Muitas pessoas se perguntam se o poder é capaz de corromper quem é de bem, ou se os sentimentos corruptíveis já fazem parte de cada um.
Quando alcançamos um patamar elevado na sociedade, é natural transformar a hierarquia em formas de controle e manifestações sociais para conseguir ainda mais poder? Durante muitos anos, especialistas, filósofos, antropólogos e profissionais de diversas áreas estão justamente em busca dessas respostas, mas será que é possível chegar a um denominador comum?
Em uma sociedade capitalista, a facilidade de se deixar corromper em troca de poder, controle e dinheiro existe e é quase palpável. São muitos os casos expostos na mídia de famosos, políticos e outras celebridades que foram flagradas em algum esquema ilícito ou cometeram crimes de alguma magnitude.
Em um tema tão abstrato quanto esse, trazemos à tona três grandes figuras de destaque no Brasil no campo religioso: Flordelis, padre Robson e João de Deus. A complexidade emblemática de cada um dos casos em questão cria a necessidade de explicar cada um deles com um pouco mais de paciência, já que eles podem ter pontos em comum, mas também possuem dezenas de questões que não podem ser comparadas.
De acordo com o Correio Braziliense, o padre Robson é investigado desde 2019 pelo Ministério Público do Estado de Goiás (MP/GO), que apurou algumas irregularidades nas contas da Associação dos Filhos do Divino Pai Eterno (Afipe), presidida na época por ele. O MP descobriu que se tratava de um grande esquema de corrupção, onde cerca de R$ 100 milhões foram desviados da instituição para comprar fazendas, casas de praia e até um avião.
O jornal O Globo relata que o caso Flordelis também teve início em 2019, quando o pastor Anderson do Carmo de Souza, marido da ex-deputada, foi assassinado na garagem da própria casa. Ré em dois processos que correm simultaneamente, ela foi indiciada como a mandante do crime, e é a única da complexa teia familiar a cumprir pena em prisão domiciliar.
Casada com um homem que já tinha sido seu genro e mãe de mais de 50 filhos, a maioria afetivos, seu caso ganhou notoriedade na mídia quando um enredo de traições, mentiras e abusos se tornou público.
Segundo o Metrópoles, o caso de João de Deus caiu na mídia em dezembro de 2018, quando 320 vítimas foram a público denunciar o médium por abusos sexuais e estupros. Denunciado 15 vezes pelo Ministério Público por crimes sexuais, João já foi condenado em quatro, por fatos cometidos contra 14 mulheres. Além disso, ele já foi condenado por posse ilegal de arma, violação sexual mediante fraude, estupro e estupro de vulnerável.
O que essas três pessoas têm em comum? A veia religiosa, claro. O padre Robson era presidente da Afipe, Flordelis, na época do assassinato do marido, controlava oito templos evangélicos e João de Deus era considerado um dos maiores médiuns do mundo, tendo uma grande casa em Abadiânia, no interior de Goiás, onde realizava suas curas espirituais.
Longe de querer afirmar que os três se tornaram maus porque têm a religião como ponto de partida, mas sim ressaltar que eles passaram a ter muito poder ao longo de suas trajetórias profissionais. Nem todas as pessoas são capazes de lidar com cargos no topo hierárquico, algumas querem desfrutar de escolhas que não são permitidas apenas porque acreditam que nunca serão pegas.
Outro ponto em comum é que, além de deter o poder, os três queriam mantê-lo em suas mãos, e esse fascínio por posições de destaque facilita o processo de corrupção. Esse excesso de domínio de outras pessoas também pode facilmente fazer com que o desejo de controlar mais, de oprimir mais e de excluir mais seja recorrente.
Mas, e todas as pessoas que estiveram em cargos de destaque e de poder e não se corromperam, como explicar?
Alguns especialistas, como o psicanalista Fabio Herrmann, defendem que o poder não corrompe, apenas revela quem é quem. Para ele, o poder é apenas capaz de colocar em evidência aquilo que já existia no interior de cada um, inclusive explicando que só chega a posições de destaque e de opressão aqueles que realmente desejam isso, o que mostra certa obsessão latente.
É claro que existem inúmeros outros fatores que podem, sim, contribuir para que corruptíveis e corruptores sejam como são. Traumas, pobreza, acesso, solidão, e uma infinidade de outras categorizações, mas é importante ressaltar que esses fatores externos podem, em alguns casos, também existir intencionalmente.