Isso não é com algumas mulheres, acontece muito, de 10 a 08 já tiverem e tem relacionamento abusivo, todas mencionam ter tido problemas de saúde ao longo do relacionamento com pessoas narcisistas e antissociais. Efetivamente, ao viver pisando em ovos, com a respiração presa o tempo todo, sob acusações, ameaças, pressão psicológica, jogos mentais e todo o resto que acompanha esta convivência, o corpo se ressente. Não adianta se iludir, achar que a pessoas mudará, não que não acredite que possa, mas sejamos realistas pessoas narcisistas seria uma missão praticamente impossível. Esse tipo de relacionamentos afeta nossa vida, não apenas no momento.
Um caso próximo:
“Não sabia o que era Gaslighting. Também não sabia que eu estava em um relacionamento abusivo. Foi preciso muita terapia e autoconhecimento para entender o que tinha passado.” Quantas vezes me vi no banheiro, toda encolhida, ouvia seus gritos: – Pare de chorar como um neném. Você é louca. Ninguém mais te aguentaria. Orava e me perguntava como me tornei essa mulher? Questionava-me porque aquilo tudo estava ocorrendo comigo. Quantas vezes voltei para aquela cama, em vez de entrar num táxi, e acordei com os braços dele em volta de mim, dizendo que a culpa tinha sido minha? Ele não era assim. Eu é que trazia à tona esse lado dele. Eu tinha de mudar. Parar de acusá-lo. Se eu fosse mais gentil, ele reagiria de outro jeito. Quantos e-mails e mensagens de texto eu encontrei? E negava até a morte. Quantas mentiras difamatórias ele inventou e espalhou para meus antigos colegas e amigos quando o abandonei? Quantas vezes ele manchou minha reputação? Quantas vezes voltei, acreditando nas promessas de que ele era um novo homem, acreditando em cada desculpa? Quantas vezes voltei para ele antes que essas amigas ficassem fartas de me ajudar? Quantas vezes o defendi e justifiquei seu comportamento quando contei para uma amiga o que ele tinha feito? Quando foi que simplesmente parei de contar para as pessoas para evitar a vergonha da loucura que eu estava vivendo – a vergonha de ser uma mulher independente e forte que não conseguia se livrar de uma situação tóxica. Quando foi que parei de ter expectativas? Na minha solidão, não enxergava mais nos olhos dos outros o reflexo que indicava o que era normal. Só enxergava o reflexo nos olhos dele e comecei a acreditar no que ele me dizia sobre mim. Comecei a acreditar nas explicações irracionais dele, apesar do meu coração e dos meus olhos. Deixei que ele definisse a realidade. Me isolei. Era mais fácil cortar minha rede de apoio que ter de mentir. Do que ter de encarar a humilhação da minha realidade. Parte de mim sabia que, quando soubessem tudo o que estava acontecendo, as pessoas me forçariam a sair dali para sempre. Não poderia voltar. E eu sabia que precisaria voltar. Eu vivi o abuso – e revivi várias vezes. E mesmo quando me diziam que era abuso, eu ainda assim negava porque não, ele não poderia fazer isso comigo. Eu não entendia como eu podia amá-lo tanto, mas tanto, que extravasava meu peito e feria minha alma. O amor que eu sentia por ele me consumia por inteiro e ele, enquanto isso, seguia a vida dele normalmente – eu era louca, eu era insana, eu imaginava coisas. Enquanto eu me descabelava, ele lidava com a situação racionalmente. Na medida em que eu chorava mais, mais ele me culpava – ele abaixava a minha autoestima para eu me sentir dependente dele. Ele me fazia me sentir louca para me culpar pelos erros dele. Ele alegava que eu era imatura para que, tudo o que ele fizesse, eu tolerasse. Ele abusava do amor que eu sentia e pisoteava nos meus sentimentos. E o amor, que era amor, virou ódio, rancor, medo e desespero. Demorei para aprender a viver sem ele – e doeu muito, mas muito. Apesar de saber de tudo o que aconteceu e de, hoje, ver com mais clareza a situação e saber que ele é um sociopata e abusou emocionalmente de mim, volta e meia ainda me pego me culpando e me questionando de ele é mesmo esse mostro que se mostrou – como não pude perceber antes? Sempre me pergunto… sem respostas. Ele parecia um sonho e virou um pesadelo. Dói admitir que a loucura dele me deixou louca também – ele tinha razão, eu estava fora de mim, mas não por minha causa – e isso ele não via. Nem eu. Eu acreditei que estava louca, duvidei de minhas próprias verdades, vez que ele distorcia a realidade e, apesar de tudo já ter passado, muitas vezes ainda custo a acreditar no que aconteceu. Será que era eu?
