Paparazzis fotografaram a atriz no aeroporto, e alguns portais de notícias enfatizaram apenas sua mudança física.
O envelhecimento é algo natural na vida de qualquer ser vivo, e não importa de qual espécie ou raça, todos vamos ver a idade passar. Faz parte da ordem natural do processo de vivenciar o mundo adquirir não apenas rugas, mas também conhecimento e mais tranquilidade. Mas não são todas as pessoas que aceitam essa passagem do tempo, principalmente quando estão inseridas em ambientes que exigem a beleza da jovialidade.
Em alguns espaços, principalmente naqueles em que a exposição midiática é maior, grande parte dos artistas ou profissionais se veem pressionados a correr contra o tempo, em uma maratona onde não existe linha de chegada. Não são poucos os relatos de famosos que se sentem prejudicados depois que envelhecem, perdendo papéis em filmes ou peças porque não preenchem mais um local esperado pelo público.
Os impactos de abordagens idadistas podem envolver prejuízos emocionais, físicos e até mentais. Quem se incomodou com a forma como a mídia trata as personalidades mais velhas foi o ator Cauã Reymond, de 41 anos. Depois que uma reportagem saiu na imprensa, em 2015, falando sobre o processo de envelhecimento da atriz Vera Fischer, hoje com 70 anos, de maneira pejorativa, ele usou as redes sociais para manifestar sua insatisfação.
A atriz Vera Fischer foi vista sem maquiagem no aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, e foi chamada pela jornalista de “irreconhecível”. Na imagem usada para ilustrar a reportagem, duas fotos comparando o antes e o depois da artista foram usadas, além de reforçar que ela já foi miss Brasil, em 1969.
Nas redes sociais, Cauã Reymond compartilhou um texto da jornalista Cora Rónai sobre “pobreza de espírito reinante”, fazendo das palavras delas as suas. Na postagem, a abordagem sobre o envelhecimento se faz presente, afirmando que “as pessoas perderam a noção de tudo”, inclusive da língua portuguesa.
De acordo com Rónai, não faz sentido afirmar que a atriz estava “irreconhecível” se, no corpo da matéria, existiam informações de que fãs a abordaram para tirar fotos. “Sim, Vera Fischer envelheceu. E daí? Não envelhecemos todos, na melhor das hipóteses? Não estamos todas — e todos — mais cheios de corpo e de rugas, um tanto mais gastos com o passar dos anos?”, aparece na publicação.
A jornalista ainda convoca a pessoa responsável pelo tom da crítica à atriz que se submeta ao mesmo tratamento, permitindo que um clique feito de qualquer jeito dissesse como está. Insatisfeita com o que chamou de “cultura de celebridades” e “não notícias”, ela ainda defendeu que o constante bullying contra famosos impede-os de “viver como seres humanos”, sem abrir margem para dias bons e ruins.
Cansada da cultura que enaltece a juventude e a beleza como qualidades morais, a jornalista disse que apenas em raras exceções a pessoa idosa é aceita, mas sempre ressaltando sua “aparência jovial”, como se a juventude fosse uma virtude e a velhice “uma moléstia horrenda” que todos devem evitar.
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Pedindo para deixarem Vera Fischer em paz, ela ainda afirmou que o preconceito contra a velhice era “idiota”, já que todos vão sentir a idade chegar, se tiverem sorte. A publicação teve 189 mil curtidas e 15 mil compartilhamentos em pouco tempo, e o público, em sua maioria, apoiou o ator, reforçando que a mídia frequentemente pune atores e atrizes mais velhos por conta de suas aparências.
Para muitos, o envelhecimento é natural, e os profissionais que abordam os artistas dessa forma deveriam se envergonhar do trabalho que fazem. Outros seguidores ainda ressaltaram o fato de seu trabalho quase não ter sido mencionado, como se seu único atrativo fosse a aparência.