Segundo Allan Kardec, “honrar pai e mãe não é somente respeitá-los, mas também , assisti-los nas suas necessidades, proporcionar-lhes o repouso na velhice, cercá-los de solicitude, como eles fizeram por nós, na infância”.
Por sua vez, a educação dada pelos nossos pais sobre, “honrar pai e mãe”, faz parecer, às vezes, que cumprimos nossa missão, simplesmente obedecendo, respeitando e sendo gratos.
E o fato de terem mais experiência de vida e de terem sido nossos “mentores” nos ensinando, desde os primeiros passos, até as normas vitais para autossuficiência, muitas vezes, pode dar a falsa ilusão de que eles seriam – por dedução lógica – sempre mais sábios, mais independentes e capazes de cuidarem de si mesmos.
Entretanto a vida, totalmente alheia ao fato de termos alcançado a maioridade, ousa fazer de todos nós eternos aprendizes: Constituímos nossas filhos e agora temos nossos próprios filhos para cuidar. Repetimos os papéis que criticávamos quando nossos pais eram os atores e nos damos conta da hercúlea missão cumprida. Entendemos até mesmo o significado de “chorar sorrindo” citado numa antiga canção.
Nesta lição passamos também pela fase em que nos tornamos uma espécie de “pais dos pais”. Embora a sabedoria popular insista em dizer que os filhos sempre serão crianças para os pais… Pois bem, como “crianças crescidas” que somos agora temos que zelar por prover carinho constante, eventualmente sustento, às vezes orientação…
É tempo de cuidar e tentar compreender os nossos pais, pois conforme o legado de Renato Russo, “são crianças como você, o que você vai ser quando você crescer”.
Agora temos que nos manter firmes, somos a base que sustenta várias estruturas que não observa a cronologia vital.
Os brinquedos da antiga praça do bairro não são mais os mesmos, assim como o corpo que te levava nos ombros até o ponto mais alto do escorrega. É preciso acompanhar com atenção e verificar se as informações para retornar para casa estão corretas, pois aquela ousada memória que nos cobrava a tabuada agora se arrisca a confundir o número daquela casa, onde viveram, por anos.
Podemos nos perguntar se em que parte do caminho ficou aquela vitalidade que dava alma e asas ao chinelo quando éramos crianças, mas não importa, pois a vitalidade persiste. Talvez não mais na cor dos cabelos ou nos músculos, mas na sabedoria e no amor em seus corações.
E agora que somos adultos ou “crianças grandes” já nos damos conta de que o tempo é finito. Não podemos voltar ao passado e não sabemos o que o futuro nos reserva. Mas podemos “presentear” nossos pais tendo com eles a mesma paciência e amor (ou talvez muito mais) que tiveram quando as crianças éramos nós. Não há idade para dar e receber amor e o tempo é este.
Como bem disse Walcyr Carrasco, “Em uma época todos nós somos filhos. Em outra, nos tornamos pais. É a nossa vez de cuidar e quem cuidou de nós”.