Chegamos, oficialmente, à fase do “Pai, que vergonha!”. Não é simples para aqueles pais mais apegados. Sempre brinquei nos meus livros, em especial no Pai de Menina, dizendo que a única mulher que vai te olhar com olhos de admiração inabalável, que vai aceitar todas as suas teorias e explicações como incontestáveis e que vai te enaltecer, louvar, bendizer e se apegar, sem o mínimo questionamento, é sua filha. Mas apenas durante a primeira infância. É a única fase da vida de um homem em que ele realmente tem a chance de ser “o homem perfeito”.
Porém, vamos à etapa que lentamente se instala depois disso: o início da adolescência. É quando a menina está buscando independência e autonomia psicológica e, para isso, precisa se destacar do pai. Sem contar que, no corpo da sua filha, estão acontecendo mudanças constantes e abruptas, ao mesmo tempo em que – em muitas situações – ela ainda se sente a princesa do papai. Ou seja… Dá um tremendo nó mental. Definitivamente, dá para dizer que não é fácil para ninguém.
Os pais e mães que vivem essa fase dos filhos, como eu, devem sentir uma certa “raivinha”. Sim, porque, agora, qualquer amigo que entra em casa ganha mais atenção, simpatia e interesse do que você. Qualquer série, vídeo, chat são mais atrativos do que tudo aquilo que vocês costumavam fazer juntos. A impressão que dá é que os adolescentes fazem questão de guardar o pior para os pais, não é? Pausa para rir de nervoso. Mas não é bem assim. Na verdade, isso também faz parte da busca pela identidade própria, do entendimento de como e de quem eles serão de agora em diante, sem os pais para guiar e escolher tudo por eles.
É hora de confiar em toda a educação da primeira infância, de torcer para que seus ensinamentos e valores tenham entrado na cabeça das crianças. Afinal, nós, pais, pegamos a tela em branco e começamos a desenhar caráter, índole, visões e tudo o mais. A planta dessa construção é nossa! Agora, se você não edificou uma estrutura muito sólida e só está percebendo isso depois da chegada da adolescência, provavelmente, vai ser mais difícil. Então, se os seus filhos ainda são pequenos e ainda ouvem atentamente tudo o que você diz, dedique-se e não deixe passar a chance diária de instalar esse alicerce.
E a minha dica: chega um momento em que a narrativa tem de passar a ser deles. Não é mais apenas sobre o que o pai e a mãe pensam. É necessário respeitar o espaço dos seus filhos e a perspectiva deles, em vez de projetar a sua história neles, de não querer que eles calcem nossos sapatos para ser quem nós queremos que sejam. Nós, sim, precisamos calçar os sapatos deles, pois não é fácil ser adolescente. Muito menos em tempos de redes sociais e pandemia. Aliás, que combo! Mas isso já é papo para outro texto.
![Marcos Mion: "Precisamos respeitar o espaço dos nossos filhos e a perspectiva deles, em vez de projetar a nossa história neles"](https://osegredo.com.br/wp-content/uploads/2021/12/254957321_565281121243567_8034221246333900058_n-400x400.jpg)