Quando eu era criança minha prioridade era brincar na companhia de amigas que eu dizia que seriam para sempre. Quando eu era adolescente minha prioridade era paquerar e compartilhar tudo com as amigas. Na fase adulta, as prioridades mudam. As responsabilidades assumem o caminho. A gente troca Yakult por uma cerveja bem gelada, trocamos cinema por balada, trocamos a balada pra terminar o trabalho da faculdade e trocamos uma noite na faculdade pra salvar uma amiga de uma enrascada.
Dentre tudo que vai acontecendo de novo em nossas vidas, vamos contando a alguém. Certamente alguém que confiamos. Alguém que não trocaríamos por nada. Criamos laços infinitos quando encontramos nossos irmãos de vida e, independente da fase que estamos na vida, estamos sempre acompanhadas por um amigo.
Algumas amigas do meu para sempre já não estão mais presentes. Mas o para sempre foi o suficiente para não esquecê-las. Hoje eu tenho uma velharia de grandes amigos. Amigos que, com certeza, cobrariam taxa pra eu morar no coração de cada um ou me trocariam por qualquer copo de caipirinha. Tenho amigas de infância, de bar, de cinema e pipoca, amigas que lembram do meu aniversário sem o lembrete numa rede social. Tenho amigos de vodca com Schweppes, amigos de uísque com energético, amigos para conversar como se o dia não tivesse fim, de não fazer nada e ainda assim animarem o meu dia.
Tenho amigas que me mandam mensagens dizendo que sentem a minha falta. Amigos que me surpreendem com presentes. Amigas que falam “se você não for, eu também não vou”. Tenho amigos que fazem papel de irmão mais velho, amigas que fazem papel de psicóloga e amigas que são tão eu, que irrita. Tenho amigos virtuais que me fazem esquecer que a distância existe.
Tenho amigas feministas que certamente me defenderiam de qualquer sapo adorável, amigos que puxam minha orelha quando necessário e amigos que dizem que a fase ruim vai passar. E com eles, sempre passa mesmo. Tenho amigos de risadas contagiantes, de passos estranhos, de cueca rasgada, de manias bizarras, de ciúmes bobo e amigos que não precisam encher a cara para se divertir.
Tenho amigas casadas, que trabalham, têm filhos, o sexo já tem data marcada no calendário, mas, ainda assim, tem tempo pra escutar sobre meus problemas. Tenho amigos de viagens anuais, amigos românticos e amigos cafajestes também. Amigos com monocelhas, outros calvos. Amigos com sotaque invejável e amigas com chiliques desnecessários. Tenho amigas ingênuas, que provavelmente enxergam unicórnios e brownies de morango voando em sua janela. Tenho amigos que acreditam em amor eterno, mas não acreditam que o Severo Snape era do bem.
Embora eu enxergue fogos de artifício quando estou apaixonada, embora eu seja desnaturada, suma por semanas e reapareça tentando explicar o que não há explicação… eu assumo que a vida não tem graça sem amizades sinceras. Eu sem amigos sou vodca sem gelo, bolo sem brigadeiro, tequila sem limão. A festa é sempre pela metade sem a companhia do que precisamos de verdade. E eu suportaria de coração craquelado e todo remendado no esparadrapo que fossem embora todos os meus amores, mas eu não aguentaria passar o resto da vida sem a companhia de um amigo.
Ter a vida sem um amigo é como ter um pote de sorvete com feijão. Inútil e decepcionante!
Bom mesmo seria se cada amigo meu nunca fosse embora, a raridade de possuir amizades eternas. Se permanecessem colados em mim com Super Bonder e grampeados pelas beiradas, pra não correr risco de qualquer vento levar. Mas é como dizem: da vida nada se leva. Se pudesse, eu levaria todos vocês. O que é verossímil, não cai em contradição, não acaba. Pois tudo o que é verdadeiro, nunca se vai.
Digo e repito, sem titubear que amizade sincera é sinônimo de para sempre (independe da duração do para sempre).
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Por: Ana da Mata