A bagagem estava pesada demais, o peso do que eu carregava – sem necessidade – começou a me dar dor nas costas, desânimo, arrancou meu bom humor, meu sorriso, minha vontade de viver. Eu andava triste demais, não me reconhecia, não queria levantar da cama, evitava o reflexo do espelho. Algo dentro de mim estava muito errado, mas eu não conseguia consertar. Na verdade, não sabia como curar.
Fui empurrando as mágoas para debaixo do tapete, fui ignorando o que apertava o peito, o que me desestabilizava. A ferida fechou – do jeito errado.
Ignorar o que dilacera o coração, no primeiro momento, pode parecer a melhor forma de estancar a sangria, mas o que a gente esquece é que no fundo, a dor ainda tá lá, quietinha esperando o momento certo para dar o ar da graça e, geralmente quando ela volta, passa a ter peso dois.
Não há um plano B. Não tem como escapar do que cresce em você, mas a notícia boa é que você pode escolher o que fica e o que vai. Comigo foi mais ou menos assim: criei coragem para visitar o passado. Enfrentei fantasmas doutora que me metiam um baita medo. Entendi a ausência, a falta de afeto, a solidão. Me olhei, me respeitei e conclui que não há nada de errado comigo, que algumas coisas estão fora do meu alcance, inclusive, os sentimentos alheios. Me despi, tirei a máscara do “Ah, tá tudo bem comigo sim, obrigada”.
Abri o machucado, doeu, doeu pra caramba. Chorei feito criança, pensei que não conseguiria, mas vejam só, dessa vez a ferida cicatrizou do jeito certo. Claro que, não consegui essa proeza sozinha, precisei de ajuda, de colo, de alguém que me olhasse com ternura e que dissesse: “Você não está só no mundo! Eu não vou desistir de você! Você consegue, minha menina.”
De tudo que me maltratava, que me impedia de enxergar as cores do mundo, só restou uma marquinha, pra me lembrar que foi difícil, mas que eu sobrevivi. Quando percebi que perdi tempo demais sendo espinho, me permiti florescer – floresci. Hoje sou flor!
Permita-se!