A Lei de Jante foi criada pelo autor norueguês- dinamarquês, Aksel Sandemose, em seu romance “Um Refugiado Atravessa a Faixa”, de 1933, onde descreve a pequena cidade de Jante, cujo modelo foi inspirado em sua própria cidade natal, contudo, é típica de qualquer cidade pequena onde ninguém consegue permanecer anônimo. Claro que não é prerrogativa de cidades pequenas da Escandinávia, pois ela está em toda parte e é bastante cruel. Poderia facilmente ter outros nomes, como: “A hipocrisia dos que temem”, “O poder pelo controle velado”, “Segregacionismo”, entre outros.
Existem dez regras diferentes na Lei de Jante, mas todas elas são variações de um mesmo tema. Elas não são escritas, mas transmitidas oralmente através das gerações. As dez regras são geralmente tidas como uma unidade homogênea: Não pense que você é especial ou que você é melhor do que nós. As dez regras são:
- Não pensarás que és especial.
- Não pensarás que estás no mesmo patamar que nós.
- Não pensarás que és mais inteligente que nós.
- Não acreditarás que és melhor que nós.
- Não pensarás que sabes mais que nós.
- Não pensarás que és mais importante que nós.
- Não pensarás que és bom em alguma coisa.
- Não rirás de nós.
- Não pensarás que nós nos importamos contigo.
- Não pensarás que nos podes ensinar alguma coisa.
E não pense que ela é apenas um “conto” ou que acontece somente na remota, pequena e fictícia cidade nórdica de Jante. Ela está em toda parte e não tem fronteiras geográficas ou éticas. Ela se mescla entre o poder do Estado e a inata condição do ser humano em exercer seu poder ante o mais fraco.
A Lei de Jante está no controle do Estado sobre seu povo. E não é explicita. Por não estar escrita em nenhuma constituição. Está no inconsciente coletivo do poder. Está nas fronteiras territoriais e nas fronteiras do pensamento. É intrínseca ao ser humano. É uma regra praticada por todos em graus diferentes. Pelos países, de maneira velada em relação aos imigrantes, por exemplo.
Pelas fronteiras ideológicas que perseguem os que não rezam pela mesma cartilha – o que piora qualquer tentativa de defesa – uma vez que o cidadão não é formalmente acusado de nada, além de ser vítima de preconceito e de ficar marcado e relegado. Nada na vida de quem transgride a Lei de Jante, será como antes.
Esta regra levada ao extremo é o totalitarismo, a ditadura, a repressão, o comunismo, e todos os estados de exceção que oprimem o cidadão de sua livre expressão.
Há várias nuances na Lei de Jante, de acordo com os interesses de um país sobre o seu povo, da dinâmica dentro de uma empresa e até em um relacionamento mais estreito, dentro de uma pequena comunidade, por exemplo.
Mas infelizmente, ainda que houvesse um “tratado” entre as nações para banir esta regra, ela ainda assim permaneceria; não imposta pelo poder do Estado, mas pelo poder do mais forte. Da condição natural que dota o ser humano com maior ou menor capacidade de dominação sobre o outro.
No âmbito das relações sociais, uns são naturalmente mais dominantes que outros e na maioria das vezes, não propositalmente, são apenas líderes natos, sem que isso – a princípio – constitua um atributo de qualidade ou de defeito, do mesmo modo em que outros são também naturalmente mais submissos, ou predispostos a ceder com mais facilidade. Assim, sempre haverá certa desigualdade entre nós, mesmo que não imposta por qualquer tipo de poder legislativo, executivo ou judiciário; tampouco por nenhum bem intencionado Estado de Direito.
É essa nuance na desigualdade de personalidades individuais, que traz o equilíbrio de uma unidade comunitária. Imagine se todos fossem submissos ou dominantes? A vida em sociedade seria inviável nos modelos que conhecemos hoje.
Contudo, apesar de termos levado milênios para chegar ao que somos hoje como civilização, ela, a Lei de Jante, ainda está em nós. Ser naturalmente um líder nato ou um passive nato, só pode e deve ser aceito se for uma característica inata e ao ser humano, assim como tantas que carregamos quando nascemos. Mas quando imposta, é muito perigosa. Seus alicerces são o preconceito, – fruto do medo – a inveja e a prepotência cega. Cabe a nós, apenas, estarmos sempre atentos para não cairmos na tentação de exercê-la ou sermos vítimas dela.