Os sonhos são muito importantes. Eles são uma forma de mantermos contato com nosso inconsciente e muitas vezes também com o inconsciente coletivo.
Os xamãs, por exemplo, dão uma importância imensa ao que eles chamam de mundo dos sonhos. Eles não vêm este lugar como algo apenas psicológico. Eles vêm como um mundo real, talvez mais até do que esta nossa realidade linear. E quem vai saber ao certo o que é a realidade? Se é que existe realmente uma única realidade, pois podem haver muitas acontecendo ao mesmo tempo, em dimensões diferentes, em mundos paralelos.
Acho que os sonhos são algo extremamente pessoais, até mesmo seus símbolos podem variar muito de pessoa para pessoa. A relação de cada um com seus próprios sonhos também varia muito. Há pessoas que sonham com o corriqueiro, com coisas que estão vivendo, com seus anseios, desejos e preocupações. Outras já têm um contato mais simbólico com este mundo onírico e através dele vão recebendo mensagens ou de seu próprio inconsciente ou de dimensões diversas. De qualque forma, mensagens de um lugar que sabe mais do que a consciência da pessoa. Um lugar que pode ser a própria pessoa em seus níveis e corpos mais ampliados. Ou melhor dizendo, um lugar em que a pessoa em seu estado de vigília não consegue penetrar habitualmente, mas que através de sua consciência mais ampliada no momento do sono, consegue ter este acesso.
Aqueles que sonham com o cotidiano geralmente estão mais preocupados com a vida material e seus prazeres e desafios. Não, nenhuma crítica quanto a isto. Eu mesma tenho muito desses sonhos, mas também tenho muitos sonhos simbólicos e, estes, são extremamente pessoais. O que quero dizer com isto? Quero dizer que existem símblos universais sim, mas que existem muito mais símbolos pessoais. Por exemplo, tenho uma amiga que diz que sempre que sonha com sapato sabe que alguém vai morrer. Por que ela sabe isto? Porque ela observou seus sonhos e percebeu a relação, para ela, do sonho com sapatos e a morte de alguém conhecido. Eu já sonhei com sapato mais de uma vez e ninguém morreu.
É por isto que não acredito nestes almanaques de sonhos nem mesmo na interpretação popular dos sonhos. Até mesmo símbolos universais, que estão introjetados no consciente coletivo, também podem significar um coisa completamente diferente para uma pessoa. Um exemplo é a serpente. Ela é vista a séculos pelo cristianismo como algo impuro e nocivo. Muitos atribuem sua aparição em sonhos como falsidade, inveja e malefícios devido a má reputação que ela ganhou. Já eu, que sempre fui uma filha da Deusa, mesmo sem saber, e sempre gostei deste animal, tenho outra visão dele e para mim ele representa algo totalmente diferente.
Dentro da cultura indiana, a serpente é associada a enrgia da Kundalini, a força espiritual que todos temos latente na base de nossa coluna, e na maioria dos casos está adormecida. No xamanismo este animal é visto como uma força poderosíssima de transmutação e transformação. No Caminho da Deusa a serpente é “simplesmente” um de Seus símbolos, e por consequência o símbolo do feminino. Um símbolo de sabedoria, de vida e de crescimento. Eu, então, que tenho muito mais afinidade com estes caminhos espirituais percebo o simbolismo da serpente de acordo com eles.
Já sonhei muito com a serpente em diversas fases da minha vida e em cada um desses sonhos eu percebia a forma como ela se apresentava, o que queria me dizer. Num desses sonhos, por exemplo, por todo o seu contexto, eu percebi que ela me sugeria a voltar a praticar a dança do ventre que eu havia parado por um tempo.
Por isto que eu digo, tudo é muito pessoal. E acredito que somente a própria pessoa pode desvendar as mensagens de seus próprios sonhos. Muitas terapias trabalham com a interpretação de sonhos. As que eu já fiz nunca tiraram este poder das minhas mãos querendo interpretá-los por mim.
Sempre me questionaram sobre cada significado simbólico, mas permitindo que eu mesma os desvelasse. Falo isto porque as terapias mais ortodóxas e tradicionais insistem em tirar o poder da mão do paciente e fazê-lo um dependente da terapia e do terapeuta. Por isto todo cuidado é pouco na hora de escolher o tipo de terapia e o profissional.
Muitas vezes quando você também vai contar um sonho simbólico para um amigo deve ter cuidado. Pois o amigo pode interpretar da maneria dele e você se confundir. Outro dia mesmo passei por isto. Contei um sonho que havia tido para uma amiga muito querida, que na maior das boas intenções deu a interpretação dela. Percebi depois que ela visualizou o sonho de forma diferente de como ele realmente ocorreu. O sonho que eu tivera, em verdade, estava respondendo a uma dúvida minha, foi muito claro isto para mim. Minha amiga, no entanto, em cima de um “detalhe” do sonho que ela entendeu de outra forma, fez a sua interpretação pessoal. E mesmo que no sonho houvesse o símbolo que ela achou que existia, a interpretação correta poderia ser diferente.
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Muitas vezes não nos sentimos aptos para fazer as coisas sozinhos, tomar decisões, etc. Mas mesmo com esta dificuldade acredito que no fundo apenas nós próprios sabemos de nós. Não quero dizer com isto que não precisamos dos outros e que somos auto-suficientes. Precisamos de amigos, conselhos e da troca, mas acredito que quanto mais possamos responder por nós mesmos a paritr de um estado de centramento e equilíbrio melhor. Começar a observar nossos sonhos e sua simbologia pode ser difícil e trabalhoso, mas compensa e muito e nos faz nos entedermos e nos conhecermos melhor, alem de nos deixar aptos para decifrarmos as mensagens que nos são enviadas pelo Universo.
Diane Stein em seu livro As Sacerdotisas dá uma sugestão de acompanhamento dos sonhos para irmos nos familiarizando com nossos símbolos pessoais. Devemos anotar nossos sonhos de preferência logo no momento em que acordamos, com o maior número de detalhes possível. Como é um livro voltado para a espiritualidade feminina ela sugere que anotemos junto a fase da lua e o dia do ciclo menstrual. Eu sugrio ainda que junto anotemos também as questões de nossas vidas, se há algo importante a ser decidido, enfim, algo que esteja mobilizando a nossa atenção.
Muitas vezes é estudando estes sonhos um tempo depois que vamos conhecendo os nossos próprios simbolismos. Por isto é importante mantermos este diário de sonhos e o lermos periodicamente. Mesmo que você não consiga fazer estas anotações diariamente faça-as sempre que tiver um sonho que considere mais relevante. O pouco é melhor que nada, mas o suficiente é melhor ainda.
Anna Leão.
Via: annaleao.com.br