É sabido o poder da escrita: ela é uma excelente ferramenta para harmonizar o indivíduo no seu ambiente psicoafetivo. Ela é, sem dúvida, uma ferramenta de cura.
Há dois grandes métodos de cura: tratar os efeitos ou tratar as causas.
A medicina ocidental trata os efeitos aparentes: ela combate os resultados visíveis e que incomodam, tais como dores e disfuncionamentos de todo o tipo.
O segundo método vai até à origem do mal e tenta desvendar o que levou ao resultado aparente. Muitas terapias alternativas curam as causas das doenças. A escrita terapêutica é apenas mais uma abordagem que pode agir tanto nos efeitos como nas causas.
Imaginemos o seguinte cenário:
Uma mãe acorda de madrugada e não vê o seu filho adolescente em casa. O jovem saiu para uma festa com os amigos e ainda não voltou. A mãe, apesar de saber que o filho está em boa companhia e perto de casa, imagina uma série de cenários dramáticos e pensa no pior, entrando num estado de angústia, com palpitações cardíacas, dores musculares, mal-estar geral, etc… Este medo é infundado e, provavelmente, é o espelho de uma experiência antiga, talvez a recordação da sua própria mãe que esperava um marido inconstante, por exemplo.
Esta jovem mulher, na noite em que o seu filho tarda para chegar a casa, pode escrever para libertar os seus medos, a sua raiva, etc… Isto fará com que uma parte da sua tensão se desvaneça e que os efeitos nefastos na sua saúde se manifestem.
No entanto, esta escrita que age sobre os efeitos aparentes é efémera. A cada situação semelhante, esta mãe teria que escrever novamente e o efeito terapêutico seria menor a cada vez.
E é aqui que se deve introduzir a escrita que age sobre as camadas profundas do inconsciente e da memória. Qual a causa verdadeira dos nossos comportamentos desequilibrados?
A escrita terapêutica permite libertar traumas antigos ao entrar no estágio das emoções dolorosas.
Que tipo de escrita? Não é preciso ser doutorado em literatura, basta ter consciência e vontade, mas há dois tipos fundamentais de escrita:
1. Escrita-testemunha: este tipo de escrita direta consiste em escrever diretamente sobre o passado e deixar aflorar memórias e emoções;
2. Escrita-ficção: este tipo de escrita é praticado por escritores e cria personagens sem se implicar diretamente. As personagens diminuem a dor de uma escrita demasiado direta.
E agora resta saber: será que aceitamos o que descobrimos acerca de nós mesmos depois de realizamos exercícios de escrita terapêutica? De qualquer das formas, é compreendendo o nosso passado que podemos construir de maneira saudável o nosso futuro.
Um excelente exercício para começarmos a nossa escrita terapêutica e que nos pode ajudar a compreender melhor a nossa vida e os nossos caminhos muitas vezes tumultuosos:
1. Tente encontrar no seu passado, desde a infância até aos dias de hoje, momentos em que sentiu a necessidade de concretizar sonhos, ideias, sentimentos, desejos, etc. Escreva-os indicando os níveis de concretização.
2. Nos exemplos que deu, quais é que tiveram um papel importante na sua vida? Porquê?