O rock brasileiro sofreu uma perda na madrugada desta quinta-feira (15) com o falecimento de Luiz Schiavon, tecladista e um dos fundadores da banda RPM, ao lado de Paulo Ricardo. A informação foi confirmada pela família do músico, que tinha 64 anos.
De acordo com o comunicado oficial, Schiavon “vinha lutando bravamente contra uma doença autoimune havia quatro anos. Infelizmente, teve complicações na última cirurgia de tratamento e não resistiu. Luiz era, na sua figura pública, maestro, compositor, fundador e tecladista do RPM, mas, acima de tudo isso, um bom filho, sobrinho, marido, pai e amigo. Portanto, a família decidiu que a cerimônia de despedida será reservada a familiares e amigos próximos e pede, encarecidamente, aos fãs e à imprensa que compreendam e respeitem essa decisão. Esperamos que se lembrem dele com a maestria e a energia da sua música, um legado que ele nos deixou de presente e que continuará vivo em nossos corações. Despeçam-se, ouvindo seus acordes, fazendo homenagens nas redes sociais, revistas e jornais, ou simplesmente se lembrando dele com carinho, o mesmo carinho que ele sempre teve com todos aqueles que conviveram com ele”.
Luiz ainda fazia parte da banda, que continua em atividade com Fernando Deluqui, guitarrista original do grupo, e outros dois novos integrantes nos lugares de Paulo Pagni (o baterista P.A.) e de Paulo Ricardo.
RPM e anos 1980
Ao lado de Paulo Ricardo, Schiavon fundou o RPM em 1983. Como pianista clássico de formação e apaixonado por rock progressivo, ele utilizou seu conhecimento musical para definir o som da banda, que apresentava uma presença marcante de sintetizadores e teclados em suas músicas, assim como outras bandas inglesas da mesma época, como Duran Duran, Eurythmics, Depeche Mode, entre outras.
Schiavon e Paulo iniciaram sua parceria com a intenção de seguir as tendências do pop/rock inglês, explorando gêneros como tecnopop, synthpop, new romantic e new wave. Juntos, compuseram as primeiras músicas da banda, que inicialmente era um duo, criando faixas icônicas como “Rádio Pirata”, “Louras Geladas”, “Revoluções por Minuto” e “Olhar 43”, utilizando teclados, sintetizadores e bateria eletrônica.
Logo, Paulo e Luiz perceberam a necessidade de um guitarrista e convocaram Fernando Deluqui para a missão. As fitas demo com as músicas começaram a circular pelas gravadoras, que buscavam avidamente por bandas de rock, gênero que estava em ascensão no Brasil nos anos 1980. Rapidamente, o RPM se tornou alvo de disputa entre empresas como CBS e EMI. Após negociações, Luiz e Paulo optaram pela proposta da CBS e gravaram o primeiro álbum, intitulado “Revoluções por Minuto”, lançado em 1984 nos estúdios da Transamérica, em São Paulo. Em um momento decisivo, também incluíram na banda o baterista Paulo Pagni, conhecido como P.A., completando a formação original do RPM como um grupo.
O primeiro single, “Louras Geladas”, ganhou grande destaque nas rádios de São Paulo e se espalhou rapidamente por outras cidades do Brasil. Outros sucessos surgiram, como “Rádio Pirata”, “Revoluções por Minuto”, “Olhar 43” e “A Cruz e a Espada”, todos reconhecidos pela voz de Paulo e pelos incríveis teclados de Schiavon, o que tornou o RPM uma banda de rock única em relação às demais no cenário brasileiro.
O álbum de estreia teve um desempenho muito além das expectativas em vendas. O RPM embarcou em turnês pelo Brasil, realizando centenas de shows lotados, aparecendo em programas de TV e dominando as rádios. O grupo se tornou uma verdadeira febre sem precedentes, deixando uma marca indelével por aqui.
![Morre Luiz Schiavon, tecladista e fundador do RPM](https://osegredo.com.br/wp-content/uploads/2023/06/14705770_1304541786263000_407716445393001563_n.jpg.webp)
No ano de 1986, ocorreu o lançamento de “Rádio Pirata – Ao Vivo”, contendo os sucessos do álbum de estreia e algumas músicas inéditas. O álbum alcançou uma vendagem gigantesca, com mais de 2,5 milhões de cópias, estabelecendo um recorde.
