Você me olhou, sorriu e me puxou. Eu pensei então que amar era transcender lugares olhando dentro dos seus olhos. Eu pensei que o amor morava dentro do seu sorriso, ao lado da pinta na orelha que você tem ou por entre seus dedos quando você me segurava pela mão. Em uma sequência de brigas, eu nunca ousei pedir a separação. Eu realmente entendi que o amor morava em seu sorriso, nos seus olhos e, também, por entre seus dedos.
Eu entendi que era amor até mesmo no dia que você foi embora com aquela mala de couro preto meio desarrumada e mofada, mas dizendo que era melhor você fazer aquilo. E aí eu vi o amor escorrendo por entre os meus dedos, fechando meus lábios e me fazendo parar de sorrir. É amor até quando você aparece em meus sonhos, anos depois.
Você me olhou, atravessou a rua e virou o rosto. Eu pensei então que amar era ultrapassar os lugares e sentir uma fisgada na alma, porque, naquele dia, o chão saiu dos meus pés. O coração bateu mais forte. E, lá no fundo, doeu. Eu olhei por mais uma ou duas vezes, coloquei a mão na testa como naqueles filmes de cinema que a mocinha desmaia e respirei fundo. O chão não havia voltado. A noção de tempo e espaço havia sido perdida.
Era você. Era amor.
Hoje, quando eu olho para aquela porta, eu ainda consigo te ver chegando do trabalho, largando a mochila na cama e reclamando do seu chefe. Eu ainda ouço o som da sua gargalhada – e morro de medo, todos os dias, de esquecer a parte mais bonita que há em você. Eu ainda transcendo lugares quando lembro de ti. Eu ainda sinto minha mão suar quando lembro do seu cheiro. Eu ainda sinto você, ao meu lado na cama, quando aparece em meus sonhos.
Depois desses anos todos, eu realmente entendi que o amor vive em mim porque você ainda está aqui. E acredito fielmente que ainda vai demorar a se despedir, porque todos os dias eu lembro de nós dois. Com a mesma força, na mesma proporção. Ainda é como se você transcendesse lugares comigo. Ainda é como se você gargalhasse para mim. Ainda é como se você segurasse por entre meus dedos. Meu amor, ainda é.