Recentemente o Google fez uma linda homenagem para a pesquisadora indiana Kamala Sohonie, que foi a primeira mulher daquele país a conseguir um PhD em ciência e teve grande importância na luta pelos direitos das mulheres.
Kamala Sohonie foi uma cientista indiana pioneira que fez importantes contribuições para o campo da bioquímica. Ela nasceu em 11 de agosto de 1911, em Indore, na Índia, em uma família que valorizava a educação. Desde jovem, Kamala demonstrou interesse por ciência e pesquisa, o que a levou a uma carreira notável na área.
Segundo a Wikipédia, ela ingressou na Universidade de Mumbai, onde se formou em Química com distinção e honras. Kamala Sohonie então seguiu para o Reino Unido, onde estudou na Universidade de Cambridge, tornando-se uma das primeiras mulheres indianas a realizar pesquisa acadêmica em uma universidade estrangeira.
Sua pesquisa foi na área de bioquímica e enzimologia, e ela foi orientada por renomados cientistas, incluindo Sir Frederick Gowland Hopkins, que mais tarde receberia o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina. Durante seu tempo em Cambridge, Kamala fez avanços significativos no estudo das enzimas.
![Kamala Sohonie: biografia da bioquímica indiana que foi pioneira na ciência](https://osegredo.com.br/wp-content/uploads/2023/09/Kamala-Sohonie-biografia-da-bioquimica-indiana-que-foi-pioneira-na-ciencia-imagem-1.jpg.webp)
Após concluir seu doutorado, Kamala Sohonie retornou à Índia e se juntou ao Instituto Indiano de Pesquisa Científica em Bangalore. Ela continuou seu trabalho de pesquisa e colaborou com outros cientistas indianos proeminentes, contribuindo para o desenvolvimento da bioquímica no país.
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Kamala Sohonie foi uma das primeiras mulheres a se destacar no campo da ciência na Índia e abriu caminho para futuras gerações de cientistas. Seu legado como uma cientista pioneira é lembrado e celebrado, e suas contribuições continuam a inspirar aqueles que buscam carreiras na pesquisa científica.
Juventude de Kamala Sohonie
Sua família tinha uma tradição ligada à química, com seu pai, Narayanarao Bhagvat, e tio, Madhavrao Bhagvat, ambos formados no antigo Instituto de Ciências Tata, que mais tarde se tornou o renomado Instituto Indiano de Ciências em Bengaluru. Seguindo a “tradição familiar”, Kamala se formou em 1933, obtendo um bacharelado em Química (principal) e Física (subsidiária) pela Universidade de Bombaim.
Após concluir seus estudos, Kamala decidiu buscar uma bolsa de pesquisa no Instituto Indiano de Ciência. No entanto, seu pedido foi inicialmente rejeitado pelo então Diretor do Instituto e laureado com o Prêmio Nobel, Prof. CV Raman, que alegou que as mulheres não eram consideradas competentes o suficiente para realizar pesquisas científicas.
Determinada a superar essa barreira, Kamala Sohonie realizou um ato de protesto, conhecido como ‘satyagraha’, em frente ao escritório do Prof. CV Raman. Seu protesto teve sucesso, e ela foi finalmente admitida no instituto, mas sob condições desafiadoras:
- Ela não poderia ser uma estudante regular.
- Ela permaneceria em liberdade condicional durante seu primeiro ano.
- Seu trabalho não seria oficialmente reconhecido até que o próprio CV Raman estivesse satisfeito com sua qualidade.
- Ela não perturbaria o ambiente, sendo considerada uma “distração” para seus colegas do sexo masculino.
Apesar das condições humilhantes, Kamala aceitou os termos e, em 1933, tornou-se a primeira mulher a ser admitida no instituto. Ela mais tarde comentou sobre a experiência, destacando o preconceito de gênero que enfrentou, mesmo de um ganhador do Nobel.
Seu exemplo inspirou a admissão de várias outras mulheres na instituição no ano seguinte. Kamala Sohonie provou ser uma pioneira determinada em sua busca por conhecimento e igualdade de gênero na ciência.
Anos de pesquisa
Kamala Sohonie encontrou apoio e orientação de Sri Srinivasayya durante sua estada no IISc (Instituto Indiano de Ciências). Durante esse período, seu foco de pesquisa abrangeu proteínas do leite, leguminosas e vegetais, sendo este último um tópico de grande relevância na Índia.
Sua dedicação e coragem na pesquisa tiveram um impacto profundo, influenciando a decisão do Prof. Raman de permitir que mulheres fossem admitidas no IISc apenas um ano após ela ter concluído seu mestrado com distinção em 1936.
Após essa fase, Kamala recebeu um convite para estudar na Universidade de Cambridge, no Reino Unido, onde colaborou com o Dr. Derek Richter no laboratório Frederick G. Hopkins. Ela se matriculou no Newnham College em 1937 e se dedicou aos estudos em Ciências Naturais Biológicas.
Sua pesquisa continuou com o Dr. Robin Hill, focando-se em tecidos vegetais. Durante esse período, Kamala fez uma descoberta notável ao identificar a enzima ‘Citocromo C’, que desempenha um papel crucial na cadeia de transporte de elétrons, um processo fundamental para a produção de energia em plantas, células humanas e animais.