No entanto, os músicos, ainda jovens e sem a experiência necessária, não conseguiram lidar com tanto sucesso e pressão. Surgiram desavenças internas e o RPM anunciou o fim das atividades no início de 1987. Paulo e Luiz continuaram a trabalhar juntos como dupla, mas sem utilizar o nome da banda. Rapidamente, a CBS persuadiu os quatro rapazes a retomarem a banda, que era um sucesso em todos os aspectos.
No retorno, a banda gravou e lançou o disco intitulado “RPM”, que ficou conhecido como “Quatro Coiotes”. Lançado em 1988, apresentava um som diferente do álbum de estreia, com menos ênfase nos teclados, o que acabou não agradando muito aos fãs e resultou em vendas muito baixas. O fracasso levou ao fim do grupo mais uma vez, com os membros seguindo carreiras solo.
Voltas do RPM
Após o término da banda, Luiz formou um novo projeto chamado Projeto S, no qual continuou a utilizar teclados, pianos e sintetizadores. No entanto, não obteve muito sucesso e logo encerrou suas atividades. Luiz passou então a se dedicar a outros trabalhos musicais e empreendimentos próprios, incluindo trilhas sonoras para novelas, criação de jingles para publicidade, entre outras atividades.
Em 1992, Paulo Ricardo decidiu reviver o RPM juntamente com Deluqui. Schiavon não aprovou a ideia e entrou com um processo para impedir seu ex-companheiro de usar o nome da banda. A solução encontrada pelo cantor foi lançar o “Paulo Ricardo & RPM”, resultando em um álbum com esse nome, mas a iniciativa teve uma curta duração.
![Morre Luiz Schiavon, tecladista e fundador do RPM](https://osegredo.com.br/wp-content/uploads/2023/06/1_image002-10275362.jpg.webp)
Uma década depois, em 2002, os músicos do RPM decidiram ressuscitar a banda. Gravaram um álbum ao vivo, intitulado “MTV RPM 2002”, que incluía todos os sucessos e algumas músicas novas. O álbum teve boas vendas e o grupo embarcou em uma turnê pelo país. No entanto, em 2004, enquanto se preparavam para lançar um novo álbum de músicas inéditas, ocorreu mais uma separação entre os membros, levando ao fim do grupo mais uma vez.
Após esse episódio, Luiz se uniu a Deluqui e ao cantor André Lazzarotto para formar a banda L.S.D. (iniciais de seus nomes), gravando um CD lançado de forma independente. Luiz também assumiu a liderança da banda que se apresentava no programa do Faustão, na Globo.
Cada integrante do grupo seguiu seu caminho em carreiras solo, mas em 2010 decidiram fazer mais uma tentativa com o RPM. Lançaram o álbum “Elektra” em 2011, contendo músicas inéditas, e realizaram uma longa turnê de quatro anos. Após o término desses shows, Paulo Ricardo decidiu lançar um álbum solo com a promessa de retornar à banda em algum momento, o que acabou não acontecendo.
Com a ausência de seu vocalista, o RPM ficou inativo por quase dois anos. Nesse período, Luiz, Deluqui e P.A. processaram Paulo por quebra de contrato, o removeram do grupo e recrutaram um novo membro. Infelizmente, em 2019, o baterista P.A. faleceu devido a problemas respiratórios. Os músicos remanescentes gravaram novas canções durante a pandemia, e há planos de lançar um álbum da banda ainda este ano. Luiz participou dessas gravações.
Desde o fim da pandemia, o RPM tem realizado alguns shows, mas devido a problemas de saúde, Luiz tem feito poucas aparições. Sua última apresentação com o grupo ocorreu em 22 de novembro de 2022, na cidade de São Carlos (SP). Atualmente, há um tecladista substituindo Schiavon.
Assim, há material inédito gravado por Luiz que será lançado posteriormente. Esse é parte do grande legado que o músico deixa para o rock e para a música brasileira.