A nutricionista Daniela sempre precisou lidar com críticas sobre sua aparência, e fala sobre o bullying que sofreu ainda na infância.
A aparência é uma das primeiras coisas notadas e, assim como qualquer outro segmento, tornou-se um mercado que exige que as pessoas estejam insatisfeitas para que queiram consumir produtos de beleza. Não à toa, existe um padrão que principalmente as mulheres precisam seguir, inatingível e complexo, que mais provoca distúrbios de saúde do que a sensação de bem-estar.
A nutricionista Daniela Herbele, desde cedo, teve que aprender a lidar com as críticas e comentários sobre seu rosto. Ela nasceu com um hemangioma na face, uma mancha vermelha visível nas fotos e vídeos da jovem.
Dependendo da temperatura do ambiente, dos hormônios ou da temperatura do próprio corpo, a mancha pode variar de tonalidade, transitando do vermelho ao roxo.
A alteração não é genética e se desenvolve a partir de uma falha no crescimento do feto. Como é no rosto, segundo relato ao UOL, a mancha é mais difícil de ser tratada, já que ela pode apresentar um quadro de hemorragia grave.
Além do hemangioma, aos 9 anos, Daniela começou a apresentar “tumores” no nariz e lábio, bem como malformações arteriovenosas (MAV) das carótidas, que surgiram na adolescência, por conta dos hormônios da idade.
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Daniela passou por diversos procedimentos, inclusive mais de 20 cirurgias, mas seu caso não tem cura. Todos os tratamentos que faz (incluindo quatro plásticas no lábio e três no nariz) são para melhorar sua qualidade de vida.
A nutricionista ainda fala, por experiência, que se todos soubessem como é o pós-operatório de uma cirurgia plástica, ninguém faria isso apenas por estética.
Mesmo tendo uma infância difícil, ela nunca se sentiu diferente dos demais, já que a família nunca a tratou dessa forma. Daniela conta que foi na terceira série quando sofreu bullying; as crianças não queriam ser suas amigas e ela não tinha com quem fazer os trabalhos da escola.
![“Tenho malformação, me olham com medo e pena, mas não ligo, amo meu rosto”](https://osegredo.com.br/wp-content/uploads/2021/05/1-2-Tenho-ma-formacao-me-olham-com-medo-e-pena-mas-nao-ligo-amo-meu-rosto-298x300.jpg)
Assim que o tumor começou a crescer, as crianças passaram a criar teorias do que poderia ter acontecido com seu rosto, falavam que tinha nariz de batata, que havia queimado o rosto no fogão e coisas do tipo. Para superar tudo, a nutricionista precisa de terapia, e se pergunta com frequência os motivos de as pessoas não pensarem antes de falar.
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Daniela explica que quando se depara com alguma pessoa com uma doença, não se interessa em saber o que aconteceu, é apenas uma pessoa e ponto-final. As cirurgias na infância também trazem recordações ruins, isso porque seus colegas sempre ficavam na expectativa de que voltaria curada do hemangioma, e mesmo sabendo que não existia cura, acabava alimentando as mesmas esperanças.
Na adolescência, a pressão estética se intensificou quando percebeu que seu corpo não era igual ao de suas amigas. Aos 15 anos, passou a fazer dietas para se aproximar do padrão de beleza que acreditava ser o ideal. Era como se precisasse ter um corpo dentro dos moldes exigidos para compensar o fato de seu rosto ser diferente.
Com o tempo, começou a levar a vida com um pouco mais de leveza, tratando seus traumas e distúrbios, e encarando tudo de maneira normal. Sua rotina era igual à de todos os jovens da sua idade; Daniela saía, bebia, ficava com homens, inclusive, explica que nunca foi abordada de maneira invasiva.
![“Tenho malformação, me olham com medo e pena, mas não ligo, amo meu rosto”](https://osegredo.com.br/wp-content/uploads/2021/05/1-3-Tenho-ma-formacao-me-olham-com-medo-e-pena-mas-nao-ligo-amo-meu-rosto-300x273.jpg)
Até hoje, porém, ela recebe olhares de pena, como se fosse sua culpa, como se tivesse deixado “chegar àquele ponto”.
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Ela decidiu se tornar nutricionista porque conhecia intimamente a rotina das dietas e sabia bastante sobre alimentos. Agora, aos 24 anos, tem mais de 105 mil seguidores no Instagram e fala sobre alimentação saudável, corpo e autoestima femininos.
Decidir se tornar “pública” com as redes sociais não foi uma decisão fácil, já que sempre soube que receberia inúmeras críticas, perguntas e comentários que talvez não quisesse mais ouvir. Mas Daniela pensou em si mesma e no seu sucesso profissional, e decidiu enfrentar os medos, claro, com ajuda da terapia.
O vídeo com maior número de visualizações é o que conta sobre sua doença, mas explica que não gosta de receber comentários em tom de pena, de haters e de outros prometendo orações para sua melhora.
![“Tenho malformação, me olham com medo e pena, mas não ligo, amo meu rosto”](https://osegredo.com.br/wp-content/uploads/2021/05/1-4-Tenho-ma-formacao-me-olham-com-medo-e-pena-mas-nao-ligo-amo-meu-rosto-182x300.jpg)
Em um relacionamento com Samuel há quatro anos, a nutricionista conta que sua vida amorosa está ótima e que ele é seu companheiro de vida. No campo da amizade, explica que não alimenta amizades do tipo “coleguismo”, porque aprendeu na prática que as pessoas que são apenas colegas jamais vão priorizar o outro.
Daniela sempre sentiu que tinha muito mais a evidenciar do que o rosto, e mesmo que já tenha se questionado sobre sua aparência em alguns momentos, por pressão estética social, hoje ela gosta de quem vê quando se olha no espelho. Não precisa se esconder, cobrir seu rosto com maquiagem, ela é exatamente desse jeito e não tem como esconder.
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