Violência emocional: a pessoa te xinga; mente, trai, descumpre acordos; reage violentamente se você faz qualquer coisa que a própria pessoa fez sem demonstrar remorso; reage desproporcionalmente a qualquer coisa que a desagrade, mesmo que pareça não fazer sentido; age de forma punitiva quando você faz qualquer coisa que a desagrade (ex: exigindo que você peça desculpas exageradamente, que você “pague” ou “se redima” pelo que fez, pedindo supostas provas de amor e sacrifícios em troca de perdão); controla com quem você anda, o que faz, o que veste (este controle pode ir desde demonstrar desaprovação, reclamando dos teus amigos, das tuas roupas, das tuas escolhas, a impedir fisicamente/com ameaças que você veja certas pessoas/vista certas roupas/faça certas coisas); controla o teu uso de dinheiro (ex: exigir que você pague por tudo, criticar excessivamente os teus gastos pessoais, pedir dinheiro e bens materiais como provas de amor); viola tua privacidade, lendo tuas mensagens e e-mails, mexendo nas tuas coisas, frequentemente aparecendo sem avisar no teu local de estudo, trabalho ou residência; faz questão de saber onde você está, e com quem, a cada momento, pedindo detalhes; te critica, humilha, age como se tuas opiniões e conquistas não fossem importantes; tenta te virar contra tua família e amigos, especialmente se estes já repararam no abuso e portanto não aprovam o relacionamento.
Quando tudo terminou, não tive direito a luto. Ninguém era capaz de entender como amor, ódio, medo e conforto podiam coexistir. Não entendiam que, além de abusar de mim, ele era meu confidente, a pessoa para quem eu cozinhava, a pessoa que passava o domingo chuvoso assistindo TV comigo, a pessoa que ria comigo, a pessoa que me conhecia. Perdi meu companheiro. Como explicar que o abuso era só uma parte dele? Como explicar isso para si mesma? Até hoje lembro de momentos carinhosos e me pergunto se as coisas eram tão ruins assim. Ainda tenho dificuldade em reconciliar como ele podia me amar e me machucar como seu eu fosse a inimiga. Como uma criança, estou aprendendo a redefinir as fronteiras do comportamento normal e a realinhar minhas expectativas. Tenho de lembrar que atos de violência nunca podem ser atos de amor. Pela primeira vez, enxergo meu próprio reflexo em outras mulheres que saíram da profundeza do abuso. Mulheres indescritivelmente corajosas que nunca conheci, mas que compartilharam suas histórias e, ao fazê-lo, me salvaram. Essas mulheres me abraçaram com sua dor e, mesmo sem saber, me convenceram de que eu não estava sozinha, que mereço mais. Fazia muito tempo que não acreditava nessa verdade. Saber que outras mulheres passaram pelo mesmo permitiu que a vergonha se dissipasse. Eu costumava achar que era louca ou sensível demais porque não conseguia conciliar o amor com o abuso. Me permiti aceitar que ambos existiam. As histórias delas me permitiram me perdoar. Reconhecer como aquela fronteira era arbitrária. Me reconhecer nos olhos dela permitiu dar nome à pessoa que abusava de mim. Dar nome à minha experiência de vítima de abuso. E me libertar.
Espero que minhas palavras abracem outras mulheres. Espero que elas deem a força e o amor de que elas precisam para sair das profundezas.
Ainda hoje é difícil, todo abuso gera traumas. Eu me tornei mais forte quando não tinha força alguma, eu precisei me reerguer pra me sentir feliz comigo mesma, pra me sentir mulher. Escrevendo esse texto e escutando as minhas palavras, fica mais clara a importância de se falar cada vez mais sobre esse assunto. Eu precisei me ouvir e eu sei o quão difícil é aceitar que se esteve numa situação dessas. Hoje eu estou começando a conseguir falar sobre isso. Foi preciso me redescobrir, me encontrar, me aceitar, resgatar a minha liberdade. Quando você conseguir sair de vez, é possível que os problemas não acabem com o fim do relacionamento. A pessoa abusiva é imprevisível, e pode insistir por um tempo; você pode continuar com medo não só de quem te abusou, mas de futuros relacionamentos; você pode ter reações intensas a coisas que te lembrem o trauma (ficar especialmente sensível a possibilidades de violência, por exemplo); você pode pensar em voltar; você pode, de fato, voltar – o que esperamos que não aconteça, mas acontece com frequência, e você não deve se sentir fraca por isso –; você pode sofrer de sintomas de estresse pós-traumático. Mesmo assim, tudo isso será melhor do que continuar sofrendo o abuso, e, se você puder, procure ajuda para superar o trauma e o sofrimento dele decorrente. Outro relacionamento amoroso é algo muito distante na minha vida. Quando quero saber de romance leio um livro, assisto um filme. Minha libertação foi a um ano, ainda não consigo pensar realmente em deixar outro homem se aproximar. A gentileza masculina me deixa permanentemente desconfiada.
