Existe um bem mais precioso que o tempo? É a moeda da vida, o recurso finito mais básico, e temos a responsabilidade de gastá-lo com sabedoria.
Cabe a nós, individualmente, descobrir o que isso significa. Para mim, isso significa estar atento às pessoas, atividades e pensamentos aos quais dedico meu tempo e energia.
Sou uma leitora compulsiva e, em todos os momentos, tenho pelo menos seis livros na minha lista. Eu digo a mim mesma que não vou mais ler nenhum livro até que eu termine de ler os que já comprei, mas nunca me escuto e fico feliz por isso, porque ler é uma das formas mais sábias e agradáveis de passar o meu tempo.
Eu tento estar ciente do que me faz crescer e do que me diminui e pretendo usar meu tempo de acordo com isso.
Entretanto, esta não é uma tarefa fácil, especialmente com a constante atração da tecnologia e dos smartphones.
Ao contrário dos livros, a fuga que esses dispositivos oferecem pode rapidamente me levar a um buraco de ansiedade onde sinto minha inspiração ir embora e a insegurança tomar seu lugar.
Pode ser por eu me sentir culpada por desperdiçar tanto tempo, cansada de ficar olhando para uma tela eletrônica durante horas ou porque começo a me comparar negativamente a outras pessoas, no final das contas eu sempre chego à conclusão de que meu tempo poderia ter sido melhor aproveitado.
Muitas vezes, após essas compulsões tecnológicas fico com uma sensação incômoda de vazio e, apesar da vasta gama de conexões oferecidas pela tecnologia, uma sensação vaga de desconexão também se dá através delas. Eu não quero passar o meu dia no celular mas às vezes me sinto compelida a fazer isso.
Todos nós temos uma necessidade básica de pertencer, e a popularidade das redes sociais pode ser resumida à capacidade que ela tem de atender a essa necessidade. No entanto, é importante ter em mente que as complexidades e imperfeições da vida real são frequentemente encobertas ou editadas por completo. Comparar sua vida real com a persona digital criada por alguém é injusto e irrealista, e isso nos deixa decepcionados.
As redes sociais também podem nos assombrar, bombardeando-nos com o conteúdo de pessoas que queremos deixar em nosso passado.
Eu não tinha entendido por completo esse efeito prejudicial, até que meu uso das redes sociais piorou uma recente experiência amorosa que terminou de forma dolorosa. Como uma brincadeira de mau gosto, de repente minha tela estava completamente preenchida por ele. E não apenas ele, mas tudo o que ele fazia e com quem estava também.
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Não demorou muito para que esse conteúdo passasse de estar somente na tela do meu celular para ocupar por completo os meus pensamentos; todo o meu mundo foi consumido com lembranças do quanto ele me magoou e os sentimentos de tristeza, perda, raiva e ciúmes que acompanhavam essa lembrança.
Eu pensei que ser forte significava que eu não deveria ser afetada por algo tão bobo e trivial quanto o Twitter ou o Instagram, mas não importa o quanto eu não queria ser afetada, a verdade é que eu estava. E o efeito que as redes sociais pode ter em nossos sentimentos de autoestima não é trivial.
Somente quando aceitei isso comecei a me movimentar para aliviar a dor dessa decepção amorosa. O primeiro passo foi usar o meu tempo para coisas que acrescentavam, como ler, escrever e estudar. Atividades que me proporcionam uma cura real e sustentável.
Quando uso as redes sociais, hoje, eu me asseguro de que meu feed esteja repleto de postagens que eu goste de ver e que me ajudem a crescer, em vez de coisas que possam me diminuir. E eu compartilho posts que são uma expressão dos meus sentimentos ou, pelo menos, que possam fazer bem a alguém.
Eu também fiz um compromisso de estar presente comigo mesma e com o que eu sinto, sem julgamento, em vez de usar as redes sociais para me distrair dos meus sentimentos. Essa prática consciente, embora difícil, vale o esforço porque me permite fortalecer minha capacidade de tratar estes sentimentos como válidos, porém fugazes, em vez de resistir ou deixar com que eles me consumam.
Desgosto e dor são parte da experiência humana. É útil lembrar de que não estou sozinha e poder estar perto das pessoas que amo – off-line – e me permitir ser vulnerável o suficiente para expressar o que estou passando.
Para mim, muito das redes sociais abafa meu senso de conexão com os outros porque eu recuo quando começo a acreditar que minha vida não é tão excitante ou significativa quanto a das outras pessoas.
Aprendi a limitar o tempo que gasto alimentando essa insegurança com redes sociais e preenchendo esse tempo com algo totalmente diferente. Eu reconheço que essa tecnologia é o novo terreno na paisagem das comunicações, e pode ser uma ferramenta fantástica e divertida, se eu souber utilizá-la com responsabilidade.
É provável que este texto chegue até você por meio de uma rede social e agradeço a oportunidade que ela oferece de compartilhar um trabalho que eleva nossa consciência e conscientização. Por causa das redes sociais, aumentei minha exposição a sites e canais que facilitam o crescimento pessoal, como este, mas tive de aprender a ficar mais atenta quando não há problema em relaxar on-line e quando isso é prejudicial.
Às vezes, eu preciso de uma pausa durante atividades criativas ou de trabalho e as redes sociais podem ser uma boa maneira de fazer isso. Eu sei que preciso parar de consumir tudo isso, quando sinto uma mudança em minhas emoções; quando a diversão despreocupada de me conectar virtualmente e a alegria de compartilhar meu trabalho criativo com pessoas de todo o mundo se torna um ato auto-imposto de negligência.
Eu não quero permitir que meu tempo passe em um fluxo de postagens e atualizações. Quando sinto essa mudança, sei que é melhor desligar o celular, respirar fundo algumas vezes e voltar minha atenção e tempo para algo mais enriquecedor.
Eu também percebo agora que é mais benéfico estar presente com o ambiente ao meu redor do que me sintonizar em um mundo digital durante cada momento disponível. Nas caminhadas, nos deslocamentos e na mesa de jantar, gosto de estar totalmente presente com as pessoas e coisas ao meu redor, assim como minhas próprias sensações e sentimentos.
Esses pequenos momentos de união e solidão são férteis e trazem oportunidades de autorreflexão, presença e conexão, mas apenas se eu resistir à tentação de verificar compulsivamente meu smartphone.
A chave aqui é tomar consciência de quantas vezes buscamos nossos telefones para que possamos examinar como usamos nosso tempo e se podemos dedicar um pouco desse tempo a um melhor uso.
Eu me peguei várias vezes, no começo de um desses momentos de consumo excessivo de redes sociais, e intencionalmente deixei meu telefone de lado depois de dez minutos, para que eu não ficasse muito perdida em um ciclo de postagens e atualizações. E em outros dias eu gasto um bom tempo fazendo nada nessas mesmas redes sociais e tudo bem também; é tudo sobre equilíbrio e consciência.
As redes sociais podem ser uma coisa boa, quando as usamos responsavelmente. Quer estejamos nos distraindo do dia cansativo, tomando um café ou conversando, cultivar a presença consciente só enriquece nossas experiências. Acredito que é assim que podemos utilizar sabiamente a pequena quantidade de tempo que temos.
Quando mergulho em momentos de profunda e plena presença, a única resposta que surge é a gratidão, e não consigo pensar em nenhuma maneira melhor de gastar meu tempo do que em um estado de apreciação.
Direitos autorais da imagem de capa: Max Libertine/Unsplash