Os pais acreditam que a atitude da escola pode fazer com que os filhos desenvolvam distúrbios em relação à própria imagem.
O que você faria se na escola de seu filho, nas fotografias que eles tiram todos os anos, você descobrisse que os funcionários editaram as imagens, apagando determinadas características ou objetos que consideram “imperfeitos”?
Foi o que aconteceu nos Estados Unidos, onde os pais perceberam que os filhos perderam as sardas, tiveram os dentes clareados, inclusive um teve o aparelho auditivo removido da imagem.
Para os estadunidenses, é comum tirar fotografias no fim de todos os anos escolares e reunir essas imagens em livros que cada aluno e funcionário pode levar para casa como recordação daquele ano. Normalmente, a escola contrata uma empresa para esse serviço e, desta vez, a terceirizada foi uma chamada “Lifetouch”.
Jennifer Greene, mãe de Madeline, de 12 anos, nunca quis que ela se sentisse pressionada a ter uma “aparência perfeita” e, em entrevista ao The New York Post, disse que ficou chocada quando abriu o pacote de fotos da escola da filha e viu que estavam cobrando por “retoques”.
O serviço tinha que ser pago à parte, e a mãe explica que custava cerca de R$ 70 e incluía clareamento nos dentes, tratamento noturno no tom de pele e remoção de manchas. A mãe discorda totalmente da prática de retocar fotos escolares de crianças, já que acabam sugerindo que elas têm de estar sempre perfeitas.
Além disso, podem pensar que podem mudar ou remover, com apenas um clique, qualquer “falha” ou “imperfeição” percebida. Segundo informações, a prática de remover traços ou características dos retratos escolares não é nova, mas agora tomou outra proporção, tornando-se onipresente.
Enfurecida, a mãe publicou um tuíte no final do mês passado pedindo à empresa “Lifetouch” uma explicação para oferecer retoques em fotos de crianças, mas nunca obteve resposta.
Respondendo ao Post, a empresa afirmou que o serviço é completamente opcional e que os clientes só o adicionam ao pacote se o desejarem. Além disso, defendeu que tem o objetivo de sempre capturar de maneira autêntica cada criança que fotografam.
Na Flórida, um caso semelhante aconteceu com Kristin Loe, que ficou surpresa quando recebeu as fotos do filho e percebeu que a empresa tinha removido todas as suas sardas.
Ela conta que tinha dado permissão para que removessem as manchas, mas nunca imaginou que as sardas, um traço tão particular, fossem ser completamente apagadas. A “Lifetouch” tentou remediar a situação e enviou à família as fotos do menino sem os retoques.
Muitos pais achavam que as mudanças nas imagens se limitavam apenas à pele ou aos dentes, mas Whitney Rose conta que um fotógrafo, de uma empresa diferente da mencionada anteriormente, apagou os aparelhos auditivos do seu filho de 3 anos.
Em uma publicação no TikTok, ela explica que os aparelhos fazem parte dele, e apagá-los da fotografia é dizer que parte do que ele é, sua deficiência auditiva, deveria ser motivo de vergonha.
O alerta dos pais serve para observar como as crianças se sentem com essa prática, principalmente porque estão em fase de construção da própria personalidade, tentando compreender quem são e como querem ser. Alterar traços e características permanentes pode afetar a autoimagem dessas crianças, que acreditam que aquilo é imperfeito ou incorreto, sentindo que não se encaixam na sociedade ou nos padrões.
Os retoques das imagens escolares lembram o uso de filtros em aplicativos e redes sociais, que causam ansiedade e dismorfia corporal em jovens e adolescentes. Essa exposição indevida a imagens irreais de si mesmos pode fazer com que desenvolvam dismorfia corporal, acreditando que possuem milhares de defeitos apenas por se comparar aos filtros.