O que é a vida, senão uma sucessão interminável de momentos bons e ruins, felizes e tristes, tensos e leves com alguns pequenos intervalos de descontração, diversão e paz. (Esses pequenos intervalos, mais popularmente, são conhecidos como férias!).
Mas voltando à árdua tarefa de conceituar a vida, interrompida por este pequeno intervalo, que merecidamente, deve ser reconhecido, afinal de contas são 11 meses trabalhados para que chegue o tão sonhado momento de descanso. De fato, ela merece seu momento de glória, visto o sacrifício que é feito durante intermináveis semanas para alcançá-la.
Dedicadas todas as honras ao pequeno intervalo das férias, voltemos ao nosso assunto principal: a vida. Ah, a vida… que pretensão minha tentar conceituá-la, visto que nem os filósofos mais inspirados, os cientistas mais inteligentes e até mesmo os oráculos mais poderosos conseguiram.
Portanto, resumida à minha insignificância diante de nomes tão importantes, revejo minha audaciosa intenção. No entanto, fazendo jus a teimosia que me é peculiar, ouso arriscar algumas possibilidades de visões sobre o assunto.
Longe de mim querer levantar teorias ou conclusões sobre o tema, até mesmo porque acredito não haver nada concluído, já que a vida está sendo escrita a todo o momento. E o mais interessante que são milhares de escritas simultâneas que descrevem tantas pessoas num movimento de total democracia e gratuidade. Por que, pelo menos até o momento, não apareceu ninguém para nos cobrar pela vida que levamos ou decisões que tomamos a não ser nós mesmos. E o preço? Cada um dá o seu, independente se vale pouco ou muito, se você é rico ou pobre, preto ou branco, ocidental ou oriental, jovem ou velho.
Todos estamos escrevendo nossos caminhos e os ligando a outras pessoas numa corrente interminável de conexões que daria um belo gráfico. Mas, deixemos o gráfico para os matemáticos e nos concentremos na ciência não exata da vida que, por sinal, é muito mais complexa do que teoremas, equações ou afins. Quem dera se Pitágoras, ao inventar um processo matemático para descobrir que a hipotenusa é a resultado das somas dos catetos tivesse inventado um teorema para nos ensinar que uma vida feliz é resultado da soma de dois ingredientes mágicos. A pergunta que vale um milhão: que ingredientes são esses? Te garanto que não são um dia de trabalho tenso + um jantar com a sogra ou engarrafamento + sol de 40 graus sem ar condicionado ou ainda fila no banco + caixa em manutenção bem na sua vez.
Mas, para que reclamar, se existem momentos na nossa vida que realmente não têm preço, as férias, por exemplo (Olha ela aí de novo!), mas para todas as outras coisas existe a Mastercard! Certamente, Pitágoras não conseguiria calcular o resultado dessa equação arrasadora: algo que não tem preço + cartão de crédito. Até porque esse papo de não ter preço é para gente que tem um cartão de crédito sem limites, o que não é o meu caso e nem da maioria da população brasileira.
Mas, e a vida, aonde entra nesta história toda, já que começamos discursando sobre ela e suas dualidades? Na verdade, não se encaixa em lugar nenhum, porque a vida não é uma peça de um quebra-cabeça que procuramos e tentamos colocar em um espaço pré-moldado para cabê-la. A vida é o quebra-cabeça e, a cada dia, cabe a cada um de nós acharmos a peça que está faltando e a encaixarmos naquele lugarzinho reservado ao seu formato e dimensão, que cuidamos de moldar para que coubesse tão perfeitamente.
Ouso dizer ainda que esse é um quebra-cabeça interminável, porque a cada nova peça que encaixamos mais espaços se abrem para novas peças e é essa a grande graça da vida, saber que a previsibilidade de peças pré formatadas pode ser modificada a cada instante pelo poder da vontade interior. É entender que a montagem desse quebra-cabeça está em nossas mãos e podemos formar com ele uma imagem estática que estampará a parede da nossa caminhada solitária a qual assistiremos como meros espectadores ou podemos mantê-la em constante processo de encaixes e desencaixes. Por que afinal de contas, a verdadeira graça do quebra-cabeça e o que o torna atraente é o desafio da montagem e da procura pela peça certa para formar uma imagem que no final será desmontada.
Portanto, concentremo-nos em achar as peças certas para os espaços errados, os espaços certos para as peças erradas, até o momento que descobriremos que neste jogo não existem certos e errados, apenas o que cabe no espaço que criamos.
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