Tenho 3 vasos grandes de Flor de Maio, e elas são como cactos sem graça e quase sem vida, que parecem iguais durante 11 meses.
Geralmente em Abril, mostram-se diferentes, e seus delicados botões começam a aparecer nas pontas de cada uma dessas folhinhas verdes. Elas florescem somente em Maio de cada ano.
Assim como a passagem do ano novo ou o aniversário, para algumas pessoas, elas são um marco de vida para mim… A vida tenta cutucar de diversas maneiras, e cada um sente-se sensibilizado por lembranças ou construções: sejam as águas de março, fechando o verão; seja o Natal… basta que esteja aberto a fazer esse movimento de absorver o que a vida mostra, e voltar-se para si, entendendo de onde vem, e para onde está indo.
Eu, por exemplo, por causa da Flor de Maio, sei exatamente como eu estava em maio do ano passado, e retrasado, e antes, e antes; ao olhar os botões e as flores nesse mesmo mês…
Há 10 anos cuido de um mesmo vaso; e embora ele esteja quase igual todo esse tempo, suas flores tem um impacto diferente em mim, a cada ano.
Cada botão da Flor de Maio soa como uma provocação bem sutil: o que você tem feito ao longo do ano? Como foi sua preparação até aqui? O que está prestes a florescer em você?
É como ver alguém terminar a faculdade e pensar no que eu estava fazendo ao longo desses anos. Ou como notar alguém, que cuidou da saúde, do corpo, enquanto eu não cumpri com meus combinados comigo mesma… é como se o tempo desse uma situada em mim, a cada Flor de Maio, que diz, no silêncio de sua aparição: “ainda em voltas com isso? Ainda essa preocupação?”… ou o contrário: coisas que pareciam tão importantes, simplesmente nem existem mais. “Viu, só? Passou!” E as flores celebram isso- a constante dinâmica e movimentação da vida.
Isso porque elas sacodem com doçura meus planos e impulsos para fazer.
Fazer logo, agir rápido; pois sinalizam que mesmo estando ali, quase inertes, sempre estiveram em vida- cumprindo sua missão de gritar em explosões de cores e texturas, que maio já é o mês 05!
É como se eu mal tivesse começado o ano, e de repente – como hoje- vejo que já existem muitos botões sendo preparados pela natureza, para desabrocharem em flores, como que concretizando um objetivo, uma programação.
As Flores de Maio obrigam-me a pensar como esse mês é diferente a cada ano pra mim; ou melhor: como eu sou diferente a cada Maio.
A cada ciclo florido, sou mais conhecedora de mim; das minhas vontades e minhas desistências. Enxergo e valorizo de um novo jeito, o esforço de sobreviver na plenitude e leveza, mais um ano. Sei melhor sobre cada parte minha (as que mostro, e as que escondo). Das minhas fraquezas, e por isso tento respeitar mais meus limites e meus exageros. A cada Maio, descubro que o quase igual nunca é exatamente o mesmo.
Quando minhas flores aparecem, sempre mostro para algumas pessoas. Talvez você já tenha ouvido eu falar delas, como se fossem uma novidade indescritível, um presente especial. E são… são a fotografia de que nada se esgota naquilo que parece ser!
Há propósito em tudo. Na roda cíclica da vida, nos nascimentos e mortes que são constantes em cada um de nós; por escolhas ou por circunstâncias.
É como se eu quisesse compartilhar o que nasce em mim junto com as flores: a ideia de que tudo tem seu tempo e acontece como deve ser. Mesmo que eu as regue, converse, e crie as melhores condições para que floresçam…. elas não o farão, se não for a hora disso acontecer.
Elas ajudam a entender que a alegria e o sorriso nascem das vitórias de todos os dias. Mesmo que a vitória seja apenas a de sobreviver ou existir – é ainda assim, uma vitória.
Que elas continuam vivas e fortes, seguindo para o que deve ser; por mais que sejam cactos sem vida alguma, durante a maior parte do tempo.
Mesmo que tudo mostre-se seco ou inerte; há um registro e uma fonte inesgotável de possibilidade e paz; que está dentro de nós mesmos.
E ainda que a vida pareça arrastar-se dia após dia, sem tantas novidades, conquistas ou aventuras; há algo sublime sempre acontecendo, sempre pronto a florescer.
As flores delicadas que se abrem em maio, são consequência para mim, de toda a reflexão sobre mais uma vez, ter a oportunidade de fazer diferente: aproveitar a vida, contemplar a beleza do mundo, acolher os aprendizados com a responsabilidade da evolução.
Ajudam-me a tentar devolver um olhar de pureza para a vida, essa que está contida e latente, mas que existe em algum lugar, florescendo, dentro de cada um de nós.
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