Entenda o que pode estar por trás dessa tendência que parece crescer a cada dia.
Os pais são, tradicionalmente, as pessoas mais importantes para nós. Responsáveis por nossa educação e suprimento de todas as necessidades, eles são algumas de nossas melhores influências e nos acompanham por quase toda a vida.
Nosso vínculo com eles é muito poderoso e fomentado pela convivência, amor e cumplicidade, mas apesar disso, os terapeutas e especialistas em comportamento têm percebido que, nos últimos anos, está acontecendo um grande distanciamento de pais e filhos.
Segundo um artigo da BBC contado em matéria do G1, Joshua Coleman, psicólogo e autor do livro ”The rules of estrangement: why adult children cut ties and how to heal the conflict” (“As regras do distanciamento: por que os filhos adultos cortam os laços e como solucionar o conflito”, em tradução livre), acredita que muito desse afastamento tem partido dos próprios filhos.
Uma das razões mais comuns citadas pelo pesquisador é o abuso (emocional, físico, sexual, verbal) por parte do pai ou da mãe, no passado ou no presente. Ele também menciona o divórcio e até uma diferença de valores.
Karl Andrew Pillemer, professor de desenvolvimento humano da Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, tem desenvolvido estudos que apoiam a afirmação de que os valores são um “fator importante” nos distanciamentos, mencionando “questões como preferência pelo mesmo sexo, diferenças religiosas e adoção de estilos de vida diferentes” como algumas das principais variáveis responsáveis por essa quebra no vínculo familiar.
Na opinião dos dois especialistas, isso pode estar relacionado ao aumento da polarização política e cultural dos últimos anos. O artigo menciona que tanto nos Estados Unidos quanto no Reino Unido, um grande número de famílias se afastaram em virtude de fatores políticos. Além disso, a tendência controladora dos pais também está entre os motivos de os filhos preferirem a distância.
“Embora não haja nada de novo em conflitos familiares ou no desejo de se isolar deles, definir o distanciamento de um membro da família como expressão de crescimento pessoal, como se faz normalmente hoje em dia, é quase com certeza algo novo”, disse Coleman, e acrescentou: “Decidir quais pessoas manter dentro ou fora da nossa vida tornou-se uma estratégia importante”.
O psicólogo também argumentou que não precisar de um familiar, seja na hora de fazer as próprias escolhas ou mesmo para receber alguma herança, ajuda a basear a nossa vida e escolher nossas companhias de acordo com a própria personalidade e aspirações.
Como o distanciamento dos pais afeta as vidas dos filhos
De acordo com Coleman, a maioria dos filhos adultos acredita que o distanciamento foi a melhor coisa que lhes aconteceu. Entretanto, embora a melhor saúde mental e a sensação de mais liberdade sejam resultados comuns do distanciamento, segundo Pillemer, a decisão pode também criar sentimentos de instabilidade, humilhação e estresse.
“O rompimento ativo e intencional de laços pessoais é diferente de outros tipos de perda”, explica. “Além disso, as pessoas perdem os benefícios práticos de ser parte de uma família: apoio material, por exemplo, e a sensação de pertencer a um grupo estável de pessoas que se conhecem bem.”
Além disso, a solidão parece ter aumentado consideravelmente entre as pessoas que se distanciaram da família durante a pandemia.
Tendência futuras
Coleman acredita que o distanciamento até mesmo se agravará daqui para a frente, tanto por conta do individualismo quanto das divergências políticas.
Pillemer argumenta que é importante nos motivar a superar os conflitos com os familiares, especialmente aqueles provocados por diferença de valores ou opinião política. Ao fim da entrevista de mais de 100 pessoas que se distanciaram de seus familiares e conseguiram se reconciliar, ele concluiu que superar os conflitos, ainda que o relacionamento se mantivesse imperfeito, “era fonte de autoestima e orgulho pessoal”.