É perfeitamente possível estarmos solteiros e não sentirmos solidão, uma vez que os amigos e encontros casuais podem estar correspondendo a nossas expectativas naquela etapa de nossas vidas. Caso estejamos felizes e cheios de vida ao nosso redor, a solidão permanecerá bem distante, pois estaremos sendo, sobretudo, sinceros com nós mesmos.
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Não há quem nunca tenha se deparado, nas reuniões familiares, com aquele parente, muitas vezes pouco íntimo, que sempre nos cobra um relacionamento, um noivado, um casamento, um filho. Por mais felizes e satisfeitos que estivermos, sempre seremos questionados por ainda não termos dado o próximo passo na vida, no trabalho, nos estudos. Será que não podemos estar bem exatamente onde nos encontramos no momento?
Existem certas expectativas em relação à vida de todo ser humano que parecem absolutas e universais, como namorar, casar e ter filhos, ou seja, quebrá-las em sua aparente normalidade nos torna diferentes da maioria. Ora, diferente não significa melhor ou pior, tampouco implica descontentamento ou infelicidade, apenas se trata de escolhas próprias, que cabem a cada um. Não somos obrigados a agir conforme esperam, mas sim de acordo com aquilo que nos diz respeito, obedecendo aos anseios e sonhos que impulsionam nosso caminhar. E, desde que não machuquemos ninguém nessa jornada, caminhemos na velocidade de nossos próprios passos, em busca de nossas verdades, acompanhados ou não.
Mais do que estar ou não compromissado com alguém, mais do que cursar um mestrado ou MBA, importa a qualidade da vida que escolhemos para nós e o quanto estamos bem com isso. Temos tendência a balizar a felicidade alheia de acordo com os nossos parâmetros, os quais, no entanto, podem não ser de valia alguma para outras pessoas. Existe quem seja feliz solteiro, longe da faculdade, empregado em serviço que dispense terno e gravata, pois os objetivos de vida e os conceitos de felicidade são muito variáveis de pessoa para pessoa – ainda bem!
Ninguém tem obrigação de estar apaixonado ou amando alguém, pois as prioridades são peculiares a cada estilo de vida. Em certos momentos, poderemos estar priorizando situações outras que não um relacionamento amoroso. Ademais, é digno não nos permitirmos um relacionamento enquanto estamos focados integralmente em projetos de trabalho, estudo, ou outro qualquer que momentaneamente nos impeçam de que nos lancemos a uma entrega verdadeira ao outro. Podemos, portanto, estar solteiros, porque temos consciência de que não temos condições, naquele momento, de dividir nossas vidas integralmente. Evitamos, assim, uma entrega parcial, incompleta e que não trará ganhos a nenhuma das partes.
É perfeitamente possível, sim, estarmos solteiros e não sentirmos solidão, tampouco vivermos de maneira solitária, uma vez que os amigos e encontros casuais podem estar correspondendo a nossas expectativas naquela etapa de nossas vidas. Caso a situação não nos incomode, caso estejamos felizes e cheios de vida ao nosso redor, a solidão permanecerá bem distante, pois estaremos sendo, sobretudo, sinceros com nós mesmos. Sempre teremos que tomar cuidado com a forma como estamos lidando com o que estamos fazendo de nossas vidas; se estivermos serenos e tranquilos, rodeados de pessoas que fazemos e que nos fazem felizes, provavelmente não estaremos equivocados.
As opções de vida que surgem à nossa frente diariamente são inúmeras, por isso teremos de optar e escolher o tempo todo, de acordo com o que sentimos, queremos e podemos então ser. Enquanto estivermos caminhando sem hesitação, sem que nossa felicidade seja continuamente pontuada de interrupções por conta do enfrentamento desgostoso do que se fez, e enquanto tivermos amigos verdadeiros ali ao nosso lado, muito provavelmente estaremos fazendo as escolhas certas. E, quando os erros vierem bater à nossa porta, estaremos mais fortes para enfrentar e superar as colheitas amargas – às quais ninguém foge – de nossa jornada, porque, embora solteiros, jamais estaremos sozinhos.