O impasse entre Joyce e Lionel acabou fazendo com que o corpo do serial killer tivesse outro fim, o caso foi revelado na série da Netflix.
A série “Dahmer: Um Canibal Americano” conquistou o público, ainda que de maneiras estranhas, e a história de um dos seriais killers mais conhecidos da história dos Estados Unidos segue sendo esmiuçada na mídia internacional. O true crime além de agradar aos espectadores da Netflix, mostrou que o segmento é muito buscado atualmente, com filmes e outras produções na maioria dos serviços de streaming.
Sempre que casos de crimes reais ganham uma narrativa audiovisual, os espectadores ficam curiosos em desvendar quais partes são reais e quais foram romantizadas pelos produtores e diretores das tramas. No caso de Dahmer, a maioria aponta que a história é muito parecida com a verdadeira, o que causa ainda mais receio, principalmente por conta dos gatilhos que podem ser desencadeados.
Para aqueles que ficaram curiosos em saber se a discussão entre Joyce Flint e Lionel Dahmer, pais de Jeffrey Dahmer, sobre o que fazer com o corpo do filho depois do seu assassinato – incluindo o cérebro – é real ou não, saibam que sim. Segundo reportagem do dia 03/08/1995 do The New York Times, a mãe queria que o cérebro fosse examinado por cientistas, para conseguir determinar se ele tinha sido influenciado por fatores biológicos.
Na época, o legista do condado de Columbia, Keith Epps, disse ao jornal que Lionel, por sua vez, queria apenas “deixar tudo para trás”, sem autorizar que o cérebro do filho fosse analisado por estudiosos. O impasse acabou fazendo com que todo o corpo de Dahmer (incluindo o cérebro) fosse cremado, sendo as cinzas divididas entre os pais.
O serial killer morreu no dia 28 de novembro de 1994, mas seu corpo permaneceu sendo preservado por quase um ano até que os pais decidissem o que fazer, mas como não chegaram a um acordo, a tentativa acabou não indo para frente. Antes do julgamento de Dahmer, em 1991, um dos psiquiatras que testemunharam pela promotoria, George B. Palermo, chegou a receber autorização do juiz Laurence C. Gram Jr. para escanear o cérebro do criminoso.
Uma reportagem de 11 de novembro de 1991, do jornal The New York Times, explica que o psiquiatra tinha ainda pedido que um “teste psicológico completo deveria ser feito, juntamente com varreduras eletrônicas do cérebro e uma análise cromossômica para fornecer um relatório médico-psiquiátrico objetivo.”
Considerações médicas no julgamento de Jeffrey Dahmer
O julgamento de Dahmer começou no fim de janeiro de 1992, e como tinha assumido os assassinatos, a defesa e a promotoria apenas queriam definir se ele sofria de alguma doença mental ou de personalidade. Os advogados do serial killer se ocuparam em mostrar, com psiquiatras e outros profissionais, que o cliente sofria de sérias doenças mentais, e que não poderia ser considerado são no momento em que cometeu os crimes.
A defesa apresentou laudos de três especialistas: o Dr. Fred Berlin alegou que Dahmer não poderia modificar sua conduta no momento dos assassinatos porque sofria de diversas parafilias, sendo a necrofilia a principal delas; a professora de psiquiatria e psicologia, Dra. Judith Becker, também alegou que ele sofria de necrofilia; e, por fim, o psiquiatra forense, Dr. Carl Wahlstrom alegou que Dahmer tinha transtorno de personalidade borderline, transtorno de personalidade esquizotípico, necrofilia, dependência de álcool e distúrbio psicótico.
A promotoria, por sua vez, queria recusar a todo custo que Dahmer não poderia ser considerado são no momento em que cometeu seus crimes, caso contrário ele seria mandado para uma instituição de saúde mental, e não para a prisão, podendo também ter a pena reduzida. O psiquiatra forense Dr. Phillip Resnick alegou que o réu não sofria de necrofilia primária, isso porque tinha preferência por parceiros sexuais vivos; o Dr. Fred Fosdel alegou que, no momento em que cometeu os assassinatos, Dahmer não sofria de nenhuma doença mental, e ainda o descreveu como “calculista e astuto”, sabendo muito bem diferenciar o certo do errado.
Fosdel chegou a declarar que Dahmer sofria de parafilia, mas que não era sádico como muitos imaginavam ou declararam. O último a testemunhar pela promotoria foi o psiquiatra forense Dr. Park Dietz, que alegou que o réu não sofria de nenhum distúrbio no momento dos assassinatos, isso porque sempre se esforçava ao máximo para não ter nenhuma testemunha no local, além de se preparar com antecedência para cada um deles, alegando que os crimes não eram impulsivos, e sim planejados. Ele acreditava que o acusado sofria de transtorno por uso de substâncias, parafilia e transtorno de personalidade esquizotípica.
O tribunal ainda nomeou dois profissionais da área para testemunhar de maneira independente, o psiquiatra forense George Palermo e o psicólogo clínico Samuel Friedman. O primeiro alegou que os assassinatos foram resultado de uma “agressão reprimida dentro de si. Ele matou aqueles homens porque queria matar a fonte de sua atração homossexual por eles. Ao matá-los, ele matou o que odiava em si mesmo.”
Palermo chegou à conclusão de que Dahmer era um sádico sexual com transtorno de personalidade antissocial, mas são no momento em que cometeu os crimes. Friedman, por sua vez, teceu elogios ao réu, afirmando que ele era: “Amigável, agradável de se estar, cortês, com senso de humor, convencionalmente bonito e charmoso.” Ele ainda explicou que o acusado era um “homem brilhante”, não era psicótico, mas sofria de algum distúrbio de personalidade não identificado, apresentava traços borderline, obsessivos-compulsivos e de sadismo.
O julgamento durou duas semanas, e Dahmer foi considerado são, ou seja, não sofria de nenhum distúrbio no momento em que cometeu cada um dos 15 assassinatos que estavam sendo considerados. O serial killer foi condenado a duas prisões perpétuas, mais 70 anos, e a pena de morte nunca foi uma opção para os juízes envolvidos no caso.