Se me convidares para ficar, vou desfazer minha mala pela última vez.
Não teremos mais despedidas e partidas, só chegadas e reencontros breves, diferentes da eternidade com que nos sufoca hoje à distância.
Se me pedires para ficar, antes mesmo que termines a frase, meu corpo responderá que sim, num abraço apertado, daqueles que não se quer largar.
Se me pedires para te esquecer, para apagar da memória todos os sonhos daquilo que não vivemos, para que eu te deixe em paz, não ligue e nem escreva mais, igualmente atenderei teu clamor.
Vou sofrer, vou ter que te matar aos poucos dentro de mim. Vou me perder várias vezes depois disso em meus pensamentos, que seguem insistindo em te trazer para perto.
Mas vou conseguir. Não imediatamente, não hoje e nem amanhã. Um dia. E quando este dia chegar, tuas lembranças não vão mais resultar em lágrimas ou sorrisos em meu rosto.
Serão somente lembranças opacas, tênues, despretensiosas.
Quem sabe um dia até te esqueça por completo, não lembre mais teu nome, telefone, teu e-mail, teu endereço, teu gosto, teu perfume. Quem sabe?
E neste dia, vou respirar bem fundo e te dizer em voz baixa, em meio-tom, num volume suficiente para que consigas me ouvir, através da brisa que soprará fraquinha em teu ouvido, como se fosse somente vento, que a partir de agora tua vida deve seguir como outrora, sem planos para o futuro, sem promessas, sem continuidade da nossa história.
E, neste dia, te libertarei de mim, para que sigas tua vida, sabendo que aqui do outro lado, para ti, não existe mais ninguém.