não vemos a saída.
Nesse processo todo de desconstrução, ninguém nos ensinou a dar a volta por cima, a voltarmos a ser mais sensíveis, menos banais, boiadores da nossa própria superficialidade.
Felizmente as aulas sobre o tema estão em fascículos diários, não entregues a domicílio, diga-se de passagem, você tem que ir atrás, gastar o seu tempo, restaurar sua Fé, e querer, do fundo da sua alma, ser alguém melhor e com isso reaprender a ser você, em sua melhor versão.