Em uma sociedade onde o envelhecimento feminino é motivo de vergonha, conseguir se assumir e ajudar na construção de uma consciência coletiva é uma forma de resistência.
O surgimento de rugas, a ausência do colágeno e o aumento dos números que marcam a idade no RG das mulheres é encarado, na sociedade ocidental, com receio.
O próprio tecido social encoraja a realização de procedimentos estéticos, de cirurgias plásticas e até mesmo de uma mudança radical na aparência.
É como se as mulheres não estivessem permitidas a envelhecer, e assumir que a idade e a sabedoria estão chegando, é motivo de vergonha.
Assistir o passar dos anos de famosas, até mesmo para a própria mídia, soa como uma afronta aos padrões de beleza estabelecidos, que colocam as mais jovens em um pedestal, restando às outras, mesmo que melhores no ofício, o lugar de “ultrapassada”.
Mas o que ninguém conta, nessa solitária jornada pela idade, é que os anos são capazes de trazer muito mais do que sabedoria, são capazes de nos fazer enxergar certas realidades do mundo, inclusive qual nosso espaço nele.
A beleza não deve ser encarada como uma unidade de medida, ou como uma função que as mulheres precisam cumprir, e sim como uma possibilidade de expressão e autoafirmação.
Os infinitos caminhos que podemos pegar quando o assunto é aparência acabam sendo sufocados pelo ideal alimentado por grandes indústrias, pelos estereótipos sociais e demais construções arquitetadas, em sua grande maioria, pela figura masculina. Quantas vezes você não se arrumou para receber a aprovação de outras pessoas, principalmente homens?
Ao mesmo tempo, esse caminho não é uma via de mão dupla. É constante a presença de homens que mal sabem como realizar processos básicos de higiene, que não se arrumam da mesma maneira que as mulheres, e que não perdem o mesmo tempo nessa tentativa de adequação.
Além de precisar cumprir a jornada no trabalho remunerado, em casa (os afazeres domésticos são realizados majoritariamente por mulheres no Brasil e no mundo), cuidando dos filhos, ainda precisamos arrumar tempo para os rituais de beleza.
É como se a obsessão pela aparência tivesse sido construída como mais uma forma de fazer com que as mulheres percam seu precioso tempo, correndo atrás de um padrão inatingível.
A escritora norte-americana Naomi Wolf, em 1992, alertou as mulheres de que a beleza era uma unidade de valor semelhante ao ouro, e que os homens davam e tiravam das mulheres conforme lhes fosse mais benéfico.
Essa análise foi escrita em seu livro “O Mito da Beleza: Como as imagens de beleza são usadas contra as mulheres”, onde ela também observa que as gerações mais jovens sempre acabam rompendo com as mais velhas.
O rompimento entre os elos geracionais acaba fazendo com que as mulheres, tanto as mais jovens quanto as mais velhas, não tenham onde se apoiar, sem nenhum tipo de referência, gerando uma competição desonesta entre elas.
Quando as mulheres atingem o meio do caminho entre a fase idosa e a vida jovem, acabam percebendo que esse rompimento apenas serve como uma forma de fazer com que as gerações criem uma estrutura mais organizada e inteligente, capaz de abandonar os estereótipos e os padrões de beleza em busca de uma vida saudável.
Cada pessoa tem o direito de fazer aquilo que a deixa feliz, e isso, obviamente, inclui fazer parte das normas sociais, caso seja seu desejo. Mas é sempre importante lançar um olhar mais crítico quando o assunto envolve o bem-estar e a saúde física e emocional de mulheres.
Sabemos o quão desleal pode ser o jogo da beleza, sabemos que as mulheres que se impõem, que mostram tomar as rédeas da própria vida, acabam não agradando à sociedade.
Mas quando atingem seus 40 anos, muitas são capazes de compreender justamente esse truque. Talvez porque sintam que vão começar a ser afastadas dos círculos sociais que antes faziam parte, ou porque viveram o suficiente para saber que o que importa é apenas que estejam felizes.
A maturidade, a segurança e a sabedoria tomam o lugar da efusividade e da ansiedade dos anos mais jovens.