Praticar tolerância também significa rejeitar dogmas, verdades e poderes absolutos, recursos tão comuns a quem, para estar certo, não hesita em usar a força, mentir e manipular.
Sim, há temas, assuntos, condutas e pontos de vista que só dizem respeito à consciência de quem os pratica. Se não afetam, não agridem, não desrespeitam nem ferem o outro, o outro nada tem a ver com isso. Eu tenho a impressão de que isso se chama tolerância.
Na verdade, eu acho que tolerar é pouco. Você, eu e todo mundo temos mais é que aceitar e defender a liberdade de que o outro e cada um de nós gozamos de acreditar no que quisermos, de andar com quem escolhermos, de sermos quem realmente somos.
Mas eu também acho que tem gente por aí trocando as bolas. Gente confundindo tolerância com conivência. Se eu ouço o meu vizinho espancando a mulher e não faço nada, se mantenho relações com um parente que expulsou de casa o filho homossexual, se me calo frente a todo gesto de ignorância, manipulação, truculência e desonestidade intelectual só porque alguém me disse que é feio “julgar” o outro, eu não estou sendo tolerante. Estou sendo conivente.
Tolerância é um conceito muito bonito, mas usado incorretamente é um perigo. Guarda um sentido duvidoso de complacência e aceitação do engano. Se o tolerado for um canalha, pode virar deformidade e indiferença.
Está lá no parágrafo primeiro da “Declaração de Princípios sobre a Tolerância”, aprovada pela Conferência Geral da Unesco em 16 de novembro de 1995: “A tolerância é o sustentáculo dos direitos humanos, do pluralismo, da democracia e do Estado de Direito. Implica a rejeição do dogmatismo e do absolutismo e fortalece as normas enunciadas nos instrumentos internacionais relativos aos direitos humanos.”
- Pessoas inspiradoras: Professora uruguaia ensina duas crianças em escola rural, viajando 108 km de carona diariamente
Simples e claro: praticar tolerância também significa rejeitar dogmas, verdades e poderes absolutos, recursos tão comuns a quem não suporta estar errado, e para estar certo não hesita em usar a força, mentir, manipular, bancar a vítima e outras coisas que todo calhorda domina tão bem.
Eu não suporto gente mau caráter. Se alguém achar que isso é julgar o outro e ser intolerante, paciência. Eu tolero e acho que posso viver bem com isso.