O estudante de psicologia João Luiz Marques, que produz conteúdo sobre masculinidades, acabou tocando em um ponto sensível para as mulheres: a higiene dos homens.
Nos últimos 14 anos, o Ministério da Saúde acompanhou o aumento de 1.604% no número de amputações penianas causadas, em sua maioria, por um fator: a falta de higiene íntima. A principal causa que leva à amputação é o câncer no órgão, e a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) aponta que, anualmente, acontecem em média 515 cirurgias do tipo no país.
Uma publicação, com cerca de 38 mil curtidas no Instagram, feita pelo estudante de psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), João Luiz Marques, escancarou a relação entre a masculinidade tóxica e a completa falta de higiene dos homens. Com conteúdo voltado para as masculinidades, o jovem se surpreendeu com a quantidade de seguidoras que já experienciaram situações similares em suas relações.
O texto recebeu o nome de: “Sobre a (falta de) higiene de muitos homens – um filme de terror chamado masculinidade tóxica extremamente afirmada”. Foram muitas as mulheres que sentiram tocadas pelo tema, não por passar por situações similares, mas por enxergar em parceiros ou ex-parceiros o retrato da ausência de cuidados básicos.
João Luiz conta em sua postagem que recebeu incontáveis casos de homens que não cuidavam do mínimo da higiene pessoal, como escovar os dentes, tomar banho e lavar o próprio pênis. Tecendo uma linha entre os relatos das mulheres e o comportamento dos rapazes como uma “afirmação de poder” e até mesmo “prova de masculinidade”, o estudante narrou a deterioração das relações afetivas, que podem incluir também as mães na equação.
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Para quem leu os casos narrados por João, dizer que eram “histórias de terror” pode ser considerado até um jeito simples de abordar a questão. Alguns homens não lavavam as partes íntimas, outros não escovavam os dentes e ainda havia os que só faziam qualquer asseio pessoal se as companheiras ou as mães pedissem que o fizessem, mesmo sendo adultos.
Afirmação de poder
Em um dos relatos, um homem fazia questão de ejacular todas as vezes depois de se masturbar em uma parede, no mesmo local, e sempre deixava o líquido escorrendo na parede. A mulher, que era companheira do rapaz, conta que ele sempre deixava a parede suja, e uma grande mancha que não saía de nenhum jeito se formou na parede. Sempre que mencionava o nojo que sentia, era chamada de chata, julgada como inconveniente. A família do rapaz precisou refazer a parede, mas manteve o “hábito”, passando a ejacular no chão e deixando sujo do mesmo jeito.
Sobre esse caso bizarro, em que provavelmente era a mãe quem sempre limpava o local, João explica que existem vários pontos a serem considerados. O primeiro deles é que o desleixo é um direito adquirido pelo homem branco, e que as mulheres precisam sempre estar impecáveis, com roupas bonitas, cheirosas e sem pelos. Na maioria das vezes, as mães desses homens passam para as noras o “dever” de cuidar do asseio desses homens completamente infantilizados.
Veja bem, a culpa de os homens serem dessa forma não está nas mães, mas no comportamento de uma forma geral da própria sociedade. Mesmo que as companheiras desses rapazes passem a incentivar a higiene e a limpeza dos espaços, acabam esbarrando sempre na completa ausência de asseio, ocupando uma posição de chatas e exigentes. Mas João explica que esse comportamento não é apenas uma infantilização, mas uma demonstração de domínio, como se dissessem: “Você é mulher e nasceu para me servir, você vai limpar meu quarto, minha casa, me servir e vai me querer limpo ou sujo”.
Degradação das relações
João ainda explora outro ponto importante, explicando que, em muitos casos, os homens usam esse comportamento também para degradar a relação por meio do nojo. Para não precisar enfrentar um debate ou discussão, eles se comportam como “covardes” ou se tornam completamente indisponíveis.
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Esse comportamento acompanha a lógica da vivência infantilizada, isso porque eles não são obrigados a enfrentar decisões pessoais, nem sequer precisam saber o momento exato em que precisam cuidar da própria higiene. Mas a ausência de asseio também representa uma afirmação de masculinidade incentivada pela comunidade.
Uma busca rápida na internet é capaz de mostrar quantos homens acreditam que lavar a região do ânus seja sinônimo de querer manter relações anais. Ou seja, eles preferem manter o corpo exposto a inúmeras bactérias a deixar que os outros homens pensem que querem manter relações homossexuais.
Esse ponto sobre sexualidade explora outra questão importante: a prática sexual não está relacionada à orientação sexual, assim como a higiene não pode ser relacionada a nenhum outro fator primordial que não o simples asseio. Ele faz um alerta para o fato de que, em pleno 2022, ainda seja necessário alertar homens adultos sobre higiene básica, mas que não devemos nos esquecer da masculinidade tóxica por trás disso.