De fato, pode ser extremamente difícil reconhecer que se está sendo abusada emocionalmente quando o controle e a manipulação vem mascarados com gestos de afeto e palavras de gentileza. O tempo passa e você deixa de se reconhecer, abre mão das coisas que são importantes para você, desconstrói sua personalidade na crença de está sempre errada, que não é tão boa assim, que os problemas do relacionamento são culpa sua. Aí vem uma imensa infelicidade e você não sabe exatamente porque. “O ‘fulano’ é tão legal”. Porque é que eu não estou feliz com ele? A culpa deve ser minha. Coitado! E ele me aguentando.” Talvez o fulano nem saiba, mas o comportamento dele é tão ou mais monstruoso do que o do cara violento, que mostra logo a que veio e ao menos te dá uma chance de se horrorizar e fugir. Desacreditar alguém perante si mesmo é um tipo de estelionato. Quando acaba, além de ser furtado, quando tudo acaba você ainda se sente um tanto estúpido. .
Esse tipo de pessoa sente como se merecesse tudo a troco de nada. São pessoas extremamente manipuladoras.
Esse Trecho abaixo extraí do Blog da Isabela Freitas, o autor desse texto descreveu perfeitamente o recado que gostaria de deixar nesse post.
“Eu não sei quando foi que você deixou de ser sua para se doar todinha a um cara que, pode até ter convencido no começo, mas na verdade, nunca teve habilidade para te cuidar do jeito que você merece. Não sei o motivo que te faz prolongar a vida desse relacionamento que há meses, respira por aparelhos. E também não sei de onde você tira forças para carregar nas costas, o peso dessa bagagem abarrotada de problemas, desleixos, desequilíbrios, falta de atenção, infantilidade e ordens que você sabe que não deveria obedecer, mas acaba cedendo aos absurdos impostos, só para ficar “tudo bem”.
Olha, isso daí está errado. Está errado para caramba. Porque a partir do momento em que você substituiu os seus sorrisos sinceros, por suspiros de insatisfação, a sua felicidade começou a fazer as malas para ir embora. E, pelo visto, foi. Sem sequer dizer um tchau para notificar esse teu coração que tem andado tão apertado e dolorido ultimamente, né?
Mas olha, hoje eu gostaria de te falar umas coisas e te abraçar. Assim mesmo, através das palavras. Queria dizer que, mesmo não te conhecendo, eu sinto muito. E, daqui, eu não aceito a realidade que você está vivendo, daí. Porque eu sei que, às vezes, quando estamos lidando com algo que ao invés de clarear a nossa vida, só nos confunde, tudo o que a gente precisa é de alguém que chegue e fale baixinho: você não merece passar por isso. Se livra disso tudo, porque você é mais. E, se você não acredita que consegue, eu acredito.
E é por acreditar que você consegue, que eu quero te encorajar. A ser menos dependente. Menos medrosa. Menos privada. Menos submissa. Mais firme. Mais decidida. E mais feliz. Tudo o que eu quero aqui, é fazer com que você perceba que, permanecer dentro de um relacionamento que só aperta os seus pulmões, é suicídio lento. E, eu preciso te dizer que não vale a pena morrer por quem não morreria pela gente. É burrice.
Entenda que a sua vida, é só sua. E ninguém é dono de ninguém, não. As pessoas precisam uma das outras para se fortalecerem, mas isso não significa que elas DEPENDAM de alguém para serem fortes. Principalmente quando esse alguém, só lhe faz se sentir cada vez mais fraca e impotente. Portanto, saia dessa, menina, moça, mulher. Volte a ser dona dos seus sorrisos, das suas roupas, do seu corpo e, principalmente, de você.
Porque em caso de sofrimento, evite reticências. O ponto final é necessário. Vai doer no começo porque é normal. Afinal, a função da saudade é causar terremoto no coração e provocar uma tempestades nos olhos. Mas isso passa. Confia em mim, que passa. Porque onde há desgaste, não tem amor. Tem a falta dele. E, se quando assistimos a um filme várias e várias vezes, decoramos suas falas, quando damos muitas chances, já estamos acostumados com a dor. Então, por favor, desacostume!“