Há dias em que o coração acorda apertado, pois a estrada é amor que não acaba. A vontade é levantar, colocar a mochila nas costas e sair por aí. O mundo é tão grande para ficar em um só lugar. A saudade é de tudo. Desde o planejamento até cada dia viajado. Saudade das mudanças que ocorrem ao longo do caminho, das surpresas vividas a cada dia, de caminhar por horas e a leveza do momento tornar suas pernas mais fortes. E aqueles sotaques ao pé do ouvido, daqui e de lá, línguas diferentes, comidas. Frio na barriga que nasce desde a primeira pesquisa nas passagens, até a arrumação das malas. Como é bom ir. Seguir caminhos novos, conhecer estradas jamais imaginadas.
Tudo vira aventura em uma viagem. Rimos até dos perrengues. A perspectiva é outra, as coisas parecem resolutas como mágica, mas não é nada disso, estamos apenas mais leves e positivos. É, eu sei, aquele espírito livre e leve que jamais deveria nos abandonar. O peso da mochila nos ombros é um incômodo passageiro, mas nada custa se livrar de alguns pertences pelo caminho, até porque sempre levamos mais do que realmente precisamos. Ah, como é bom estar menos conectado à esse mundo globalizado. Passar tanto tempo sem prestar atenção em uma televisão, saber de poucas notícias e usar o Facebook apenas pra mostrar pra sua mãe que você está viva. É reconfortante ver o mundo diante dos seus olhos, assistir a bondade das pessoas ao invés de engolir a força notícias de catástrofes humanas replicadas ferozmente por tanto veículos de comunicação.
Ah, como é bom filosofar sobre a vida com uma pessoa que você conheceu há meia hora e mesmo assim vocês se escutam tão bem que a prosa rende. Essas grandes amizades que duram horas ou dias são só a vida mostrando que não é nada efêmera, que cada segundo é eterno. Autoestima é algo que se você tem, melhora e se não tem, você acha. E é aquele papo de se amar e se sentir confortável mesmo naquele dia quando andamos uma cidade inteira e ainda por cima sem maquiagem. Sentir qualquer lugar como seu lar! Falar no fim do dia “em casa a gente pensa nisso. Mas você mora aqui? Bem, minha casa é onde eu estiver”. Aquela mala/mochila, cama/colchão é seu cantinho, isso torna aqueles dias de saudade de casa mais tranquilos. É um pertencer às suas raízes e onde quiser ir. É alguém que nem fala a mesma língua que você ter zelo, te abraçar e te dar biscoitos e sucos para que não sinta fome. É ter melhores amigos feitos em 2 dias e chorar ao seguir.
Todo dia é corrido. Vários lugares a serem conhecidos e o dia apenas com 24 horas. Tanto lugares para conhecer e alguns dias é preciso descansar (em viagens longas, uma pausa, um dia mais pacato é essencial). Dormir no trem receando perder a estação, no chão do aeroporto, no saco de dormir no chão de uma sala, olhando a paisagem. Todo dia é novidade e no final do dia, já sabemos voltar “para casa” sem mapa.
Dá saudade dos dias de verão com pôr-do-sol às 10 da noite. De ver a cordilheira todo dia. De acordar as 5 da manhã para realizar um sonho. De por uma noite ter um quarto de hostel só seu e da sua amiga, ouvindo no repeat aquela música linda que te lembra tantas coisas. Saudade de dançar música latina como se não houvesse amanhã e ter uma música pra lembrar sempre desse dia. Saudade de ouvir “bongiorno” e comer gelato todo santo dia. Saudade de ter família por qualquer canto, até em hostel no sul do Brasil. Saudade das belezas incontáveis que esse mundão todinho tem. Saudade de conhecer ilhas mágicas. Saudade de ver falésias de sol ou de frio. Saudade… Quanto mais canto conhecemos, mais saudade habita em nós. É saudade daqui e de lá. Saudade da sede de explorar, contemplar, sentir cada novo lugar. É… Viajar causa saudade crônica!
São tantos encontros, tantas histórias pelo caminho que jamais imaginávamos viver. A estrada é linda de qualquer forma. Seja de avião, navio, ônibus, trem, moto, carro ou bicicleta, ela te proporciona aprendizados, meu amigo, que você não vai achar em outras ocasiões. Ela te leva a lugares (dentro de nós) que comumente tentaríamos fugir. Ela abre outros caminhos. Ah, a estrada faz muita falta. Quando você pega o jeito, ir é tão bom quanto voltar. A estrada se torna sua casa também e por isso que há dias nos quais a saudade chega forte, de fazer a gente contar tempo, pra saber o exato tempo da abstinência. Até breve, estrada! Ainda nos veremos muito, tem muito mundo para conhecer.