Eu sou essa bagunça, essa mistura de timidez, intensidade, sensibilidade e paixão. Eu não sei sentir nada pela metade, eu me jogo com tudo, é a minha forma de existir nesse universo.
Eu pago um preço por ser intensa, e o ônus é alto! Desde que me entendo por gente, me percebo julgada, criticada, hostilizada e, até mesmo, ridicularizada. Constantemente, experimento a sensação de pertencer a outro planeta e isso me arranca lágrimas.
Escrever sobre isso contribui com a organização desse emaranhado de sensações e sentimentos tão aguçados, mas, por favor, poupe-me do seu diagnóstico, eu não sou uma mulher perturbada, eu apenas sinto demais, sou muito à flor da pele.
Eu ainda não me acostumei com os olhares de reprovação em alguns contextos, como ocorre de vez em quando, de eu não conseguir conter as lágrimas durante o atendimento em determinadas ocorrências como Bombeira. Sim, acontece, por mais profissional que eu seja, e mesmo tendo 23 anos de profissão, eu capto a dor e a angústia alheia, e me permito chorar. Isso não me torna menos profissional que ninguém.
Às vezes, eu me esforço para conter a vontade de abraçar pessoas que despertam algum encanto em mim, seja num balcão de aeroporto, seja num caixa de supermercado, seja quando ouço um relato de alguém que superou uma dificuldade… eu sinto vontade de agradecer ou parabenizar abraçando.
Mas, daí me lembro que isso não é ‘normal’, em nossa sociedade, os abraços andam cada vez mais raros, então, abraço apenas mentalmente.
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Eu sou aquela mulher que tem dificuldade em modular a altura da risada. Quando o riso vem, é de dentro para fora, e já vi muita gente me olhando como se eu fosse louca por isso. Quando o meu namorado me conta algo, eu fico namorando o semblante dele, e me encanto com cada detalhe, como se fosse a primeira vez, e, quase sempre, eu o interrompo com beijos, carinhos e afagos. Ele ama isso, mas esse comportamento eu reprimia com outros parceiros porque não me sentia confortável.
Eu me arrepio ouvindo músicas, choro vendo filmes e olhando fotografias antigas. Quando me entristeço, olho a tristeza nos olhos, não tento fugir dela pois sei que ela está me mostrando algo. Aprendi que ignorar uma tristeza é dar a ela a permissão para voltar mais depois, sem data para ir embora.
Eu sou essa bagunça, essa mistura de timidez, intensidade, sensibilidade e paixão. Eu não sei sentir nada pela metade, eu me jogo com tudo, é a minha forma de existir nesse universo.
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