A mídia e diversos órgãos ucranianos têm denunciado as ações russas, acusando o país de “sequestrar” crianças em seu território.
O conflito armado entre a Rússia e a Ucrânia, que teve início em 24 de fevereiro deste ano, já causou a morte de cerca de três mil civis, segundo informações do Global Conflict Tracker. As Nações Unidas ainda apontam que aproximadamente sete milhões de ucranianos foram forçados a se deslocarem internamente, e outros cinco milhões se tornaram refugiados em países vizinhos.
Recentemente, uma reportagem do Yahoo! apontou que o exército russo teria retirado cerca de 108 crianças ucranianas órfãs de Donetsk Oblast, levando-as para a Rússia, onde supostamente elas seriam adotadas. A informação foi publicada pela Ombudsman da Federação Russa, Maria Lvova-Belova, através de uma rede social, no dia 14 de julho.
De acordo com ela, as crianças ucranianas estavam em orfanatos, e sequer sabiam que tinham irmãos, já que tinham sido separados pela instituição do país. Porém, famílias russas estariam dispostas a “acolher cinco, sete, nove filhos”, crianças com deficiência, recebendo alimentação adequada. A profissional mencionou 13 crianças que estavam indo para a Rússia, 19 que já estavam no país, e que, no total, 108 órfãs receberiam cidadania russa até o fim da semana em questão.
As crianças teriam entre cinco e 16 anos, e receberiam cidadania russa com rapidez, facilitando os processos de adoção no país posteriormente. As crianças mencionadas por Lvova-Belova estavam sendo levadas primeiro para Moscou, onde ficariam famílias provisórias até a documentação oficial da adoção sair, sendo levadas para seis regiões diferentes.
A chefe do Departamento de Custódia Juvenil do Departamento de Trabalho e Proteção Social de Moscou, Elena Zaytseva, compartilhou a publicação da Ombudsman da Federação Russa, e comentou que as crianças agora eram deles. “Nossos filhos se conheceram. Agora eles são nossos. Graças às nossas famílias, vocês são nossos heróis”, escreveu.
O Ukraine Crisis Media Center (UCMC) relatou que mais de 223 mil ucranianos teriam sido levados à força para a Rússia desde o início do conflito, sendo que mais de duas mil seriam crianças. A ONG denunciou que as crianças e adolescentes seriam privadas de cuidados nas regiões de Luhansk e Donetsk, sendo levadas para Moscou, Leningrado, Omsk e Vladimir, em solo russo.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, assinou um decreto que facilita o procedimento de obtenção de cidadania russa para órfãos ucranianos ou crianças que teriam sido supostamente privadas dos cuidados parentais. O documento foi publicado pela agência de notícias RIA-Novosti, junto com o Kremlim.
Órfãos, crianças e adolescentes ucranianos que ficaram sem cuidados parentais, ou qualquer pessoa sem capacidade legal, podem adquirir cidadania russa de um jeito bem mais simplificado. Guardiões ou organizações poderão solicitar a cidadania russa para crianças que estão nos oblasts temporariamente ocupados de Donetsk, Luhansk, Zaporizhzhia e Kherson.
O decreto de Putin também determina quem pode se inscrever o guardião ou guardiã da criança, se forem cidadãos da Federação Russa, Ucrânia ou residentes das áreas ocupadas de Donetsk e Luhansk; o chefe da organização para órfãos e crianças deixadas sem cuidados parentais localizados no território de CADLR (áreas temporariamente ocupadas das regiões de Donetsk e Luhansk) ou Zaporizhzhia ou Kherson Oblasts, se a criança foi colocada sob os cuidados de tal organização; e o chefe da autoridade tutelar que atua como tutor ou guardião da criança.