Com uma década de confronto, a guerra civil na Síria fez milhões de pessoas buscarem outros países para se refugiar, incluindo Razan Suliman.
Em março de 2011, manifestações pacíficas contra o presidente sírio, a favor da democracia, começaram em Deraa, no Sul do país. A “Primavera árabe”, uma série de protestos e revoluções contra regimes autoritários no Oriente Médio, teve início na Tunísia, apenas alguns meses antes, e inspirou outros países a tentar a mesma saída.
Mas na Síria, Bashar al-Assad reprimiu de maneira violenta os protestos, fazendo com que a população tomasse as ruas de todo o país pedindo sua renúncia. Partidos de oposição começaram a se armar, buscando se defender e retomar suas áreas do controle do governo. A violência aumentou de maneira exponencial e o país entrou em guerra civil.
Com o passar das semanas, grupos de rebeldes começaram a surgir e o conflito acabou tomando outras proporções, saindo da disputa entre quem era a favor e quem era contra Assad. Potências estrangeiras começaram a tomar partido, enviando armas e mais pessoas para os combates, inflando ainda mais as disputas.
O Estado Islâmico e a Al-Qaeda acabaram se envolvendo no conflito, fazendo com que a comunidade internacional ficasse ainda mais preocupada. O Observatório Sírio para os Direitos Humanos estima que, até dezembro de 2020, mais de 387 mil pessoas morreram nos confrontos e mais de 205 mil estão desaparecidas.
A guerra, além de acabar com a economia e provocar a morte de muitas pessoas, também deixou mais de 2 milhões de feridos ou incapacitados permanentemente. Antes de 2011, a Síria tinha uma população de 22 milhões de pessoas, mas metade dessas foram obrigadas a deixar suas casas depois de 10 anos de guerra. A ONU anunciou que, em janeiro deste ano, mais de 13 milhões de sírios precisavam de assistência humanitária dentro do seu país, com crianças sofrendo desnutrição crônica.
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Na época em que o confronto começou, Razan Suliman era casada e tinha dois filhos, mas por ser muçulmana sunita acabou encontrando dificuldades para permanecer no país em segurança. Seu marido atuava no exército de Bashar al-Assad, e não aceitou quando ela pediu o divórcio, a ponto de cometer violência doméstica e familiar invadindo sua casa.
Quando percebeu que ela não ia voltar, resolveu fugir com as crianças para a Alemanha, e Razan nunca mais conseguiu vê-los, nem sequer fazer ligações telefônicas para eles. Depois que as crianças foram sequestradas pelo próprio pai, ela se casou novamente, mas viu Aleppo, sua cidade, ser reduzida a ruínas pela guerra.
![Refugiada da guerra na Síria cria restaurante de comida árabe em SP para recomeçar a vida](https://osegredo.com.br/wp-content/uploads/2021/11/2-Refugiada-da-Guerra-na-Siria-cria-restaurante-de-comida-arabe-em-SP-para-recomecar-a-vida-400x379.jpg)
Passando fome com seu marido, eles decidiram se mudar para Damasco, capital do país, viagem que fizeram a pé. Foram mais de 300 quilômetros e, de acordo com entrevista ao site Aventuras na História, ela perdeu a conta de quantos corpos viu pelo caminho. Em choque e completamente horrorizada com aquilo em que seu país tinha se transformado, ela e Mohamed foram para Beirute, capital do Líbano, onde ficaram por três meses.
Depois desse tempo, tentaram se mudar para a França, mas foram impedidos antes que conseguissem sair do Líbano. Desesperados e sabendo que precisavam encontrar outro local para morar, decidiram se refugiar no Brasil, uma cultura da qual pouco sabiam e onde não havia nenhum amigo ou parente.
![Refugiada da guerra na Síria cria restaurante de comida árabe em SP para recomeçar a vida](https://osegredo.com.br/wp-content/uploads/2021/11/3-Refugiada-da-Guerra-na-Siria-cria-restaurante-de-comida-arabe-em-SP-para-recomecar-a-vida-400x392.jpg)
O casal chegou ao país em 2014, usando apenas a roupa do próprio corpo e sem saber falar nenhuma palavra do nosso idioma. Foi apenas por conta do apoio da comunidade muçulmana em São Paulo que ambos conseguiram se estabelecer na cidade, chegando a abrir um restaurante de comida árabe em busca da melhoria de vida.
Razan e Mohamed tiveram mais três filhos, e ela explica que os brasileiros a receberam de braços abertos; sente-se muito feliz por ter escolhido morar aqui. Mesmo assim, ela conta que aquela sensação de pertencimento ainda fica a cargo da Síria e que espera um dia poder voltar ao seu país, para que seus filhos tenham a oportunidade de conhecê-lo.
![Refugiada da guerra na Síria cria restaurante de comida árabe em SP para recomeçar a vida](https://osegredo.com.br/wp-content/uploads/2021/11/4-Refugiada-da-Guerra-na-Siria-cria-restaurante-de-comida-arabe-em-SP-para-recomecar-a-vida-400x398.jpg)
Os brasileiros se mobilizaram em uma vaquinha online para ajudar Razan e sua família. Com a meta de R$ 30 mil, já conseguiram mais de R$ 20 mil e querem realizar o sonho de montar uma cozinha industrial no fundo de casa, além de aumentar a quantidade de utensílios para produzir seus deliciosos pratos típicos.
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