Não é à toa que existem tantas canções, orações, textos e poemas que falam do coração. E ao coração. Por mais que tudo esteja sendo concebido e recebido na mente é no peito que a gente sente o melhor e o pior das coisas.
Se o frio é na barriga, ainda assim dá uma pontada no coração. Se o peso está nos ombros, o cansaço parece estar no coração. Aquela alegria que não cabe em nós se extravasa bem ali no coração.
E haja compasso, sangue, força para bombear tantas emoções e tantas oscilações da vida. Vamos do riso ao choro, da tristeza profunda à sensação de paz, do medo à coragem súbita e tudo passa por ele.
Músculos, válvulas, cavidades, um trabalho árduo que não percebemos. Uma força extrema que não nos damos conta e ainda o enchemos com os nossos vários eus. Nuns dias cargas mais leves, noutros parece que ele não vai suportar o peso, ora de felicidade, ora de angústia.
Na mente passam tantas lembranças e situações que já vivemos. Costumamos recordar momentos fortes e mais uma vez ali está o nosso bom e velho coração sentindo tudo novamente e agradecemos tão pouco pelo trabalho que ele faz.
Se pararmos para analisar, será que sabemos enchê-lo com emoções bonitas, sublimes e que nos fazem melhores ou ele costuma ser transbordado de dores, reclamações, tristezas e solidão? Costumamos reviver o que é bom ou ficamos remoendo histórias ou mexendo em feridas que não deixamos cicatrizar?
Seguir em frente e selecionar nossos sentimentos, só os bons, só os que nos fazem bem não é tarefa das mais fáceis, mas seria um belo presente para o nosso velho amigo que pulsa. Limpar o que está impregnado, dissolver mágoas, só lembrar o amor.
Poderíamos fazer um propósito de também nos esforçarmos para deixar a mente, a alma e o peito mais leve. Ter cuidado com quem toca nosso coração. Cuidado com a maneira que tocamos o outro. Cuidado com palavras, gestos, atitudes. E como somos descuidados.
Quando nos emocionamos, quando estamos felizes e sentimos a presença de Deus é no coração que colocamos nossas mãos. Às vezes o sentimos fora do lugar. Bate na cabeça, na pele, entre os dedos que parece vários corações dentro de uma só pessoa.
Ele não é terra de ninguém. É sim, sentimento puro, desde os mais nobres até os mais tolos. É de onde saem as mais comoventes histórias, de onde vem a paz e o desassossego. Está firme batendo de graça, mas pode esmorecer, desacelerar, perder o compasso.
Acalma, esvazia, liberta. Não permita peso, dores, dissabores. Relaxe a mente e diga a ele sempre que está tudo bem. Que ali se instale o amor, e sentimentos leves. Que até as dores não pesem tanto.
O coração carrega tanta coisa. Que não nos transformemos em fardo para ele. Que ele seja nossa melhor parte é que paremos de enchê-lo com nossos devaneios enquanto ele muitas vezes só quer continuar batendo, nada mais.