Por ser Amor, invade de tamanha ternura e amabilidade que só desejo a integridade e bem-estar do outro, e isso é o Começo, não o fim de uma linda jornada a dois.
No ano de 2016, passei por uma situação interessante e, diga-se de passagem, bastante inusitada com alguns dos meus alunos. Fui abordado por um grupo de pelo menos oito deles que, logo depois do intervalo de uma aula, pediram conselhos para a vida, mais precisamente para a área sentimental.
A pergunta foi: “Professor, como podemos fazer a escolha de um bom namorado? Como não errar?” Sinceramente pensei comigo: e agora, o que eu faço? A questão não é tão simples de se responder, se de fato fizermos uma reflexão rápida.
Na tentativa de responder, outros questionamentos passaram a povoar minha mente naquele instante, enquanto buscava uma resposta para eles: qual seria o tipo de relacionamento que os alunos estavam acostumados a ver em casa? O que eles presenciavam? Pais brigando o tempo todo? Gritaria? Ou apenas curiosidade em perguntar a opinião de alguém de fora? Será que era pegadinha?
Enfim, fosse lá como fosse, eu tinha que dar uma resposta para eles o mais rápido possível, e a única coisa que me veio à mente foi o que vivi dentro de casa. Sempre fui educado pelo meu pai a tratar de forma respeitosa não só minha mãe, como minhas irmãs, e obviamente, reproduzir isso a todo instante com outras mulheres.
Nunca vi meu pai discutindo com minha mãe, pelo contrário, fui descobrir depois de jovem que, quando eles fechavam a porta do quarto, era porque estavam tratando de assuntos muito mais sérios dos quais não nos cabia participar. Foi com ele que aprendi a dar flores para minha esposa e filhas, porque o vi presenteando a todo instante as mulheres da nossa casa.
Então me enchi de coragem e disse: “Você, menina, observe como ele (possível namorado) trata a mãe e as irmãs. Se o seu candidato tratar sua mãe e irmãs como princesas, a chance de fazer o mesmo e de tratá-la bem no casamento será muito grande. O inverso também é verdadeiro. Se ele, por exemplo, na hora de sair com você, já der as costas à mãe, gritando com ela e ao mesmo tempo beijando você e falando-lhe palavras de amor, creia, você assumirá o lugar da mãe no futuro e terá grandes chances de ser infeliz e aumentar as estatísticas de mulheres insatisfeitas com seus relacionamentos.”
Com essa resposta, quis provocar duas reflexões: a primeira foi de que quem trata mal os da sua casa, assim trata os de fora. Uma hora ou outra isso aparece. A segunda: será que você é uma boa opção para o outro? Você trata bem sua família? Deixei no ar e confesso: os olhares entre eles foram os melhores.
Não há dúvidas de que relacionamento é algo complicado mesmo, e não existem fórmulas para o sucesso, entretanto, cabe a nós, adultos, sempre estar atentos aos jovens que pensam que o amor ou o relacionamento é descartável. Usa-se enquanto se pode e é gostoso, e depois se joga fora.
O título que ilustra este texto é um trecho da música do Djavan “Pétala”, aliás um poema, que diz: “Por ser amor, invade e fim!” Creio que precisa ser praticada com cuidado.
O amor que vemos nascer nos casais vem da palavra grega “eros”, que justamente é o estágio inicial da vida romântica, ou seja, é amor “erótico”, do desejo e da atração física. Sendo assim, por ser Amor, invade, e não deve ser o Fim, e sim o começo de todo o cuidado para que o coração não pregue uma peça em nossos jovens.
Em nome do “Amor” que eles acreditam ter naquele momento, entregam-se de corpo e alma e já projetam todo o seu futuro, e se lançam cegamente, sem medo de serem felizes e sem analisar com profundidade as demais áreas da vida. Muitas vezes, machucam-se, quebram-se e tudo o mais que já conhecemos.
Literalmente, por ser “amor” (que é apenas paixão) se entregam como o “fim”, ou simplesmente com a entrega total.
Enquanto família, professores e amigos, é nosso dever acolher melhor nossos alunos e filhos a fim de termos uma sociedade com mulheres que não sejam vítimas dentro de suas casas. E muito mais que isso, precisamos ser exemplos a todo instante para que os jovens sejam nosso reflexo, vejam nossos exemplos e projetem sua vida reproduzindo com fidelidade o que lhes temos ensinado.
Minhas atitudes têm refletido o que tenho ensinado aos meus filhos? Faço o que falo? Fico me perguntando: “qual o testemunho minha esposa e filhas poderiam dar a meu respeito? Minhas filhas poderiam dizer que gostariam de ter um marido parecido com seu pai? São tantos questionamentos difíceis de se fazer e muito mais duros de serem respondidos, mas creia, pode ser que as respostas nos livrem da hipocrisia disfarçada de austeridade.
O Amor é muito nobre para ser rebaixado a meros encontros em que se usa o outro e depois se descarta.
Amor é, antes de mais nada, decisão de servir e promover o bem-estar do outro. É, muitas vezes, renúncia, mas não burrice.
Por ser Amor, invade de tamanha ternura e amabilidade que meu desejo é somente pensar na integridade e bem-estar daquela pessoa, e dali em diante é o Começo, e não o fim de uma linda jornada a dois.
Trecho do livro “Questões de vida para a vida”, do professor Lúcio Reis.
Direitos autorais da imagem de capa: Chermiti Mohamed/Unsplash.