Ontem uma pessoa me confessou que somente o fato de acreditar que o pós-vida seria ruim a impede de cometer suicídio.
Essa pessoa não está doente, não sofre privações, não está desempregada, não está de cama. Para todos os efeitos é uma pessoa satisfeita e produtiva.
Somente a crença de que o pós-vida seria doloroso impede essa pessoa de terminar sua vida.
O que me faz me questionar, o que de fato nos faz querer continuar vivendo? Não apenas se segurar nas bordas da vida que a gente vai levando, mas realmente querer continuar?
Essa mesma pessoa me disse que já não consegue mais segurar as pontas como conseguia antes.
Qual a resposta para tudo isso?
Eu acredito que conforme vamos passando por desafios na vida, e engolindo sapos, e dando jeitos e encontrando todos os “meios-termos” que são necessários para viver em sociedade, nossa bagagem emocional vai ficando mais pesada. Temos mais história.
Mas o mais importante: temos menos ilusões.
Aos 13, 15, 17, 18, talvez a gente acreditasse que ia mudar o mundo e as pessoas.
Talvez com 20, ainda.
Tem gente que com 30 ainda acredita.
Mas o que fazer quando nossas ilusões acabam e não temos novas ilusões para repor as que se foram?
O que fazemos com o vazio que fica das ilusões perdidas?
Conforme minha visão do mundo vai se adensando e clareando, eu tenho cada vez menos ilusões – que são nossas certezas, frequentemente – e ficam questionamentos e dúvidas.
O que eu aprendi, não apenas com minha razão, mas com meu coração também é que só dá pra se comprometer em mudar a gente mesmo.
E olhe lá. Isso já dá um trabalho danado. Qualquer compromisso de mudar o outro, mostrar ao outro, é infrutífero.
Você pode estar disponível para apoiar quem quer mudar, e só.
E entendi também que eu tenho o poder (se não a obrigação, pela minha sanidade) de escolher a forma mais positiva de olhar as situações.
Que a vida tá cheia de dor e desencontro, a gente já sabe.
Que há muitos maus e desonestos, a gente já sabe.
Que a desigualdade, a injustiça e a dor são a realidade de muitos, a gente já sabe.
Que a crise, o desemprego, a alta dos preços estão aí, a gente já sabe.
Que a corrupção e a violência nos fere, a gente já sabe.
Mas o que nós ganhamos falando nisso, consumindo isso, sentindo isso? O que nós ganhamos ESCOLHENDO olhar principalmente para tudo isso?
Só dor e frustração.
E vontade de desistir, jogar a toalha, dormir e nunca mais acordar.
A gente precisa escolher olhar para onde tem amor, para continuar sorrindo todos os dias.
Porque levantar eu sei que você levanta.
Mas a gente não quer só comida.
A gente quer amor, alegria e milagres.
Você precisa escolher ver milagres, cara.
Você precisa escolher ouvir uma música que adoce sua vida.
Esse é um compromisso que só você pode assumir consigo mesmo, a cada momento.
Se você não fizer essa escolha continuamente, ninguém fará por você.
E sua vida vai gradualmente acinzentar.
Eu quero algo diferente para cada um de vocês.
E eu estou aqui, sabe.
Eu sou aquela pessoa pra quem você pode ligar às quatro da manhã se a dor estiver tão grande que você acha que não vai dar pra aguentar até amanhecer.
Eu já estive nesse lugar escuro, onde não há nem sombra.
Hoje eu tô em um lugar de mim onde tem luz. Tem sombra também, mas só tem sombra onde tem luz.
Se você precisar de ajuda pra chegar aqui, me fala, viu?
Mas você precisa escolher ver milagres.
Porque ser feliz é um milagre.