Sobre cartas – […] palavras que vêm do coração valem mais do que mil gestos!
Qual a última vez que escreveu uma carta? Aliás…creio que a pergunta mais adequada e contemporânea a se fazer seria: Você já escreveu alguma carta? Infelizmente…afirmo sem ceticismo algum que a grande maioria das pessoas nem dão e nem recebem mais cartas.
Não sabem a sensação especial que as mesmas representam. Preferem os mergulhos rasos das mensagens instantâneas vindas das redes sociais.
As pessoas têm pressa! Têm pressa, inclusive, para falar pouco…escrever pouco. É o imediatismo da vida moderna que nada me agrada.
Só geram pessoas ansiosas e presas a relações superficiais, vazias e ilusórias. E o sentir cada vez mais vem deixando de existir!
Então…como começar uma carta? Bem…antes de explanar meu ritual pessoal, muitos afirmam que elaborá-la dá um imenso trabalho. Entretanto, acho que tal declaração seja de fato uma real desculpa para não exporem o que sentem.
Estou cá…neste momento…em minha escrivaninha de madeira, munida de um lápis com numeração 6B e uma borracha. É…gosto de lápis! Ele me dá liberdade com as palavras! Já a caneta me faz ficar preocupada com os erros e me conecta apenas com a insensível razão.
Pronto! Estou pronta para escrever uma carta após um banho renovador e de total ligação mental com o meu destinatário. E para fechar o hábito…não pode faltar nunca uma boa música de fundo que toque meu coração e dê vazão à minha inspiração. Inclusive, geralmente, peço também ao meu destinatário que escute as mesmas músicas para entrarmos em contato com o instante em que escrevo com o instante no qual o mesmo me lê.
Será que agora dá para entender o que é uma carta? Ela transcende o tempo e o espírito! Uma carta tem muita identidade e energia, pois carrega resquícios da pele de alguém juntamente com sua letra única preenchida com sentimentos. Até lágrimas ressecadas sobre o papel podem existir…afogando o remetente no seu próprio mar de palavras. E tudo isto faz do destinatário um ser bastante especial. Afinal…cartas são raras! São tão raras que quando as envio pelos Correios…até os próprios funcionários ficam atônitos.
Uns acham incrível minha atitude paciente por esperar a resposta em meio à existência de tantos recursos mais ágeis como o correio eletrônico, por exemplo. Já outros, através de seus sorrisos de canto de boca, devem me achar uma tremenda idiota, pois em suas mentes…gasto tempo para escrever…gasto dinheiro com a correspondência…e ainda aguardo demoradamente um possível retorno do destinatário.
Entretanto…mal sabem eles o quanto é maravilhoso usar um tempinho do dia para se debruçar na própria escrita com alma e coração para alguém. Um tempinho que ficará registrado para sempre na vida de quem recebe tantas palavras vestidas de alma. Tudo passa…e as palavras ficam…e os remetentes ficam marcados de forma inesquecível nos corações de seus destinatários. Ah…as cartas são insubstituíveis!
Com certeza todos nós já ouvimos aquela frase clichê: “Gestos valem mais do que mil palavras.” Será que há tanta solidez assim nesta frase? Acredito que nada seja tão absoluto! Cresci com diversos gestos de afeto que não condiziam com o que eu de fato gostaria de ter recebido. Mas para quem me ofertavam tais gestos era o máximo que poderiam me presentear.
Afinal só podemos dar o que temos! Ou seja, só podemos dar afeto quando em outrora recebemos. Aprendi que amor de verdade é quando não se tem vergonha de demonstrar…que se mostra amor além dos gestos de cuidados totalmente funcionais de um pai, de uma mãe, de um irmão, de um parceiro matrimonial…que se faz amor através de exagerados beijos e abraços…porque amar em demasia é o melhor remédio em doses excessivas que não provoca efeitos colaterais.
Aquele amor que profere e escreve palavras como um grito que vem da alma inquieta e cheia de vontade de expressar o que sente para quem ama. Sim…palavras que vêm do coração valem mais do que mil gestos!
Nas cartas não há gestos…mas há palavras. Não qualquer palavra jogada numa folha de papel. Mas palavras que vêm de dentro da gente…da nossa essência!
Portanto, cartas têm contato direto com o nosso coração. Então, vejo que a busca fácil pelas palavras mecânicas através de aplicativos virtuais como meio de mensagem, só nos distancia da realidade dos nossos sentimentos.
E isto comprova o quão há corações fechados! A superficialidade é o que convém como fuga para não adentrarmos nas profundezas do nosso ser. E as cartas têm o poder inigualável de abrir as portas do nosso coração…de libertar os anseios de nossas almas…de revelar quem verdadeiramente somos!
Quer invadir o coração de alguém? Escreva uma carta! Ela é uma chave! No entanto…algo mágico igualmente acontecerá: Você se invadirá e se encontrará com o amor!