Você já reparou que os comissários de bordo costumam sentar sobre as mãos durante decolagens e pousos? O gesto, aparentemente curioso e até estranho para quem observa, não tem nada de aleatório.
Trata-se de uma técnica de segurança cuidadosamente adotada por tripulantes em momentos considerados os mais críticos de um voo. Embora o ato possa passar despercebido pelos passageiros, ele faz parte de um protocolo rigoroso da aviação civil, voltado à proteção da tripulação e, indiretamente, dos próprios passageiros.
Essa prática faz parte da chamada “posição de brace” (ou “brace position”), uma postura preventiva que os comissários adotam em fases específicas do voo — principalmente durante o taxiamento, a decolagem e a aterrissagem.
Essas etapas concentram a maior parte dos acidentes aéreos, de acordo com estudos do setor. Segundo a Aviation Safety Network, aproximadamente 61% dos acidentes ocorrem justamente nesses momentos, o que justifica a importância de medidas de segurança redobradas.
A posição dos comissários é muito mais do que uma formalidade: é uma estratégia pensada para proteger o corpo e manter a equipe preparada para agir em segundos, caso algo saia do esperado. E sentar sobre as mãos é uma peça essencial nesse sistema.
A importância da posição de segurança
Quando os comissários se posicionam em seus assentos — geralmente localizados na galley (área de serviço) ou próximos às saídas de emergência —, eles seguem um protocolo preciso.
Primeiro, ajustam e afivelam corretamente o cinto de segurança. Depois, mantêm a coluna ereta, os pés firmemente apoiados no chão e… sentam sobre as mãos, com as palmas voltadas para cima.
Henny Lim, comissária da companhia Cebu Pacific, nas Filipinas, explica que essa postura rígida tem uma razão técnica:
Se houver uma colisão, braços e pernas soltos podem se chocar contra objetos ou sofrer fraturas. Ao restringir os movimentos, protegemos a coluna e as articulações detalha
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Essa preparação faz parte de treinamentos intensivos realizados periodicamente com toda a tripulação, de acordo com normas internacionais da aviação civil.
A biomecânica por trás da posição
Mas por que sentar especificamente sobre as mãos? A explicação está na biomecânica. Ao manter as mãos presas sob as coxas, os braços ficam naturalmente imobilizados. Isso impede que se projetem para frente em caso de impacto, minimizando o risco de lesões graves.
Além disso, essa postura contribui para o alinhamento do centro de gravidade, favorecendo o equilíbrio corporal.
É uma forma simples, mas eficaz, de preparar o corpo para suportar um impacto, mantendo a estabilidade e protegendo as áreas mais vulneráveis explica Anusha Pratima, outra comissária que compartilhou detalhes da técnica em um fórum de profissionais da aviação
Segundo ela, algumas companhias aéreas adotam variações, como o apoio das mãos sobre o colo, mas muitas tripulantes ainda preferem o método tradicional — não só por segurança, mas também porque ajuda a manter as mãos aquecidas em cabines frias.
Posição dos passageiros em situações de emergência
Já para os passageiros, a posição de brace é diferente. Em caso de emergência, a recomendação geral é inclinar o tronco para frente, apoiar a cabeça no assento à frente e colocar as mãos ao lado do rosto.
Como os assentos da tripulação não têm encosto frontal, a adaptação da postura faz sentido e segue o mesmo princípio: reduzir o impacto e proteger regiões vitais.
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A razão para essa distinção está no design da cabine e na função de cada pessoa a bordo. Os comissários, além de se protegerem, precisam estar prontos para liderar evacuações e prestar socorro imediato. Por isso, seu posicionamento deve equilibrar segurança e funcionalidade.
Prevenção em fases críticas
Decolagens e pousos representam os períodos mais delicados de um voo, com maior probabilidade de incidentes. Portanto, todo o comportamento da tripulação nessas etapas segue protocolos detalhados. O ato de sentar sobre as mãos é, na verdade, uma expressão prática da eficiência e do treinamento da aviação moderna.
Inclusive, essa postura não é exclusiva de humanos: em testes de impacto realizados com manequins, a adoção da posição de brace demonstrou redução significativa em lesões, o que comprova sua eficácia técnica.
Assim, da próxima vez que você embarcar e observar os comissários sentados sobre as mãos, lembre-se: aquele pequeno gesto é um componente vital de um sistema de segurança pensado para proteger vidas — discretamente, mas com extrema eficiência.