Surpreendentemente, sua tese de doutorado sobre esse tema tinha apenas 40 páginas, uma extensão consideravelmente menor do que a média de teses de doutorado.
Após concluir seu doutorado, Kamala Sohonie retornou à Índia em 1939, movida por seu apoio à luta nacionalista liderada por Mahatma Gandhi.
Ela assumiu a posição de professora e chefe do Departamento de Bioquímica no Lady Hardinge Medical College, em Nova Delhi. Depois, ela trabalhou no Laboratório de Pesquisa em Nutrição de Coonoor, onde seu foco estava nos efeitos das vitaminas.
Em 1947, Kamala casou-se com MV Sohonie, um atuário, e mudou-se para Mumbai. Ela se juntou ao Royal Institute of Science como professora no Departamento de Bioquímica, onde concentrou seus esforços de pesquisa nos aspectos nutricionais das leguminosas.
Sua nomeação como Diretora do Instituto foi adiada por quatro anos, em parte devido ao preconceito de gênero prevalente na comunidade científica.
Durante esse período, Kamala e seus alunos conduziram pesquisas cruciais sobre alimentos consumidos principalmente por grupos financeiramente desfavorecidos na Índia. Seu trabalho se expandiu para o estudo de ‘Neera’, a seiva extraída de palmeiras.
Ela descobriu que essa substância continha quantidades significativas de vitaminas A e C, além de ferro, e que esses nutrientes podiam ser preservados mesmo após a concentração de Neera em açúcar mascavo de palma e melaço.
Pesquisas posteriores revelaram que a inclusão de Neera nas dietas de adolescentes desnutridos e mulheres grávidas de comunidades tribais como um suplemento dietético acessível resultou em melhorias significativas na saúde. Por seu trabalho nesse campo, Kamala Sohonie recebeu o Prêmio Rashtrapati.
Impacto de sua pesquisa
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A pesquisa de Kamala Sohonie sobre o Neera teve um impacto significativo na sociedade indiana.
O Neera, segundo a Wikipédia, é a seiva extraída das inflorescências de várias espécies de palmeiras e tem sido tradicionalmente consumido em algumas regiões da Índia. No entanto, o trabalho de Kamala Sohonie trouxe à luz a importância nutricional do Neera e seus benefícios para a saúde.
Seus estudos revelaram que o Neera continha quantidades significativas de vitamina A, vitamina C e ferro, nutrientes essenciais para uma dieta saudável.
Além disso, ela demonstrou que esses nutrientes podiam sobreviver ao processo de concentração do Neera em açúcar mascavo de palma e melaço, tornando-o uma fonte acessível e econômica de nutrição.
O impacto dessa descoberta foi particularmente relevante para comunidades tribais e grupos de pessoas financeiramente desfavorecidas na Índia, que muitas vezes enfrentam desnutrição.
A inclusão do Neera nas dietas dessas populações como um suplemento dietético barato resultou em melhorias significativas na saúde, especialmente entre adolescentes desnutridos e mulheres grávidas.
Além disso, Kamala Sohonie foi reconhecida com o Prêmio Rashtrapati por seu trabalho nesse campo, destacando ainda mais a importância de suas contribuições. Sua pesquisa não apenas promoveu a saúde e o bem-estar de muitos indianos, mas também valorizou e destacou os recursos naturais tradicionais da Índia.
O trabalho de Kamala Sohonie sobre o Neera teve um impacto positivo e duradouro na sociedade indiana, melhorando a qualidade de vida de muitos e demonstrando o potencial da ciência para abordar desafios nutricionais e de saúde.
Falecimento e legado
Kamala ativamente participava da Sociedade de Orientação ao Consumidor da Índia (CGSI). Ela assumiu a presidência da CGSI durante o mandato de 1982-83 e também contribuiu com artigos sobre segurança do consumidor para a revista da organização, intitulada ‘Keemat’.
Infelizmente, Kamala Sohonie faleceu em 1998, pouco depois de desmaiar durante uma cerimônia de reconhecimento realizada pelo Conselho Indiano de Pesquisa Médica (ICMR) em Nova Delhi.
No dia 18 de junho de 2023, o mecanismo de busca Google prestou homenagem a Kamala Sohonie com um Doodle em seu 112º aniversário de nascimento. Essa lembrança destacou sua contribuição significativa para a ciência e a sociedade ao longo de sua vida.
Conclusão
Kamala Sohonie foi uma figura notável na história da ciência e um exemplo inspirador para as mulheres em todo o mundo.
Sua coragem e determinação abriram portas para que outras mulheres ingressassem no campo da pesquisa científica em um período em que o preconceito de gênero era predominante.
Seu trabalho pioneiro na bioquímica e sua dedicação à segurança do consumidor deixaram um legado duradouro. Kamala Sohonie não apenas desafiou estereótipos, mas também contribuiu significativamente para o avanço da ciência e para a promoção dos direitos dos consumidores.
Sua vida e carreira são uma lembrança inspiradora de que as mulheres têm um papel crucial na construção do conhecimento e da sociedade.
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