Como romântica inveterada que sou, às vezes, andando pelas ruas e vendo alguns casais, eu me pergunto em pensamento: Será que esse casamento é de alma ou apenas de “papel passado”?
Eu tenho essa curiosidade que, confesso, não sei de onde surgiu. Aliás, acho que sei, sim. É de tanto ouvir histórias sobre um amor que surgiu lá no passado e que até hoje faz morada no coração de algumas pessoas.
São histórias que me causam arrepios e que me inspiram poesias, e em alguns casos, me dão até um nó na garganta.
São os casamentos de alma, amores genuínos, tão fortes , intensos e marcantes que nada nem ninguém conseguiu anulá-los.
E por esse mundão de meu Deus, existem muitos casais constituídos ilegalmente, considerando que, apesar de terem feito tudo como manda o figurino, de terem assinado um contrato no cartório mediante testemunhos e tal, falta, nesses matrimônios, a aliança de alma, aquele casamento que dispensa testemunhas, assinatura num grande livro e aliança no dedo anelar esquerdo, eu falo de um amor que nasce quando duas almas se acariciam com um olhar, causando um arrepio na pele, mesmo sem acontecer um toque físico.
Falo de um amor que pode ter surgindo na puberdade, falo de uma “casamento” que aconteceu em 1992, numa cidade do leste mineiro, ah, Minas Gerais como tu és linda e poética! Os noivos: uma menina de 12 anos, com olhos vivos e covinha no queixo e um menino de 13 anos, de pele bem clarinha, desses que fica bem vermelhinho ao sol.
Eles moravam na mesma rua, suas casas ficavam em frente uma da outra. a dela na parte alta da rua, a dele, na parte baixa.
E todos as tardes, pontualmente, lá estava o garoto em cima do pé de manga contemplando a beleza da sua amada, que ficava sempre na sala da casa dela. A janela branca era testemunha desse amor e dos corações saltitantes, as borboletas faziam festa no estômago dos dois, o que parecia ser uma bobagem de criança, tornou-se um amor que nada, nem ninguém conseguiria anular.
Eles seguiram rumos diferentes pela vida, mas suas almas sempre estiveram conectadas, nunca houve um beijo sequer, os carinhos só aconteciam e ainda acontecem, na imaginação de ambos. Eles se pertencem, isso é fato, embora não tenham condições de materializar esse amor, ao menos por enquanto. Eles se amam, eles se conhecem, eles se completam. Eles possuem tudo o que o outro precisa, mas ainda não podem usufruir dessa dádiva.
Quem sabe um dia as coisas se ajeitam e esse amor ganha materialidade, quem sabe um dia, eles entreguem um ao outro, todos os beijos que ficaram retidos, quem sabe um dia eles confessem todos os “eu te amo” que ficaram entalados na garganta, aos prantos e às gargalhadas.
Quem sabe um dia eles confessem, um para o outro, que o primeiro pensamento ao acordar e o último antes de pegar no sono. Quem sabe um dia eles ainda vivam a lua de mel que ficou pendente e esse casamento que foi sacramentado tendo como testemunha apenas a pureza de dois jovens e como juiz de direito, o amor.
Quem sabe um dia, eles ainda cantarolem a música que marcou esse amor: “é tanto amor, é tanta paixão, te amo do fundo do meu coração”(Leandro e Leonardo).
Suas almas são casadas e, para esse regime de casamento, ainda não inventaram nenhuma lei que o anule.
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